Tinto ou Branco

Tudo que você sempre quis saber sobre vinho, mas tinha medo de perguntar

Tinto ou Branco - Tânia Nogueira
Tânia Nogueira
Descrição de chapéu dia dos pais

Como escolher o vinho para o almoço do Dia dos Pais?

Cinco perguntas (que os sommeliers fazem) para chegar à garrafa perfeita

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São Paulo

Para o almoço de Dia dos Pais, o melhor é levar um vinho que combine com o cardápio, certo? Errado. Seja esse vinho o presente em si ou só uma garrafa para abrir com a comida, o ideal é levar um vinho que o seu pai goste, afinal é o dia dele. Se o seu pai gosta de camarão e prefere vinho tinto, você vai ter de se virar para encontrar um tinto que fique bom com camarão. Mas como fazer isso? Usando a mesma técnica que os sommeliers usam para ajudar os clientes a escolherem um vinho nos restaurantes. Por meio de poucas perguntas básicas, é possível ter uma boa ideia de quais vinhos farão sucesso com uma pessoa, mesmo que ela não tenha a mínima ideia disso.

A seguir, cinco perguntas que você pode fazer a seu pai (ou marido, ou avô ou qualquer pessoa em uma outra situação) antes de comprar o vinho:

O primeiro passo é descobrir se seu pai gosta de tinto, branco ou rosé - Ronny Santos/Folhapress

Você prefere tinto ou branco? Rosé? Espumante? Tanto faz?
Caso seja uma pessoa observadora, provavelmente, você já sabe se seu pai toma só vinho tinto, se ele faz questão de branco com peixe, se adora espumante, se aceita de tudo. Porém, supondo que nunca tenha reparado nisso, não custa perguntar. É para ser surpresa? Puxe o assunto como quem não quer nada ou pergunte para sua mãe.

Se ele disser que gosta de tudo, ótimo, você pode descobrir qual será o cardápio do dia e seguir as regras básicas de harmonização: tinto pesados para carnes vermelhas, tintos leves para massas com molho vermelho, brancos encorpados para massas ou peixes com molho branco, brancos leves para peixes grelhados ou ao forno, rosés com carnes brancas ou peixes e frutos-do-mar mais marcantes, como o salmão ou camarão, espumante com tudo. Não entre em pânico, mais para baixo vai encontrar exemplos de vinhos desses tipos.

Se estiver de posse do cardápio, o melhor é descrevê-lo em detalhes para o sommelier da loja ou mesmo para o atendente do supermercado, caso haja uma pessoa treinada para isso. Ele vai saber melhor do que você qual vinho combina com cada ingrediente. Aliás, todas as informações que recolher com seu pai, passe para esse profissional. Ele pode ajudá-lo muito. Se estiver comprando pela internet ou num comércio onde ninguém sabe nada, siga as regras acima.

Mas digamos que seu pai responda que só toma vinho tinto e sua mãe conte que ele pediu para fazer salmão. Nesse caso, o melhor é buscar por um tinto leve, como um pinot noir, um beaujolais (ou outro gamay) ou um vinho chileno das uvas país ou cinsault. Mas primeiro é preciso descobrir se seu pai gosta de vinhos leves ou se é do partido dos porradões, como cabernet sauvignon chileno ou tannat uruguaio (se for esse o caso, manda a harmonização às favas e leva o vinho que seu pai gosta).

No almoço de família, vinho deve ser só um detalhe. Na foto, almoço na vinícola Osteria, em Cravinhos, no interior de São Paulo - Joel Silva/ Folhapress

Você gosta mais de tannat ou de pinot noir? Chardonnay ou sauvignon blanc?
Uma ótima pista para descobrir se uma pessoa gosta mais de vinhos leves ou encorpados (encorpados têm maior densidade que os leves, como leite e água) é perguntar por suas uvas favoritas. No caso dos tintos, se a pessoa preferir tannat, é que gosta de vinhos mais encorpados, potentes. Outras uvas que rendem vinhos potentes são a cabernet sauvignon e a baga. Aqueles feitos de pinot noir ou gamay são exemplos de tintos leves. A merlot e a carménère, assim como a sangiovese ou a tempranillo, são mais versáteis, podem render tanto vinhos encorpados como de corpo médio. Há regiões que produzem vinhos mais encorpados e outras que produzem vinhos mais leves. Quem gosta de Rioja costuma preferir vinhos encorpados, já quem ama um Beaujolais em geral prefere vinhos leves. Uma dica: vinhos translúcidos costumam ser mais leves e vinhos de cor densa, mais pesados.

No caso dos brancos, chardonnay aponta para vinhos mais encorpados e untuosos (que dão uma sensação de gordura na boca) e sauvignon blanc vai para o lado dos vinhos leves e frescos (azedinhos). Entre os portugueses, por exemplo, brancos do Douro costumam ter mais peso e os da região dos Vinhos Verdes costumam atrair pela leveza e o frescor.

Caso seu pai não lembre sequer se algum dia tomou algum desses vinhos, arrisque perguntar diretamente se prefere leve ou pesado. Para explicar o que é um ou outro, pode falar em limonada (leve) e suco de pêssego (encorpado) por exemplo.

Prefere um primitivo, um malbec ou um bordeaux? Gewürztraminer, pinot grigio ou riesling alemão?
Além de entender se a pessoa prefere um vinho encorpado ou leve, é interessante saber que estilo ela prefere. No caso dos tintos de corpo médio para cima, podemos dividi-los em três categorias: aqueles que têm uma fruta muito predominante, em geral fruta vermelha ou escura madura, como os primitivos ou os blends do sul da França; aqueles nos quais os aromas de flores se sobressaem, como o malbec e o touriga nacional, e aqueles mais austeros, com aromas de frutas mais frescas misturados a aromas de pimenta, tabaco, couro, como os bordeaux ou um cabernet franc. Os tintos leves tendem a ter aromas de frutas vermelhas frescas.

Mesmo que seu pai ou você não consigam distinguir esses aromas na taça, vai por mim, quem escolhe primitivo gosta de fruta, quem escolhe malbec gosta do floral e quem escolhe bordeaux prefere algo mais discreto.

No caso dos brancos, há os extremamente aromáticos, tendendo ao floral, como o gewürztraminer ou o torrontés; os frutados e leves, como o pinot grigio ou um chardonnay sem passar por barrica, e os mais minerais, como o riesling alemão ou o chablis (nesse caso, você está lascado, porque esses vinhos costumam ser bem caros).

Os barris de carvalho podem transferir aromas de baunilha, chocolate, coco e café para os vinhos. Na foto, sala de barricas da Vinícola Miolo, em Bento Gonçalves (RS) - Apu Gomes/Folhapress

Gosta de sentir aromas de chocolate, baunilha, coco ou café nos vinhos tintos? Prefere brancos amanteigados?
Nos dois casos, se a resposta for sim, procure por vinhos com uma boa passagem por barris de carvalho novo. Se a resposta for "um pouco", escolha algo que tenha descansado parte em carvalho novo, parte em carvalho de segundo ou terceiro uso (essa informação costuma estar na ficha técnica). De preferência, que a parte que passar por carvalho novo fique lá por pouco tempo (menos de seis meses). Caso a resposta for não, procure e preferência de terceiro uso para frente.

Explicando: esses aromas são transferidos para os vinhos durante o período em que esses descansam ou amadurecem nos barris de carvalho e ficam em contato com a superfície desses. Os barris são tostados por dentro e essa tosta cria uma espécie de caramelo que dá esses aromas, com o uso, os aromas vão ficando mais leves.

Sempre fuja daqueles vinhos que usam chips (pedaços de madeira) durante o processo de maturação para aumentar a exposição ao carvalho.

Quanto costuma gastar numa garrafa de vinho?
Essa pergunta pode parecer impertinente, mas você está falando com alguém íntimo. Se não quiser perguntar diretamente a ele, pergunte à sua mãe. É importante saber para poder ficar mais ou menos no mesmo nível. Se seu pai costuma gastar 100 reais com uma garrafa de vinho, nem que ele só beba de vez em quando, você não pode chegar com uma garrafa de 30. É melhor levar cerveja. Se o vinho for muito bem escolhido, pode ser um pouco mais barato, até uns 30%.

Já, se ele costuma gastar 30, provavelmente, não saberá nem apreciar um vinho de 100. Suba um degrau. Não precisa subir três de uma vez. A não ser que você saiba que seu pai conhece um pouco de vinho e só não está gastando porque não pode no momento. Por outro lado, se ele é daqueles que gastam de 200 para cima, você pode levar vinho até de mil reais que ele vai adorar. Leve, no mínimo, um de cento e pouco.

Nesse caso, há grandes chances de que ele seja alguém que entenda de vinho e você terá muito mais trabalho para agradá-lo. A minha sugestão, nesse caso, é levar um bom espumante nacional para abrir os trabalhos (de preferência nature, que é o tipo mais seco) ou partir para algo diferentão como um jerez ou um vinho natural de um pequeno produtor brasileiro (que, no mínimo, vai despertar a curiosidade dele). Ou, se ele for muito sabichão sobre vinhos, você pode escolher não entrar nessa disputa e preferir levar uma sobremesa.

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