Tinto ou Branco

Tudo que você sempre quis saber sobre vinho, mas tinha medo de perguntar

Tinto ou Branco - Tânia Nogueira
Tânia Nogueira

O sócio mais famoso de Brad Pitt

François Perrin, sócio do Château Miraval, diz que ator se envolve na produção

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São Paulo

Quarta geração de uma das famílias mais tradicionais de produtores do Vale do Rhône, no mundo do vinho, o enólogo François Perrin é muito mais famoso e muito mais importante do que qualquer celebridade de Hollywood. À frente do grupo Famille Perrin desde 1978, ao lado do irmão, Jean-Pierre, é considerado o grande nome do Rhône. Hoje os irmãos dividem a administração com filhos e sobrinhos. O seu Château Beaucastel, primeira vinícola do grupo e nome do seu vinho principal, é o ícone máximo da AOP Châteauneuf-du-Pape, uma das de maior prestígio na França. Seu pai, Jacques, foi pioneiro da agricultura biodinâmica na região. Atualmente, no entanto, muita gente o conhece também como o sócio do Brad Pitt, o que de fato ele é.

"Há uns dez anos ou mais, o Brad me ligou", conta François. "E disse: ‘Comprei o Château Miraval e estou perdendo dinheiro porque não sei administrar uma vinícola. Você não quer ser meu consultor?’. Respondi que eu não prestava consultoria, mas que aceitaria ser sócio. Eles (Brad Pitt e Angelina Jolie) aceitaram e, desde então, trabalhamos juntos. Sou sócio não na propriedade, mas nos vinhos."

François Perrin, sócio de Brad Pitt, mostra garrafa do seu Château Miraval
François Perrin, sócio de Brad Pitt, mostra garrafa do seu Château Miraval - arquivo pessoal

Nessa altura, François e o irmão já haviam expandido os negócios da família para várias denominações do Rhône, onde são proprietários também do Maison & Domaine Les Alexandrins (Crozes Hermitage e outros) e da Vieille Ferme (linha mais popular), para uma pequena vinícola em Paso Robles, na Califórnia, a Tablas Creek, e passaram, então, a operar também na Provence, ficando encarregados de toda a vitivinicultura do Château Miraval, que hoje além do Côtes Provence Rosé AOP, produz um Côtes de Provence Blanc AOP, um lote especial de pequena tiragem (Muse de Miraval) e dois mais simples também branco e rosé.

Mais tarde, veio uma nova parceria com Brad Pitt e com a maison Champagne Peters no exclusivo champanhe rosé Fleur de Miraval, um vintage que chega a custar 800 euros a garrafa. Agora os amigos estão lançando uma versão mais acessível do champanhe, o Petite Fleur, e um gin (só da família Perrin e Brad Pitt), The Gardener. Todos, com exceção do Muse de Miraval, devem chegar ao Brasil pela Mistral.

Tempos felizes: Angelina Jolie e Brad Pitt, em 2015. Atualmente, Brad Pitt está processando Angelina por ela ter vendido sua parte no Château Miraval para bilionário russo - AFP

Em passagem por São Paulo para participar do 20° Encontro Mistral, a feira de vinhos que comemorou os 50 anos de existência da importadora, François conversou com Tinto ou Branco sobre o estilo dos vinhos do Rhône, seu casamento com a brasileira Isabel Sued, a onda Barbie, vinhos brasileiros e, como não poderia deixar de ser, o quanto a briga judicial de Brad Pitt e Angelina Jolie afeta os negócios do Château Miraval.

Leia a seguir os destaques dessa conversa:

Segundo o que tem saído na imprensa, o seu sócio, Brad Pitt, não aceita o fato de a ex-mulher, Angelina Jolie, ter vendido a parte dela para o Group Stoli, do bilionário russo Yuri Shefler, e está pedindo a anulação do acordo. Como isso tem afetado os negócios?

Até o momento, o sócio russo não criou nenhum tipo de problema. Tivemos apenas uma reunião com ele e foi tudo bem. Pessoalmente, não creio que isso coloque nosso trabalho no Château Miraval em risco, mesmo porque, juntos, nós e o Brad, temos maioria. Porém divórcios são sempre complicados, né? Imagina quando você tem nomes como Brad Pitt e Angelina Jolie envolvidos…

Quem indicou o seu nome para o Brad Pitt? O senhor fala dele como alguém próximo.

Foi um amigo comum, um francês que trabalha com móveis e vive em Los Angeles. Sim, somos próximos. O Brad é muito interessado pela vinícola. Ele dá um jeito de estar presente nos momentos importantes. Vem para a hora de decidirmos os blends, por exemplo. Não bebe mais, mas degusta, cospe e dá sua opinião. Interessa-se muito pelos aspectos de marketing e publicidade. É um sujeito muito inteligente.

Ele já participou pessoalmente de ações de divulgação como degustações ou master classes?

Não dá. A imagem dele é muito visada. As pessoas querem a atenção dele, querem tocá-lo. Então, fica um pouco assustado. Mas, quando está com quem se sente seguro, é muito simples.

Acha que essa onda cor-de-rosa provocada pelo marketing do filme da Barbie pode ajudar nas vendas dos vinhos rosés da Provence?

Acho que sim. Ambos são voltados para a nova geração. A nova geração gosta do rosé porque ele é mais simples. O rosé da Provence é um vinho que combina com dias quentes, com o estilo "cool" do Mediterrâneo, a elegância da Riviera Francesa. Não é um vinho complexo. Se você envelhecer um rosé de boa qualidade, talvez consiga um pouco de complexidade, mas o rosé não foi feito para ser complexo. Ele foi feito para ser apreciado fresco, para nos fazer sentirmos bem.

Complexidade significa uma série de aromas diferentes, não é? Os rosés da Provence têm várias camadas de aromas: flores e frutas diversas, ervas aromáticas, mineralidade…

É verdade, mas, quando falo em complexidade, estou pensando em algo terroso ou animal. A complexidade que tintos e brancos podem ter.

Brancos têm aroma animal?

Têm terrosos, trufas, por exemplo.

Por falar em complexidade aromática, o Châteauneuf-du-Pape é tido como um dos tintos mais complexos. O Château Beaucastel foi cenário da série da Apple TV + Gotas Divinas, na qual os protagonistas competem por uma herança e, para isso, têm de distinguir pelos aromas da taça exatamente qual a composição de determinada safra de um châteauneuf fictício (inspirado no Beaucastel). Isso é possível? O senhor consegue dizer exatamente as uvas de um vinho só de sentir seus aromas?

Homem sente aromas em taça de vinho
Cena da Série Gotas Divinas, da Apple TV +. Personagem de Philippe Sassangre é inspirado em François e seu irmão - divulgação

Não, isso é ficção. Consigo dizer qual a uva que predomina, talvez apontar outras que estão no blend, mas não consigo dizer exatamente as porcentagens de forma alguma. Ainda mais de um Châteauneuf-du-Pape que pode ter 13 uvas diferentes no seu blend. O seriado é ótimo, 90% do que está ali corresponde a realidades sobre a produção e o serviço de vinhos, mas tem uns 10% que são ficção, para romantizar. O seriado foi filmado no Beaucastel antes de ele ser reformado. Essa reforma que já estava planejada há anos (mas que adiamos porque minha mãe vivia ali) foi um dos motivos porque aceitei que a série fosse filmada ali. Fica o registro para a memória.

O senhor é casado com a brasileira Isabel Sued. Como a conheceu?

Nos encontramos pela primeira vez em 2005 na casa do Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, ex-diretor da Globo) em Angra dos Reis. Ele me convidou para conduzir uma degustação de Beaucastel para uns amigos dele, entre eles, o Ivo Pitanguy. A Isabel estava lá para entrevistá-los para o documentário que ela fez sobre a vida do pai, Ibrahim Sued. Eu estava viúvo e ela separada. Começamos a conversar e acabamos namorando. Em 2008, ela foi morar na França e, em 2011, casamos. Temos muito em comum, gostamos das mesmas coisas.

Vêm muito ao Brasil? O que o senhor acha dos vinhos brasileiros?

Sim. A Isabel tem um apartamento em Ipanema e a gente vem passar temporadas. Eu adoro o Brasil, o estilo de vida de vocês. Os vinhos brasileiros progrediram muito nos últimos anos. Eu amo os espumantes brasileiros. São excepcionais, mas não são muito reconhecidos internacionalmente… Também tenho me impressionado com a qualidade dos vinhos em geral, de várias partes do Brasil. Terroir não é uma coisa natural. Terroir você cria. É a combinação do clima, do solo, da uva e do trabalho do ser humano, de como ele lida com os fatores naturais. Para produzir um vinho de terroir é preciso um trabalho de várias gerações. Tenho certeza que o Brasil está muito próximo de produzir vinhos de terroir.

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