Vinho é prazer, mas também é business. Um negócio bastante particular, no qual os limites entre trabalho e divertimento, às vezes, não são muito claros. As feiras de negócios com vinhos são provavelmente o melhor lugar para observar esse espírito festeiro do setor. Nelas, a maioria das pessoas aproveita para provar rótulos de regiões novas, muitos não deixam de tomar um golinho dos vinhos de que mais gostam e alguns até acham que é uma boa ideia se embriagar, já que a bebida é livre –certa vez, vi uma promotora de vendas ser carregada para fora por seguranças.
Além disso, os visitantes usam as horas antes e depois da feira para fazer turismo, conhecer vinícolas (quando há vinícolas por perto) ou comer em restaurantes famosos das cidades que hospedam o evento. O objetivo principal, no entanto, não se enganem, é fechar negócios.
O setor tem um movimentado calendário internacional de feiras de negócios. As três mais tradicionais dentro dessa agenda são a Vinitaly, na Itália, a ProWein, na Alemanha, e a Vinexpo Bordeaux, na França. É interessante notar que duas delas organizam feiras no Brasil. Isso mostra a maturidade e o potencial de desenvolvimento do nosso mercado de vinhos.
O Grupo Veronafiere (Vinitaly) controla a Milanez & Milaneze, empresa responsável pela realização da Wine South America (WSA) –que começa nesta terça-feira, dia 11, no Fundaparque, em Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul, e vai até o dia 14. Por sua vez, a Messe Düsseldorf em parceria com o brasileiro Inner Group (revista Adega) promove a ProWein São Paulo –que este ano acontece de 3 a 5 de outubro no Expo Center Norte.
Ambas são iniciativas recentes. A primeira Wine South America aconteceu em 2018 e a ProWine São Paulo, em 2019. As duas nasceram em busca do lugar um dia ocupado pela Expovinis (1996-2017), que por muitos anos manteve uma posição de respeito no calendário de feiras internacionais. Porém cada uma delas tem um perfil próprio muito distinto. A feira de Bento Gonçalves, por estar numa região produtora, naturalmente é mais focada em vinhos nacionais, enquanto a de São Paulo concentra mais negócios com importados. Vamos agora nos focar na feira que acontece agora e num post mais para frente falaremos mais sobre a Prowein.
"Desde 2013, quando a italiana Veronafiere comprou 60% da empresa, a gente pensava em uma feira de vinhos na América Latina", conta Marcos Milanez Milaneze diretor responsável pela Wine South America. "Mas havia uma feira consolidada. Em 2017, quando a Expovinis deu sinais de que não iria longe, decidimos fazer a Wine South America e começamos as articulações. Em março de 2018, lançamos no mercado e a primeira edição foi em setembro".
Milaneze conta que a empresa chegou a pensar em fazer a feira na Argentina ou no Chile, mas decidiu pelo Brasil por ser o maior mercado potencial. Por que em Bento Gonçalves? "Além de ser perto da Argentina, Uruguai e Chile, é uma região produtora", diz. "E, assim como na Itália, parte da missão da feira é fortalecer uma região produtora. E, por Bento Gonçalves ser uma região turística, fica mais fácil atrair compradores. Os compradores vêm fazer negócio, mas não raramente trazem a família e querem a experiência completa, visitar vinícolas, conhecer a região. O grande diferencial da nossa feira é justamente o fato de que o visitante pode viver a emoção de conhecer as vinícolas de perto".
Desde o início, a Wine South America teve um bom movimento. Em 2018, foram 220 marcas presentes, mil reuniões de negócios agendadas e uma estimativa de R$ 12 milhões em negócios fechados. Em 2019, foram 300 marcas, mil reuniões e uma estimativa de R$ 20 milhões em negócios fechados. Em 2020 e 2021, com a pandemia, a feira teve de se limitar a eventos online. Em 2022, com o mundo ainda sob os efeitos da pandemia, foram 360 marcas, 1200 reuniões e R$ 20 milhões em negócios. "Para 2023, temos mais de 400 e 2 mil agendas de negócios", conta Milaneze. "E esperamos gerar R$ 30 milhões em negócios." Segundo ele, 80% dos expositores são vinícolas nacionais, 150 delas, no total. Para atrair essas vinícolas, a feira financia a viagem de compradores de outros estados e até de outros países.
Contudo, há também um bom número de expositores estrangeiros. De acordo com Milaneze, são 20 países estrangeiros representados. Um que está chamando bastante atenção neste ano é a Georgia. Um país bastante bem representado, por motivos óbvios, é a Itália. São 12 produtores vindos de diferentes regiões como a Toscana, o Vêneto, a Campanha, a Puglia, a Sardenha e a Sicília.
Em 2022, essa representação já era assim expressiva. Essa participação é em parte subsidiada pela Italian Trade Agency, numa ação para promover o comércio de produtos italianos no Brasil. Segundo Ronaldo Padovani,analista de mercado da ITA, os resultados são bons, mas difíceis de medir com precisão. "Não temos acesso aos dados particulares de cada vinícola", diz. "Não sabemos valores. Mas vemos que muitas encontraram importadores e outras, representantes em regiões onde não estavam presentes."
Para dar chance das vinícolas organizarem jantares e eventos noturnos em suas sedes, a organização mudou o horário da feira. No ano passado, ela acontecia das 14h às 21h. Este ano, acontece das 12h às 19h. A ideia é atrair cada vez mais os profissionais, mas a entrada de amadores também é possível. Profissionais não pagam. Amadores pagam R$ 400 por dia, com direito a uma taça de vidro. A ideia é justamente afastar aqueles visitantes que querem apenas um lugar barato para tomar todas.
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