Tinto ou Branco

Tudo que você sempre quis saber sobre vinho, mas tinha medo de perguntar

Tinto ou Branco - Tânia Nogueira
Tânia Nogueira

Dez vinhos para você pôr no seu currículo

Evento é oportunidade para degustar vinhos famosos pagando apenas o ingresso

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São Paulo

Encontros e feirinhas de vinhos são cada vez mais comuns por aí – eventos nos quais você paga um ingresso e bebe à vontade. Poucos, no entanto, oferecem uma gama de vinhos de tanta qualidade e tão diversificada quanto o Decanter Wine Day, que acontece nesta segunda-feira (2 de outubro), das 18h às 21h, em Perdizes, São Paulo. Serão mais de 200 vinhos de 60 produtores diferentes, de 13 países diferentes.

Embora muita gente pense nesses encontros como uma boa desculpa para encher a lata, esse não é o objetivo deles. Pelo menos não daqueles organizados por importadoras sérias e importantes como a Decanter. O objetivo é dar uma oportunidade para o consumidor conhecer o portfólio da casa.

mulher serve vinho para cliente
Essas feiras são concorridas. Por isso, é bom fazer um pré-seleção - divulgação Decanter

O ingresso custa R$ 300,00, sendo que 30% disso podem ser usados como crédito na compra de garrafas. Compras acima de R$ 400,00 têm desconto de 10%, acima de R$ 800,00, de 20% e acima de R$ 1.200,00, de 30%. Além disso, 10% do valor total da compra se reverte em cashback, que pode ser descontado a partir do dia seguinte até 60 dias depois nas compras nas lojas físicas, que atendem também por telefone ou Whatsapp.

Em três horas, ninguém é capaz de degustar 200 vinhos. Isso eu garanto. Nem os profissionais. Então, você terá que fazer um recorte. Se a ideia for só beber os mais caros, será fácil porque na entrada você recebe uma lista dos vinhos com preços por garrafa.

Porém, eu não acho essa política a mais interessante. Você bebe e nem percebe muito o que está bebendo. Depois esquece. Pessoalmente, pretendo provar vinhos de uvas e regiões que não conheço, como o italiano, Albino Armani Foja Tonda Casetta (R$ 252,90), um tinto de Verona dessa uva casetta, da qual não lembro ter provado. Ou o Gonzalo Guzmán Mencia El Afan 2021 (R$ 314,90), já que fiquei curiosa para saber como a uva espanhola mencia se dá no chileno Vale do Maipo, próximo aos Andes.

duas taças com um fundo de vinho tinto claro
Apesar de ter bastante taninos, muitas vezes o barolo é translúcido - arquivo pessoal/@tinto_ou_branco

Para quem é um apreciador sem muita experiência, mas com bastante curiosidade, sugiro usar o encontro como um curso expresso sobre os vinhos e regiões vinícolas mais famosos da Europa, elegendo tipos de vinho e lugares que todo grande amante de vinhos tem que conhecer. Para isso, preparei uma lista com um português, um alemão, quatro franceses e quatro italianos, que quase coincide com a lista dos mais caros, mas não é o mesmo, porque aqui há um método. Comecei com os brancos e tentei colocar os tintos mais ou menos dos mais leves para os mais pesados.

Claro que isso não cobre tudo que é importante. É só um começo, mas já é um avanço nessa estrada tão prazerosa. E, quando te perguntarem se você já provou um deles, você pode dizer que sim.

garrafa de vinho verde
Anselmo Mendes é tido como papa do alvarinho - reprodução

Anselmo Mendes Alvarinho Muros de Melgaço 2022 - Minho, alvarinho, 6 meses em barricas de carvalho, sur lie, R$ 355,90
Portugal tem vinhos maravilhosos, tintos e brancos incríveis, espumantes, rosés e vinhos de sobremesa maravilhosos. Sei que é uma injustiça ter apenas um vinho português nesta lista. Na verdade, pensei de início em propor um roteiro só com França e Itália, para em outra oportunidade falar dos outros países, mas não dá para falar do Decanter Wine Day deixando o Anselmo Mendes de lado. O cara é o mago da alvarinho, e a alvarinho é uma das coisas mais deliciosas de Portugal (e da Espanha também, com o nome de allbariño).
Essa uva da região dos Vinhos Verdes produz alguns dos brancos de maior qualidade do mundo. Vinhos elegantes e complexos (com uma variedade grande de aromas).
A passagem por madeira e o contato do líquido com as borras (isso é o que significa sur lie) deixa este alvarinho um pouco mais gordinho. Ele continua com uma ótima acidez, porque alvarinho tem ótima acidez, mas ganha um certo peso. Deve encarar bem um bacalhau.

garrafa de vinho alemão
O riesling tem legiões de fãs mundo afora - reprodução

Künstler Riesling Estate 2020 - Rheingau, riesling, 2 meses em tonéis de carvalho (30%) e inox, R$ 331,90
Já que coloquei o alvarinho português, por que não o riesling alemão? Essa uva é tudo de bom, daquelas que rendem vinhos que você não pode deixar de conhecer. (Esclarecimento: quando escrevo o riesling, estou falando do vinho, e, quando escrevo a riesling, estou falando da uva). O riesling é um daqueles vinhos cultuados pelo povo mais envolvido com vinhos. Isso porque consegue ser bastante aromático, ter uma personalidade marcante e ser elegante ao mesmo tempo.
Às vezes ele é doce, mesmo assim, não enjoa porque a acidez compensa. Este, pelo que vi no site, é seco, já que eles dizem que ele é trocken. Nos aromas, além das frutas cítrica e de caroço grande, como pêssego, os rieslings costumam ter um aroma muito próprio que lembra plástico novo. Por incrível que pareça, isso fica ótimo no vinho.

garrafa de vinho
Na França, a Borgonha é mais famosa pelos brancos - reprodução

Domaine de Suremain Mercurey 1er Cru en Sazenay Branco 2020 - Borgonha, chardonnay, 12 meses em tonéis de carvalho francês, preço não informado.
Seguindo com os brancos, entramos na França. Várias regiões francesas produzem bons brancos. Escolhi a Borgonha porque seus brancos são a maior prova de que a capacidade de deslumbrar não é monopólio dos tintos. Na França, aliás, a Borgonha é mais conhecida pelos brancos.
Borgonha branco, salvo poucas exceções, é chardonnay. Este é um premier cru, o que quer dizer que as uvas dele vêm de um vinhedo especial. Se fosse grand cru, seria mais especial ainda. Como a maioria dos brancos da região, ele passa por madeira. Isso deve aparecer na boca e no nariz como notas amanteigadas e de brioche.

garrafa de vinho
Os borgonha costumam ser símbolo de refinamento - reprodução

Domaine A. Guyon Bourgogne Cuvée des Dames de Vergy 2020 - Borgonha, pinot noir, 12 meses em barricas de carvalho, R$ 490,90.
Continuamos na Borgonha, mas agora entramos nos tintos. Assim como o borgonha branco é chardonnay, o borgonha tinto é pinot noir em 99% dos casos. Essa uva tinta tem casca fina, por isso, rende tintos mais leves e com menor concentração de cor. Tanto que a pinot noir costuma ser bebida mais fria e é tida como a tinta do verão.
Na Borgonha, ela tem a sua melhor expressão. Apesar de não ter tantos taninos, o borgonha tinto tem estrutura, o que percebemos por sua presença na boca. É leve, mas marcante. Os aromas, do vinho quando jovem, são de frutos vermelhos frescos. Com o passar dos anos, desenvolve aromas terrosos e animais que são muito apreciados. Numa garrafa de 2020, você ainda deve encontrar apenas frutas.

garrafa de vinho
O châteauneuf-du-pape é a apelação mais famosa do Vale do Rhône - reprodução

Château de la Gardine Châteauneuf-du-Pape Rouge 2020 - Rhône, 50% grenache, 28% syrah, 20% mourvèdre e 2% muscardin, 14 meses em tonéis e barricas de carvalho, R$ 683,90
Há boas chances do leitor já ter ouvido falar do Châteauneuf-du-Pape. Esta é a apelação (nome que se pode dar um vinho de uma região limitada geograficamente na França) mais famosa do Vale do Rhône, na França. Poucos, no entanto, sabem que existe Châteauneuf-du-Pape tinto e branco. Deixo esta informação só para você registrar, mas vamos provar apenas este tinto.
As regras para produção de vinhos que usem essa apelação permitem que se coloque treze uvas diferentes no blend do Châteauneuf-du-Pape (Grenache, Syrah, Mourvèdre, Picpoul, Terret Noir, Counoise, Muscardin, Vaccarèse, Picardan, Cinsault, Clairette, Roussanne, Bourboulenc) e vários tintos usam todas elas. Isso confere muita complexidade aromática. As principais são Grenache, Syrah e Mourvèdre, como em boa parte do Sul da França. Este rótulo, usa as três e mais uma pitada da Muscardin.
É um vinho que tem aromas de cereja e framboesa, mas possui também algo terroso e de especiarias. Ainda bastante jovem, deve ganhar com os anos.

rótulo de vinho
Margaux é uma das várias sub-apelações da margem esquerda de Bordeaux - reprodução

Château Dauzac Margaux Comte de Dauzac 2020 - Bordeaux, 65% cabernet sauvignon, 35% merlot, 12 meses em barricas de carvalho, preço não informado.
O leitor, muito provavelmente, já tomou muitos vinhos produzidos em Bordeaux, a região é enorme e produz em grandes quantidades. No entanto, se pretende ficar um pouco menos perdido em meio a tantos nomes, é importante para o consumidor saber alguns pontos básicos sobre essa região, que também é uma enorme apelação de origem geográfica.
Ser uma apelação de origem geográfica significa corresponder a uma área onde se produz um determinado vinho segundo determinadas regras.
As grandes apelações (ou denominações, como pode ser traduzido o termo) costumam conter dentro delas várias outras apelações menores que, por sua vez, contêm apelações menores ainda dentro delas. Isso é especialmente verdade no caso da gigante Bordeaux. De início, você pode começar memorizando que Bordeaux tem dois lados bem distintos: à margem direita do rio que a divide, onde a uva predominante é o merlot, e a margem esquerda, onde predomina a cabernet sauvignon.
Este é um vinho da margem esquerda. Margaux é uma das tais sub-apelações de que falei acima. A minha preferida na margem esquerda. Acho mais elegante, mas é uma impressão, algo difícil de definir. Prove pensando nisso. Veja como os taninos são finos, as duas uvas bem integradas.

garrafa de vinho
O brunello di Montalcino é um dos vinhos mais famosos da Itália - reprodução

Caprili Brunello di Montalcino 2018 - Toscana, sangiovese, 36 meses em botti de carvalho da Eslavônia, R$ 657,90
Tenho certeza de que a maioria dos leitores já ouviu falar do famoso vinho italiano brunello di Montalcino, mas creio que muitos nunca pararam para pensar em exatamente o que é isso. Para começar, brunello di Montalcino não é um vinho. É o nome que se dá a vários vinhos produzidos ao redor da vila toscana de Montalcino . Ou seja, u a denominação de origem. No caso, uma denominação de origem controlada e garantida (DOCG), pois há regras.
Não é qualquer vinho feito na simpática Montalcino (estive lá há 3 meses e amei) que pode escrever no rótulo brunello di Montalcino. Regra número 1: tem de ser feito com 100% de sangiovese (ou brunello, como a uva é conhecida por lá) plantada dentro do perímetro da DOCG. Além disso, precisa passar no mínimo 2 anos em carvalho (barricas ou tonéis (botti) e 4 meses em garrafa. Pela informação acima, o Caprili passa 36 meses na madeira. E só pode ser vendido cinco anos depois da safra.
Repare que é um vinho bastante estruturado, com muitos taninos, mas de uma elegância incrível. Tem ótima acidez e pede comida. Eu, se fosse você, dava uma passada no bufê e provava com alguma carne. Mas, lembre-se, as doses servidas não são gigantes, então, vá com muita calma.

garrafa de vinho
O barolo da Pio Cesare é feito com uvas de várias comunas - arquivo pessoal/@tinto_ou_branco


Pio Cesare Barolo 2018 - Piemonte, nebbiolo, 30 meses, em botti e barricas de carvalho,
R$ 1.235,90
Um pouco menos popular do que o brunello, mas com tanto ou mais prestígio, ouso dizer que o barolo é o meu vinho preferido. Novamente, não é um vinho, mas uma coleção deles. barolo é a denominação dada a vinhos tintos da uva nebbiolo, feitos de acordo com determinadas regras, no Piemonte, na região do Langhe, na província de Cuneo. A DOCG compreende 11 comunas, sendo as cinco mais famosas Barolo, La Morra, Castiglione Falletto, Serralunga d’Alba, e Monforte d’Alba. Em 2021, morei por 3 meses nessa última, de tanto que amo esse vinho.
Assim como o brunello, é um vinho bastante estruturado, cheio de taninos, mas super elegante e fresco. Muitas vezes chega a ser translúcido. Ambos têm algo meio animal, que lembra mais um brodo do que uma carne em si. O barolo é conhecido por seu aroma de rosas. Se você visitar a região algum dia, verá que ela é cheia de rosas vermelhas. Cheire e grave na memória.
Este é um barolo tradicional, feito com uma mistura de uvas das várias comunas. É incrivelmente equilibrado. A vinícola fica na cidade de Alba, fora do perímetro da DOCG, mas eles adquiriram esse direito por estarem lá muito antes da criação da denominação. Se forem a alba, não deixem de visitar. O prédio e a decoração são uma atração à parte.

garrafa de vinho
A região onde se produz barbaresco é vizinha da de onde se produz barolo - reprodução

Bel Colle Barbaresco 2019 - Piemonte, nebbiolo, 36 meses, em botti de carvalho da Eslavônia, R$ 657,90.
Incluir um barolo e um barbaresco numa lista deste tamanho é coisa de fanáticos por nebbiolo, como eu, rs. As duas regiões são vizinhas e os dois vinhos são muito parecidos. Porém, acho interessante vocês compararem. O barbaresco é um pouco mais leve e descompromissado do que o barolo. Tanto que suas regras preveem um estágio mais curto em madeira e permitem que ele seja vendido mais cedo. O barolo tem de envelhecer dois anos na madeira e um ano na garrafa antes de ser vendido. Já o barbaresco, tem de envelhecer por dois anos no total, sendo nove meses no mínimo na garrafa.
Também é um vinho tânico e estruturado, mas com ótima acidez. Dura eternamente. Os dos anos 1980 ainda estão maravilhosos (o brunello e o barolo também duram). O aroma que me chama mais atenção aqui é o de morango. Tomaria litros, mas vamos voltar lá no bufê e provar com comida.

garrafa de vinho
O amarone é produzido a partir de uvas passas - reprodução

Albino Armani Amarone Classico 2017 - Veneto, corvina, corvinone, rondinella, 24 meses em botti de carvalho, R$ 561,90
Pensa em um vinho encorpado! O amarone é o resultado da vinificação de uvas que foram passificadas, ou seja, desidratadas. Se não há água na uva, o vinho é mais concentrado. Vem da mesma região que o Valpolicella. Tem bastante álcool porque a uva tem bastante açúcar. É uma potência. Não é meu vinho predileto, mas não posso negar que é um grande vinho e acho que você deve prová-lo.
Costuma ter aromas de frutas escuras, bem maduras, já parecendo uma compota. Mas só é possível fazê-lo porque as uvas originalmente tinha ótima acidez e não perdem tudo com a passificação. É um vinho que ganha com os anos.

Feito esse roteiro, mesmo com calma, deve ainda sobrar bastante tempo para provar outros vinhos aleatoriamente. Se jogue! Visite Portugal, Espanha, os sul americanos! Muitas das melhores coisas acontecem quando não estamos esperando nada.

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