Tinto ou Branco

Tudo que você sempre quis saber sobre vinho, mas tinha medo de perguntar

Tinto ou Branco - Tânia Nogueira
Tânia Nogueira
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Aprenda a decifrar os rótulos dos vinhos argentinos

Veja o que significa cada termo e o que ele diz sobre o que você vai beber

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São Paulo

É difícil entender o que vem escrito nos rótulos dos vinhos. Bebo vinho desde os 17 anos. Sempre gostei de tudo o que envolve essa bebida, sempre li a respeito, prestei atenção quando alguém mais entendido falava e procurei reparar naquilo que estava bebendo. Mais tarde, fiz matérias sobre o assunto e, com isso, entrevistei especialistas e fui a algumas degustações.

Ainda assim, confesso, antes de fazer o curso de sommelier profissional, apanhava na hora de comprar vinhos. Olhava para os rótulos e parecia estar vendo palavras em grego, com um ou outro termo que fazia sentido.

vinho
O que esse monte de palavras e letras quem dizer para você? - reprodução

Pensando nisso, decidi fazer uma série de posts sobre como ler rótulos. A ideia é ajudá-lo a decifrar essa linguagem tão técnica e a prever como é o vinho dentro de cada garrafa. Como as informações dos rótulos costumam seguir, mais ou menos, um padrão de acordo com o país e a região onde o vinho foi produzido, vamos explorar país por país, região por região.

Começamos com algo não tão complicado, um argentino de Mendoza. Na Argentina, não há tantas regras e, principalmente, tantas classificações, o que torna a leitura de um rótulo razoavelmente simples. Esperem para ver os europeus!

Escolhi o Calle Contastini Tocayos, um vinho de R$ 280,00 que provei numa degustação da importadora Boca a Boca, justamente por ter um rótulo um pouco mais complexo do que vinhos argentinos mais baratos. Assim, posso mostrar mais termos com que você pode se deparar.

Antes de mais nada, porém, quis trazer aqui um bom vinho. Gosto muito do cabernet sauvignon argentino, acho mais delicado do que a maioria. Este vinho tem 93% de cabernet sauvignon e 7% de cabernet franc. A informação sobre as porcentagem não está no rótulo. Peguei na ficha técnica que me passaram. É um vinho que passa pela madeira (também vi na ficha), mas é muito elegante, cheio de fruta vermelha fresca no nariz, com algo de especiarias (que eu diria que é o tempero da cabernet franc). Na boca, é bastante fresco.

Vamos ao rótulo:

1 - Tocayos é o nome do vinho. Quer dizer xará, uma brincadeira pelo fato do vinho ser feito de dois tipos de uva cabernet

2 - Calle Contastini é a marca do vinho, nome de uma linha inteira de vinhos. Guarde o nome das marcas das quais gostar e, em outras oportunidades, experimente outros vinhos da mesma linha

3 - Juan Pablo Lupiañez é o nome do enólogo. Essa é a única informação que interessa nessa linha (mas só para quem é muito ligado em vinho). O resto é burocracia, que poderia estar no contrarrótulo, o número do registro da vinícola no Instituto Nacional de Viticultura (INV). Isso não costuma aparecer nos rótulos.

4 - Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc são as uvas usadas para fazer este vinho. Pelas regras de rotulagem argentinas, quando um vinho é feito com duas uvas ou mais, pode vir escrito apenas blend, corte, mistura ,assemblage ou coupage. Esta informação pode não ser obrigatória, mas ajuda muito a escolher o vinho. Você provavelmente já tomou vinhos feitos a partir dessas uvas. Gostou? Se sim, é um bom sinal. Se não, não é sentença definitiva já que as uvas podem se expressar de maneira muito diferente dependendo do lugar e do enólogo.

5 - 2021 é safra do vinho. Ou seja, o ano de colheita das uvas. Mais do que saber se foi uma safra boa ou ruim, essa informação precisa, quando analisada à luz de uma série de outros dados, pode ajudar a prever o estado de conservação de um vinho. Um vinho de dois anos é jovem. Se for um vinho de preço médio a elevado, como é o caso deste, as probabilidades são que ele melhore com o tempo. Se fosse um vinho muito barato, deveria ser bebido logo, especialmente no caso dos brancos. Se for rosé, mesmo o caro tem de ser bebido jovem.

6 - Paraje Altamira é uma indicação geográfica (IG). Ou seja, o nome de um lugar que só pode ser usado por vinícolas que estão nesse local, usam apenas uvas plantadas ali e seguem as regras estabelecidas pelo Instituto Nacional de Vitivinicultura (INV) argentino. No mundo todo, os governos concedem o direito de tornarem-se IG regiões que produzem vinhos únicos e originais do local. Paraje Altamira fica no Vale do Uco, que também é uma IG, ao sul da cidade de Mendoza. A região tem clima árido e uma altitude que varia de 1 mil a 1,2 mil metros de altitude. Seus vinhos são famosos pelo frescor (boa acidez) e pelos taninos finos. Como em boa parte de Mendoza, a malbec prevalece. A cabernet franc, no entanto, também vem se destacando por ali. Um vinho da IG Paraje Altamira muito provavelmente não vai decepcioná-lo.

7 - Valle de Uco é um vale onde estão as IGs Paraje Altamira, La Consulta, Tupungato e Vista Flores, entre outras. Ele, em si, também é uma IG, que já garante um bom nível de qualidade, talvez por um preço um pouco menor do que os dos vinhos das IGs menores.

8 - Mendoza/Argentina - Mendoza é o nome da macro região, a mais importante na produção de vinhos da Argentina, tanto em qualidade quanto em quantidade. No entanto, não é a única, suas vizinhas San Juan e La Rioja também produzem muitos rótulos que chegam ao Brasil. Salvo algumas exceções, a qualidade deles costuma ser menor do que a dos de Mendoza. Então, para quem não tem uma verba grande, a palavra Mendoza (pura e simples, sem nenhuma IG) é, sim, uma indicação de alguma qualidade.

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