Nesta terça (5) participei de um ensaio de um jantar de R$ 10 mil e digo: vale a pena, eu pagaria se tivesse dinheiro.
O ensaio era para o XIV Wine Dinner, um passeio por Chassagne-Montrachet e Volnay, para 25 pessoas, que a importadora Clarets promoveu nesta quarta (8) no restaurante Tuju, em São Paulo, e que custa R$ 9.990,00 por pessoa.
O que faz um jantar custar R$ 10 mil? Uma lista de vinhos que, de tão raros, não têm preço, é a resposta. O jantar incluia um menu de 11 etapas do chef Ivan Ralston e 18 taças de 45 ml de vinhos da Borgonha, a região dos vinhos mais caros do mundo. Serão servidos 14 premier crus e 4 grand crus, sendo vários deles de safras antigas.
Entre os premier crus, por exemplo, estava o tinto Volnay Clos de Chênes 1999 do Domaine Michel Lafarge. Quanto aos grand crus, a lista é a seguinte: Chevalier Montrachet 2009 e Bâtard-Montrachet 1996, do domaine Michel Niellon, e o Chevalier Montrachet 2011 e o Le Montrachet 2011, do Domaine Fontaine-Gagnard. Os três produtores estarão presentes e vão se revezar entre as mesas.
Sei que vinhos de milhares de reais chegam a ofender algumas pessoas. Certamente, algum leitor vai reclamar da afronta. A mim, ofende ver playboys jogando champanhe Dom Perignon no pé dos amigos na balada de Jurerê Internacional. Quem toma borgonha caro costuma fazer isso discretamente, sem fazer alarde. Toma porque realmente gosta e dá valor ao que está bebendo. Não vamos ser hipócritas, quem tem muito dinheiro fatalmente vai gastá-lo em algo que não é de primeira necessidade, seja carros de luxo, viagens exóticas ou vinhos raros. Na minha opinião, vinhos são uma bela escolha
No ensaio de que participei, os vinhos servidos eram dos mesmos produtores do jantar, mas não eram exatamente aqueles servidos nesta quarta. Na verdade, foi uma degustação para um grupo pequeno de jornalistas na sede da Clarets e não um jantar no Tuju. Nem por isso, foi menos especial. Bebemos 14 vinhos. Um melhor do que o outro.
Do Domaine Fontaine-Gagnard, provamos cinco rótulos, quatro brancos e um tinto, todos muito bons. O mais simples deles, o village branco Chassagne-Montrachet 2019 (R$ 699,60), me chamou a atenção pelo frescor e por ter algo incomum na Borgonha, algo verde, mas no bom sentido, algo como um vetiver.
O mais evoluído, o também branco Criots-Bâtard-Montrachet Grand Cru 2004 (R$ 3.499,80), eu nem tenho roupa para beber. É algo excepcional. Sem perder a acidez e o frescor, ganhou algo de compota, de pêssego em calda, que se soma à mineralidade e aos cítricos e o caju que aparecem nos brancos jovens.
Do Domaine Michel Niellon, degustamos quatro rótulos, três brancos e um tinto. O que mais me pegou foi o branco Chassagne-Montrachet Premier Cru La Maltoire 2020 (R$ 1.099,80). Ainda bastante jovem, com muita tensão, esbanja mineralidade e elegância. Na boca, tem estrutura, bom corpo e é longo, permanece um tempão. Fiquei imaginando que deve ficar ótimo com vieiras.
Por fim, do Domaine Michel Lafarge, provamos dois tintos de Volnay. Ambos traziam toda a elegância do pinot noir da Borgonha, com frutos vermelhos e especiarias no nariz e ótima acidez e estrutura na boca. Claro, o Volnay Premier Cru Clos de Chênes 2018 (R$ 2.199,60) tinha mais complexidade que o village Volnay Vendanges Selectionnees 2018 (R$ 899,40), mas o mais barato já é um grande vinho.
Deles, provamos também três crus de Beaujolais que não estarão no jantar. Amo. Para quem não sabe, ou não lembra, na Borgonha, todos os brancos são de chardonnay e todos os tintos de pinot noir. Exceto em Beaujolais, onde os tintos são de gamay.
Enfim, foi uma degustação para lembrar para sempre!
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