Tinto ou Branco

Tudo que você sempre quis saber sobre vinho, mas tinha medo de perguntar

Tinto ou Branco - Tânia Nogueira
Tânia Nogueira
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Como é o vinho de R$ 13 mi que encapuzado de vídeo joga no ralo

Vinho despejado era de uma das denominações de maior prestígio da Espanha

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São Paulo

Uma pessoa vestindo capuz entrou na Cepa 21 na madrugada deste domingo (18), em Valladolid, na Espanha, abriu a porta de escape dos tanques e deixou escorrendo três dos vinhos mais caros dessa bodega conceituada da denominação de origem controlada qualificada (DOCa) Ribera del Duero, como registrou a câmera de segurança da empresa (veja vídeo abaixo). Ao todo 60 mil litros foram ralo abaixo, causando um prejuízo de 2,5 milhões de euros (cerca de R$ 13 milhões).

Foram abertos cinco tanques, contendo entre eles os vinhos Cepa 21 (R$ 232,00, na Casa Santa Luzia, em São Paulo), Malabrigo (não está no mercado brasileiro, na Espanha custa cerca de 60% a mais do que o Cepa 21) e Horcajo (na Espanha custa mais do que quatro vezes o valor do Cepa 21). Segundo o presidente da vinícola, José Moro, declarou às agências internacionais, todo o estoque de Horcajo foi para o ralo e um terço do Malabrigo também. O Cepa 21 tem uma produção maior.

garrafa de vinho no meio de um vinhedo de solo pedregoso
Garrafa do Malabrigo, um dos três vinhos que foram despejados propositalmente. Destaque para o solo pedregoso. - reprodução

Aparentemente, o vândalo se assustou com algo e desistiu de abrir os outros tanques da cantina. Pelas imagens, a polícia trabalha com as hipóteses de que a pessoa conhecia muito bem o ambiente e de que se trata de uma mulher. Provavelmente um desafeto.

Em 2012, um caso muito semelhante aconteceu em Montalcino, na Itália, com proporções ainda maiores. Um vândalo entrou na vinícola que produzia o brunello di Montalcino Soldera e derramou todo o conteúdo dos tanques, o trabalho de seis safras. Na época, se cogitou a participação da Máfia, mas por fim se descobriu que se tratava de um ex -empregado que tinha discutido com o patrão por causa de um apartamento no qual ele queria morar e que tinha sido dado a outro funcionário.

O patrão, Gianfranco Soldera, era respeitado por seu trabalho, mas tido como uma pessoa difícil. Havia boatos sobre ele ter denunciado outros produtores muito famosos por práticas ilegais, num caso que ficou conhecido como Brunellopoli, pela imprensa italiana, ou como The Brunellogate, pela imprensa internacional. Não suportava que cuspissem seu vinho (prática comum entre profissionais). Uma vez colocou uma amiga minha para fora de sua vinícola por causa disso.

O empregado/vândalo, Andrea di Gisi, por sua vez, era tido como boa gente, companheiro de copo de pessoas que eu conheço. Como na música do Gilberto Gil, no entanto, foi justamente o boa gente quem cometeu o crime. E pagou com quatro anos de cadeia por isso. Vamos ver o que a polícia descobre nos próximos dias sobre o caso da Espanha. Eu apostaria em algo semelhante ao que ocorreu na Itália. De qualquer forma, é um alerta. Produtores precisam começar a deixar guardas em suas cantinas milionárias, por mais que vivam em locais pacatos.

Ribera del Duero é, de fato, um local muito tranquilo. Até os anos 1980 era praticamente desconhecida. O Duero nada mais é do que o primeiro trecho do rio Douro português. A DOCa fica cerca de 130 km a noroeste de Madrid. É uma região bastante seca, com verões e invernos rígidos e grande amplitude térmica. Isso tudo rende vinhos tintos muito estruturados e de bastante personalidade.

A região é berço de alguns dos vinhos mais renomados da Espanha. Ali se produz o famoso Vega Sicilia Único, cuja garrafa da safra 2012 está custando R$ 7.732,76, na Mistral. Por lá também está a bodega do talvez menos popular, mas ainda mais caro, Pingus, cuja garrafa da safra 2014 está por R$ 13.481,21, também na Mistral.

Dos vinhos derramados, o Cepa 21 é o mais simples e o único que se encontra no mercado brasileiro (talvez não por muito tempo porque a Épice deixou de importar). Isso não quer dizer, contudo, que seja um vinho de menor qualidade. A safra 2021, que na loja da bodega custa 20,50 euros, recebeu 91 pontos da Wine Spectator, da Wine Enthusiast e do James Suckuling. Assim como o Malabrigo, que custa 34,60 euros, e o Horcajo, que custa 89,60 euros, ele é feito de 100% tempranillo e passa por barris de carvalho francês. Deve haver diferença no tempo de estágio e na idade da madeira por onde esses três vinhos passam, mas isso o produtor não informa no site. O que informa é que tanto o Malabrigo quanto o Horcajo são parcelas únicas especiais. Nunca tomei, mas ,só de pensar nisso indo para o ralo, sinto vontade de chorar. Veja o vídeo abaixo!

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