Uma pessoa LGBT+ não se torna semi-deus por ser LGBT+. É possível sofrer preconceito por afetividades e sexualidades dissidentes do padrão heteronormativo e ser uma pessoa detestável. Ou uma pessoa que erra, que vacila com os outros. Que comete crimes. Afinal, LGBTs são gente.
Colocar o dedo nessa ferida exige coragem. A jornalista Fabiana Moraes o fez e, como era de se esperar, foi duramente criticada nas redes sociais ao tirar do armário a misoginia intrínseca a parte da comunidade de homens gays. Esse ódio direcionado a mulheres é um problema que a autora afirma ter sido ignorado até aqui.
Os questionamentos ao texto, muitos deles raivosos, giravam ao redor da motivação de se bater em uma comunidade que só faz apanhar e do momento em que a discussão é posta. E em alguma medida as falas são justas.
No entanto, é difícil saber quando e se haverá um momento ideal para autocríticas. O Brasil não tem mais, institucionalmente, uma política contrária a vivências LGBT+, e isso é bom. Mas ainda é o país que mais mata essa população, um cenário péssimo.
Pode ser doloroso para parte da comunidade gay se olhar no espelho e enxergar um corpo preconceituoso. A alternativa a esse grupo, talvez, seja tentar se ver com a complexidade que os seres humanos têm. Entre a homofobia que sentem e a misoginia que cometem há um universo inteiro.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.