Vidas Atípicas

Em busca de respostas para dúvidas profundas e inesgotáveis sobre o autismo

Vidas Atípicas - Johanna Nublat
Johanna Nublat
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O que desejamos para nossos filhos neuroatípicos?

Em episódio da série americana 'Atypical', mãe mostra ao filho a lista de sonhos que tinha para ele

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Johanna Nublat

Revendo um episódio da segunda temporada da série "Atypical" (Atípico, disponível na Netflix), sobre o cotidiano de um adolescente autista americano e sua família, me deparei com um diálogo emocionante.

No episódio "As regras de sobrevivência de Ernest Shackleton", Sam, um adolescente que enfrenta a tensão da transição da escola para a universidade e o desafio de se relacionar com outros adolescentes, desaparece. Sai da escola e não vai ao trabalho. A família o encontra sentado na frente de um tanque cheio de pinguins, um de seus maiores focos de interesse (o chamado hiperfoco).

Sam e a mãe, Elza, personagens da série Atypical - Divulgação Netflix

A mãe de Sam, então, diz: "Quando você tinha cinco anos, eu fiz uma lista [...] de tudo o que eu torcia para você conquistar. Estava tentando controlar minhas expectativas". Elza entrega um papel dobrado ao filho, que lê a tal lista.

"Espero que ele tenha um amigo. Espero que ele consiga se comunicar claramente. Espero que ele possa sair de casa sozinho. Espero que ele vá bem na escola. Espero que ele encontre algo que ame fazer... Essas coisas são tão fáceis", minimiza Sam. "Não, elas não eram. Eram difíceis", rebate a mãe.

Elza continua, argumentando que o filho é forte e determinado e vai saber lidar com a situação.

Consultei meu oráculo de mulheres que compartilham da maternidade atípica sobre os desejos para o futuro de seus filhos e filhas.

A Carol disse que deseja "que a Eva consiga se comunicar bem -- verbalmente, como a maioria consegue, mas também emocionalmente, o que é uma habilidade difícil até para os neurotípicos". "Desejo que aqueles que tentem fazê-la se sentir inadequada não consigam ferir sua autoestima e que a beleza, alegria e fofura dela sejam os traços que a definam. E desejo, mais do que tudo, que ela seja independente para se proteger sozinha, sonhar sem limites e tomar suas próprias decisões pelo caminho (e, se possível, que quando seja adolescente não sinta que as que eu tomei por ela foram tão erradas assim)."

A Cláudia tem desejos parecidos com o de Elza. "Que meu filho consiga sair de casa sozinho, se comunicar claramente, fazer e manter um relacionamento (seja uma amizade ou uma relação romântica), contribuir para a sociedade com o seu trabalho e que se sinta amado."

"Eu só quero que, quando ele for adulto, ele diga 'obrigado, mãe, por não ter desistido', porque saberei que ele se tornou independente e feliz com suas escolhas", disse a Luciene.

A Mari quer ter a tranquilidade de morrer em paz. A Raquel deseja que os filhos "possam ter autonomia e ser independentes, que sejam respeitados em suas diferenças, que consigam ser felizes".

A Malu tem, também, muitos desejos para o Francisco. "Desejo que a capacidade que ele tem tão intensa e genuína de afeto se materialize em amizade. Que sejamos capazes de encontrar outras pessoas que possam estar ao lado dele para ajudá-lo a gerir seu cotidiano no cuidado de si mesmo – se alimentar, tomar banho, etc. Gostaria de desejar independência, mas o horizonte que se desenha, e que pode ser bonito também, dificilmente será sem a participação de outras pessoas, e um dia não estarei mais aqui. Desejo que as escolas saibam seu valor e insistam gentilmente para que ele siga aprendendo. Desejo que ele tenha uma rotina de atividades que façam com que ele se sinta capaz, como ele é, também na vida adulta. Desejo que o mundo dos neurotípicos se adapte para ele, e que ele não precise dar conta de toda adaptação nesse encontro de mundos."

A Bianca deseja que "Thadeu possa expressar suas vontades, seus desejos". "Que ele construa relações verdadeiras e duradouras, que tenha uma rede de amor onde possa ser ele mesmo, onde possa descansar. Que consiga a independência que ele tanto quer e busca. Que desenvolva um trabalho do qual se orgulhe e pelo qual possa garantir sua subsistência."

A Gisely deseja que o filho "seja livre para ser quem ele é. E que ele encontre pessoas boas pelos caminhos que ele escolher seguir". A Gena quer que a filha "não precise fingir que é uma criança típica e consiga se cercar de pessoas que gostem dela como ela é".

A Ines, que tem três filhos no espectro, contou que deseja "que eles possam ser independentes, felizes, sintam-se sempre amados e consigam fazer uma atividade que amem e se realizem". "Com relação ao meu filho mais velho, devido ao nível de comprometimento dele, espero que ele desenvolva mais sua independência e capacidade de se adaptar a diferentes ambientes, consiga se fazer compreender mais e seja compreendido e esteja sempre cercado por pessoas que possam olhar por ele com carinho e cuidado. Desejo ainda uma sociedade com um olhar mais consciente, mais solidária e humana."

A Lilian deseja que o filho seja amado e compreendido. A Leticia disse que tem tantos desejos que ficava difícil escrever quais eram.

E a Johanna (eu) deseja que o filho possa amar e ser amado todos os dias da vida dele.

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