Voltaire de Souza

Crônicas da vida louca

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Decisões a jato

Na hora da vacinação infantil, o refúgio é subir na goiabeira

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Ciência. Esperança. Pandemia.

Chegam os primeiros lotes para a vacinação infantil.

Em Brasília, a reunião era tensa.

–Vão distribuir essa porcaria?

–Por enquanto está no aeroporto, general.

–E nem nos aeroportos a gente manda mais?

–Bom, general… sabe como é.

O general Perácio deu um tapa na mesa de jacarandá.

–Não. Não sei não como é.

Eram firmes as convicções do alto oficial.

–Vacina para criança… só pode ser ideia de comunista.

A mão de granito explodiu novamente sobre o tampo envernizado.

–Somos a favor da liberdade, caraca.

O assessor Guarany acompanhava as explicações.

–Positivo, general.

–A pessoa tem de poder escolher se quer vacina ou não.

–E se é no braço ou no bumbum, né, general.

–Cala a boca, imbecil.

As luzes do crepúsculo penetravam pela vidraça do palácio.

–Nossas crianças não vão poder decidir.

–Quer que eu fale com a Aeronáutica, general?

Perácio respirou fundo.

–Este é um caso de direitos da criança. Cadê a ministra?

Guarany teclou no celular.

–Disseram que ela está confinada… pegou Covid.

–Confinamento uma ova. Por causa de uma gripinha?

–Ela recebe alimentação sentada em cima de um galho de goiabeira.

Perácio ficou indignado.

–Chama o pessoal do Meio Ambiente. E manda serrar a joça dessa árvore.

Vacinas chegam de avião.

Mas a burrice, por vezes, reage com a velocidade de um jato.

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