Luxo. Refinamento. Sabor.
A novidade atinge os paladares paulistanos.
O hambúrguer de wagyu.
A origem é o boi japonês.
Nipônicos tratam o animal com muito carinho.
Resultado: o bicho acumula gordura em suas fibras proteicas.
Maciez. Delicadeza. Preço alto.
O chapeiro Adaílson se espantava.
–Oitenta paus por um hambúrguer?
Ele trabalhava no Bar e Lanches El Mukif.
Especialidades árabes.
–Mas o x-salada aqui sai por seis reais.
Adaílson suspirou.
–Um dia eu subo na vida.
O jovem paraibano ainda se via no direito de sonhar.
–Viro chapeiro em lanchonete chique.
O óleo de soja borbulhava à sua frente.
–Ou, quem sabe, arranjo emprego num restaurante.
Pelo celular, chegou a encomenda.
Trinta x-saladas.
E vinte hambúrgueres no vinagrete.
O serviço de entregas em domicílio enfrentava problemas.
–O Carlão teve acidente na moto…
Adaílson espalhou os produtos na chapa quente.
–E o Minhoca pegou Covid.
A conclusão era inevitável.
–A senhora tem de vir aqui pegar a encomenda.
A van prateada brecou com impaciência na frente da lanchonete.
As letras em azul marinho não davam margem a enganos.
–Le Burguê. Sua grife em lanches de luxo.
A bela empresária Maria do Carmo vinha pegar a encomenda.
–Depressa. Não deixa ninguém ver.
A memória de Adaílson deu o sinal.
–A senhora… não é aquela do hambúrguer de 80 reais? Eu vi no tik-tok.
Maria do Carmo acondicionava os sanduíches preparados por Adaílson.
–Quieto. É nosso segredinho.
Ela deu a explicação
--Todos os meus funcionários pegaram Covid.
A esperança brilhou na alma de Adaílson.
–Quem sabe… eu podia trabalhar para a senhora.
Maria do Carmo foi seca.
–Nem pensar. Meus funcionários… me desculpe… são de um nível melhor.
A gorjetinha foi de cinco reais.
--Baibai, querido.
A carne do hambúrguer não faz tanta diferença assim.
Mas, em se tratando de ser humano, a origem é fundamental.
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