Orgia. Deboche. Abuso sexual.
São graves as acusações contra o vereador Gabriel Monteiro.
Menores estupradas? Drogas pesadas? Videos comprometedores?
A polícia investiga.
O capitão Morretes estava interessado no caso.
–Isso vai terminar em cassação. No mínimo.
Ele apagou o cigarro no cinzeiro de caveira.
–Pouca vergonha. Absurdo.
A tarde caía com cores de sonho sobre a Baía da Guanabara.
–Esse cara é um pilantra.
Estava na hora de Morretes cheirar um pouco mais de cocaína.
–Vou ficando nervoso com esse troço.
No seu gabinete de operações, havia uma geladeirinha.
–Caraca. Acabou o gelo de novo.
Ele chamou o ordenança Isaquias.
–Não admito desleixo.
–Positivo, capitão.
O suspiro nasceu das entranhas do patriótico oficial.
–São esses políticos que acabam com o Brasil.
–Positivo, capitão.
–Alguma coisa precisa ser feita.
–Positivo, capitão.
–Me liga com São Paulo.
Morretes tinha contatos na política bandeirante.
–Viu isso, cara?
–Vi o quê, Morretes?
–O Gabriel Monteiro…
–Muita orgia, né, Morretes…
–Não é pra sair matando?
–Bom, Morretes… sabe como são as coisas…
–Explica, deputado.
–Testosterona é assim mesmo… o cara não resistiu.
–Mas o que me deixa indignado não é isso.
–O quê, então, Morretes?
–Ele tinha de ter me convidado para a festa, caceta.
–Bom… haha… aí eu concordo.
–Não quero risadinha sua não. Não vem com essa.
–Calma, Morretes… o que é que deu em você?
–Vocês, políticos, são todos a mesma coisa.
–Pô, só porque o cara não te chamou para uma orgia?
--Não tenho o direito, pô?
--Haha, é que na festa dele não tem penetra...
A mágoa transpareceu repentinamente na voz do capitão.
–E você? E você? Outro safado.
–Como assim, Morretes?
–Vai para a Ucrânia e não me convida?
O deputado tentou se explicar.
–Achei que você só gostava das meninas do funk.
Morretes bateu o telefone com violência.
–Cassação para esses pilantras é pouco.
Isaquias apareceu com o gelo e a cocaína.
–Esses caras defendem a democracia…
Morretes tomou o primeiro gole.
–Mas querem privilégio só para eles.
–Positivo, capitão.
–Por essas e outras sou a favor do golpe militar. Golpe já.
–Positivo, capitão.
O diálogo entre políticos, exército e policiais é sem dúvida possível.
Mas é como em outras relações humanas.
É preciso muita vaselina para amaciar o caminho.
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