Voltaire de Souza

Crônicas da vida louca

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Descrição de chapéu inflação indústria

Armas para o nosso Brasil

Problemas da economia podem atingir gravemente o setor de armas e munições

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Peças. Insumos. Componentes.

A indústria sofre.

O sr. Novelli dava um suspiro.

–Depois culpam a gente quando o preço sobe.

Ele analisava as planilhas.

–Toda minha matéria-prima está mais cara.

Aço. Cobre. Chumbo.

–Como querem que eu diminua o preço final?

Por outro lado, o sr. Novelli não tinha razões para se queixar.

–As encomendas não param.

Ele era um importante produtor no ramo das munições.

–Sem meus produtos, nenhuma pistola sobrevive.

Havia outras dificuldades.

–Às vezes, não consigo importar nada.

Muita burocracia. Muita guerra. Muito imposto.

–Ninguém enxerga o meu lado da questão.

Novelli tentava relaxar.

–Às sete e meia? Combinado.

Os amigos se confraternizavam num barzinho badalado da Vila Madalena.

–Venho aqui desde os tempos em que eu era comunista… haha.

Ele chamou o garçom.

–Vai lá na venda. E compra uma caixinha de Marlboro vermelho.

Novelli tirou da carteira a nota de vinte reais.

–Pensar que isso comprava tanta coisa…

A cédula do mico-leão dourado perdeu muito do seu valor.

Cerveja. Arrependimento. Nostalgia.

–E eu que tinha tantos ideais…

–Calma, Novelli. Se deixarem o Bolsonaro governar mesmo…

–Quer saber? Vou fechar a minha fábrica e pronto.

–Mas, Novelli… a demanda nunca foi tão grande.

As lágrimas flutuavam nos olhos do empresário.

–Volto a ser comunista.

Os cigarros já estavam no fim.

–No tempo do Lula cada deputado custava mais barato.

–Uma azeitoninha, Novelli?

–Vou para a Ucrânia! Vendo armas para a mulherada!

Tentaram convencer Novelli a entrar no banco do passageiro.

–Eu dirijo, caceta. Eu estou bem.

O PM Devair não foi dessa opinião.

Novelli ia se recusar ao bafômetro quando a troca de tiros começou.

Um grupo de assaltantes fortemente armado saía da Joalheria For Ever.

Na UTI, Novelli revê suas opções de vida.

–Onde é que eu estava com a cabeça?

–Bip… bip… bip…

–Se eu estivesse com a arma na mão…

Um momento de compaixão luziu em sua mente.

–Eu teria salvado a vida daquele PM idiota… coitado.

–Bip… bip… bip…

–Vou aguentar os prejuízos. Retomar a fábrica.

–-Bip… Bip…

–Que Ucrânia, que nada. Minha missão é outra.

Suas últimas palavras foram registradas pela enfermeira Dinorá.

–Armas para nosso Brasil.

–Bip.

O pensamento humano, por vezes, é como um eletrocardiograma.

Oscila bastante.

Mas numa hora encontra seu estado terminal.

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