Voltaire de Souza

Crônicas da vida louca

Voltaire de Souza - Voltaire de Souza
Voltaire de Souza

Cala a boca, Eleny

Monumento fálico em cemitério mexicano abala os fundamentos de um matrimônio

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Choque. Surpresa. Ritual.

Aconteceu no México.

Uma senhora de 99 anos realizou seu último e extravagante desejo.

Um gigantesco pênis de cimento agora ornamenta o seu túmulo.

A peça escultórica faz sucesso nas redes sociais.

Eleny não conseguia acreditar.

--Pode isso, Isaías?

--Não sei não... vai que no México...

--O povo lá não é cristão.

--Jesus seja louvado.

O casal evangélico tinha reservado uma mesa num restaurante.

O rodízio Fogo Na Mata fazia fila na sua filial do Ipiranga.

--Ai, Isaías, não sei... essa coisa de linguiça, picanha...

--O que é que tem?

--Acho que hoje eu queria uma coisa mais levinha...

Contra a vontade, Isaías terminou experimentando um japonês.

--Porcaria. Peixe cru.

Na volta para casa, Eleny continuou com o assunto na cabeça.

--Vai ver que não é pênis coisa nenhuma.

--Mais mentirada da imprensa, é isso o que eu acho.

--Cacto, quem sabe.

--Lá no México tem muito.

Eleny continuava no celular.

--Olha... viu a cara da velhinha?

Isaías ia ficando irritado.

--Desliga isso, pô.

--Será que ela era trans?

--Olha, o pastor Avarildo deixou mensagem.

Era um sermão sobre temas atuais.

--O pênis mexicano é coisa do demônio.

--Com certeza.

--Tem de explodir aquilo com bomba.

Isaías ficou na dúvida.

--Puxa, aí é meio radical...

Na hora de dormir, o romantismo estava ausente da suíte.

--Hoje não, Isaías... fiquei meio impressionada.

--Aquele sushi não me caiu muito bem.

Sonhos incoerentes perturbaram a noite do casal.

Isaías sonhou com um túmulo gigante em homenagem ao pastor Avarildo.

--Uma vagina? O que é isso, pastor?

--É o portal do paraíso, irmão.

Eleny sonhou com Roberto Carlos.

Em vez de rosas, ele distribuía modelos do túmulo a suas fãs.

--Mas é todo espinhento, Roberto...

--Cala a boca, Eleny.

--Nossa... nunca estive no Vibra São Paulo.

--Toda rosa tem espinhos.

A manhã do casal foi de culto e oração.

--Sabe, Isaías?

--O quê foi, Eleny?

--Vamos dormir em quarto separado agora, tá?

--É. Boa ideia. Você gritou muito ontem à noite.

--E você, Isaías... ficou se agitando tanto... que eu nem vou dizer o que aconteceu.

Nem todo mundo se impressiona com cenas de cemitério.

Mas, por vezes, o pênis alheio pode ser o túmulo de um casamento.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.