Maracutaias. Mutretas. Rachadinhas.
No Rio de Janeiro, a oposição denuncia.
Mais uma lista de funcionários fantasmas.
A novidade é o local de moradia desse contingente.
Todos residem na cadeia.
Presidiários recebendo salário do governo.
--Calma. Calma aí.
No comitê da reeleição, o famoso marqueteiro Larcênio Rollim preparava suas explicações.
--Primeiro. Vocês aí não são a favor dos direitos humanos?
Jornalistas e repórteres acionaram os dispositivos de gravação.
--Não são a favor que a gente trate bem os presos?
--Mas, Larcênio...
--Ninguém ignora a situação dos nossos presídios. Infelizmente.
Larcênio suspirou.
--Nosso candidato procura garantir um mínimo de dignidade à população presidiária.
Um repórter estranhou.
--Puxa, Larcênio... se você falar isso, será que não perde voto?
O experiente marqueteiro parou para refletir.
--É... tem razão. Olha, apaga isso que eu acabei de dizer.
O rosto de Larcênio assumiu um ar mais sombrio.
--Nosso candidato, como sempre, está comprometido com o combate à corrupção.
--Mas funcionário fantasma... não é meio irregular?
--Precisamente, meu amigo. Precisamente.
Os punhos de Larcênio se fecharam num gesto convicto.
--Somos imbatíveis nesse quesito.
--E esses duzentos lá na cadeia?
--Exatamente. Já se encontram presos, condenados e punidos.
Larcênio deu um sorriso de superioridade.
--E vocês nem se abalaram para noticiar quando a gente prendeu esses corruptos.
O grupo de jornalistas ainda insistia por informações.
--Com licença. Estão me chamando para a motociata.
Ele terminou com palavras de fé.
--No Brasil que nós queremos, não existem fantasmas.
Larcênio olhou para o teto.
--Só existe o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
A convicção religiosa, por vezes, é como um holerite.
Cada um cuida do seu.
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