Voltaire de Souza

Crônicas da vida louca

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Bolsonarismo tem limite

Entre o lucro e a convicção, proprietário de malharia passa momentos de dúvida

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Ânimo. Força. Determinação.

É o segundo turno.

Valdemar estava confiante.

—O povo não vai eleger um ladrão.

Bolsonaro ficou atrás de Lula no primeiro turno.

—É preciso que cada um de nós faça a sua parte.

Os funcionários da Malharia Pra Frente ouviam em silêncio.

—Camiseta amarela. A gente produziu pra caramba.

—Verdade, dr. Valdemar.

—Agasalho. Short. Moletom.

—Bem Brasil, dr. Valdemar.

Ele ficou pensando.

—Depois das eleições... será que continua o movimento?

A mulher dele se chamava Ofélia.

—Amor... eu se fosse você vendia a fábrica agora mesmo. Enquanto está dando lucro.

Valdemar se ofendeu.

—Acho falta de patriotismo. Vai que começam a produzir roupa vermelha.

—Sempre pode servir para o Natal... tipo Papai Noel.

—Não acho aceitável.

Ele fez cara feia.

—Desse jeito, a Malharia Pra Frente termina produzindo roupa para o capeta.

—Tem o Halloween também, Valdemar...

—O que isso tem a ver com o Bolsonaro, Ofélia?

—Tem a ver com as vendas, Valdemar... você é bolsonarista mas também é empresário.

—Prefiro a falência, Ofélia. Sou bolsonarista até falido.

—Lembra da produção de máscaras na pandemia?

—O que é que tem?

—Você era contra... mas acabou fazendo.

—É... aquelas com desenho de caveira foram o maior sucesso.

—Estou te falando, Valdemar. Deixa de ser burro.

—Fazer camiseta do Lula? É isso? Esse pessoal encomenda e nem me paga depois.

—Olha, amor. Estou cansada de discutir com você.

—Você que é teimosa pra caramba.

—Sou teimosa porque eu tenho razão.

—Pode ter razão mas o bolsonarista sou eu.

—Mentira. Sou tão bolsonarista quanto você.

—Ha. Ha. Faz camisa para quem pagar.

—É outra coisa, Valdemar.

—Isso é meretrício, Ofélia. Coisa de prostituta. Essa é que a verdade.

O casal ficou sem se falar.

Ventos gelados visitaram o amplo apartamento do Parque Itararé.

—Ofélia. Me desculpa.

—Tudo bem, Valdemar.

—Vem cá, meu bem.

—Aínnh... estou com tanto frio...

—Sabe... preparei uma surpresinha para você.

—Ahhn... o que é?

Valdemar puxou o cobertor para o lado.

—Camisinha especial... é o Macedo que está produzindo.

O preservativo tinha listras verdes e amarelas.

—As Imbrocháveis. Gostou?

Ofélia se levantou e vestiu o penhoar.

—Camisinha? Desde quando? Você sabe que eu não acho isso cristão.

—Pode não ser cristão. Mas é Bolsonaro na cabeça.

—Francamente, Valdemar.

Ela suspirou com amargura.

—Bolsonarismo tem limite.

O casal ainda não superou suas desavenças e discussões.

Na reta final, a unidade é importante em todos os setores políticos.

Mas, quando menos se espera, vem o fantasma de uma rachadinha.

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