Voltaire de Souza

Crônicas da vida louca

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Mais secreto do que o voto

Diante da polarização política, sacerdote católico faz força para manter a paz

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Tumulto. Alvoroço. Confusão.

A disputa política chega às igrejas do país.

Aconteceu em Aparecida.

Lulistas e bolsonaristas se estranham no momento de saudar a padroeira.

Era profundo o suspiro do padre Pelozzi.

—É molta discussó.

Na paróquia de Santa Ismália, ele procurava manter o equilíbrio.

—Nella mia missa, non admitto camisa da Seleçó.

Não seria falta de patriotismo?

—E non pode camisetta vermeglia.

Outras providências se tornaram necessárias.

—Senza celulare, per favore.

O bom padre notou um pequeno vulto na calça de um fiel.

—Signore Viriatto... que cosa é questa nella sua caltsa?

O sr. Viriato era um conhecido bolsonarista.

—Non admetto que o signor venga armato nella missa.

O uso de armas de fogo não é recomendável numa casa de oração.

O sr. Viriato mantinha-se em silêncio.

A voz solene de Pelozzi ecoou pelas alturas da nave.

—Signore Viriattoooo... que cosa tiene nello bolso della caltsa?

Os olhares de alguns poucos fiéis convergiram para o comerciante.

Era muita pressão sobre o sr. Viriato.

—Não é arma não, padre...

—Entó mostra. Que io voglio tere certezza.

Viriato não se movia.

Esgotou-se, então, a paciência do sacerdote.

Pellozi desceu do altar.

O dedo em riste expressava a ira santa de São Miguel Arcanjo.

—Ti pogno para fora della igredjia.

Viriato inclinou-se na direção de Pelozzi com ares de segredo.

—Não é arma, padre. Mas se o senhor quiser que eu mostre...

—Quero si, signore.

—Vai ter de ser no confessionário.

O cubículo escuro admitiu a presença de Pelozzi e Viriato.

—Un vibratore? Un catchetone di borratcha?

—Verdade, padre. Mas é segredo, tudo bem?

—Bene. Rezza un padre nostro e duas ave-maria, E non si fala dello assunto.

Confessionários, por vezes, são como urnas eletrônicas.

Invioláveis. Secretas. De confiança.

Por isso mesmo, é melhor não xeretar o que cada um leva lá para dentro.

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