Voltaire de Souza

Crônicas da vida louca

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O erro não foi nosso

Instituto de pesquisa revê seus rumos depois de conferir a apuração das urnas

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Urnas. Números. Apurações.

O clima era pesado no Instituto de Pesquisas Prospekta.

—Cara, a gente errou tudo.

—Calma. Calma aí.

O diretor-gerente Rogério analisava os dados.

—No Amapá a gente acertou...

—Mais ou menos.

—Dentro da margem de erro.

O sócio dele se chamava Matthias.

—Com um T só, por favor.

Mathias.

Sua atitude era de pessimismo.

—A gente cravou Lula no primeiro turno.

Rogério respirava fundo.

—É só o retrato de um momento.

Mathias não controlou a impaciência.

—E quer saber o retrato agora? Do momento atual?

—Fala, Mathias. Pode falar.

—Estamos acabados, Rogério. Acabados.

—A gente já errou antes, Mathias. E nem por isso...

—Mas nunca desse jeito, Rogério.

—O que é que eu posso fazer? O povo brasileiro é imprevisível.

Mathias pôs o computador no modo descanso.

—Então, por isso mesmo, Rogério.

Ele estava quase gritando.

—Para quê que a gente serve então?

—Bom, a gente vê a tendência... o rumo da coisa.

Mathias já tinha tomado uma decisão radical.

—Fechar essa joça, Rogério. Antes que seja tarde.

O garçom Antenor apareceu com o balde de gelo.

—Posso servir o champanhe?

O rosto de Mathias ficou sombrio.

—Quantas garrafas a gente tem?

—Cerca de uma dúzia, dr. Mathias. Com alguma oscilação para mais ou para menos.

—Geladas?

—Trinta por cento geladas, as outras esperando o segundo turno.

—Muito bem. Deixa metade comigo.

Ele olhou para o sócio.

—Você fica com a outra metade. E a margem de erro vai aqui para o nosso Antenor.

Lágrimas vieram aos olhos de Rogério.

—Mathias. A gente ainda tem uma chance. Não pode desistir assim.

—Ah, é? Qual a sua sugestão?

—Você vai achar doidice...

—Fala, pô.

Rogério criou coragem.

—Estou com um relatório aqui... provas contundentes.

—Do quê?

—Fraude na urna eletrônica, Mathias. Processo totalmente inconfiável.

Mathias ficou pensando.

—É... pode ser mesmo.

—A gente contesta o resultado.

—E o instituto presta um novo serviço para a democracia.

O garçom Antenor foi saindo de fininho. Com uma sacola ecológica.

—Tinha mais nove garrafas. Mas eu acho que me confundi na hora de responder ao questionário.

Mathias e Rogério preparam um relatório detalhado.

—Sem margem de erro.

Eleições e números podem trazer surpresas.

Mas o importante é que as instituições democráticas não se abalam com pouca coisa.

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