Luta. Empenho. Mobilização.
As eleições chegam à reta final.
É o segundo turno.
Yandara estudava Psicologia na USP.
—O Bozo não pode ganhar.
Os amigos do whatsapp concordavam.
—Vamos, gente.
—Ganhar voto.
—Virada aqui em São Paulo também.
O convencimento do eleitor exige trabalho de formiguinha.
Yandara pegou alguns folhetos e adesivos.
—Vou procurar alguma faculdade particular para fazer propaganda.
As Faculdades Reunidas Professor Pintassilgo ficavam num extremo da Zona Oeste.
—Caramba... o pessoal aqui parece que nem está ligando para a eleição.
Educação Física. Fisioterapia. Direito. Turismo.
—Quantos cursos... por onde eu começo?
Um belo e atlético estudante se aproximou.
—Precisa de alguma coisa? Posso ajudar?
O nome dele era Glayson.
O agasalho roxo trazia dizeres indicando sua vocação.
—Artes Marciais.
Sorriso cativante. Músculos invejáveis. Gestos elásticos e elegantes.
—Será que é bolsonarista?
—Eu? Bom... sabe, andei meio na dúvida...
Yandara chegou mais perto.
Os ohos de Glayson se fixaram nos delicados traços da ativista.
—Sabe, estou pensando agora em votar no Lula.
—Verdade? Olha, tenho esses folhetos...
--Ah, não sei se tenho paciência de ler... hehe.
—Hihi. Mas eu podia te explicar o que está em jogo...
—Assim, aqui, de pé?
O papo rolou com mais fluência no Bar e Lanches Árabes El Mukif.
Glayson estava motorizado.
—Um Audi? Verdade, Glayson?
—Hehe, meu pai é empresário...
—Tem certeza que você não vai mesmo votar no Bolsonaro?
—Claro que não, Yandara... depois de tudo o que você falou...
O carrão fez um desvio. No rumo do Motel Passadinha.
Beijos. Afagos. Carícias.
Na hora de tirar a roupa, veio a decepção.
—Cueca verde e amarela, Glayson?
O rapaz tinha esquecido do detalhe.
—Lamentável.
O romance não sobreviveu ao atual clima de polarização política.
—Tchau. E deixa que eu chamo um uber.
Votos se viram.
Caras também.
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