Craques. Dribles. Cabeçadas.
É a Copa do Mundo.
Para uma jornalista iniciante, surge a oportunidade de brilhar.
A jovem repórter Giuliana Bugiardi tinha sido convidada.
—Até que eu gosto de futebol, mas...
Ela jogou os cabelos para trás.
—No Qatar... pode ser perigoso.
As mulheres têm pouca liberdade no rico país muçulmano.
—Fanatismo... vou ter andar de véu?
O xeique Al Xakh Hanaggi dava garantias.
—Só non podje sahir da línya.
Chicote. Pedrada. Xingamento.
—Vai que eu faço alguma coisa errada...
A direção da emissora foi persuasiva.
—Melhor ainda, Giuliana. Imagine a grande reportagem que isso pode dar.
Giuliana acabou aceitando a missão jornalística.
Roupas discretas. Véu de grife. Microfone na mão.
—Nossa... tem torcedor de todo lugar.
Gritos. Zabumbas. Cantorias.
—Estamos aqui na frente do estádio...
—Grufa, grufa, hompa, hompa...
—E os torcedores já mostram muita animação.
O calor era de torrar.
Giuliana conferia a aparência com o câmera.
—Estou suando muito, Ronival?
—Bunfa, bunfa, bonga, bonga...
A gritaria da torcida dificultava a comunicação.
Giuliana fez um gesto discreto.
—Preciso tirar o véu um pouquinho... para enxugar a testa.
A essa altura, Ronival já tinha abandonado o equipamento e corria como um desesperado.
—O que é que está acontecendo?
A multidão fanática se aproximava.
—Mulher desonesta.
—Bandida. Prostituta.
—Morte à infiel.
—Pedrada nela.
—Cadeia já.
—Mas... o que é isso? Só afastei o véu um pouquinho...
—Comuna. Não vem se fazer de santinha.
Não eram fundamentalistas muçulmanos.
Eram apoiadores do presidente Bolsonaro.
—Acaba com a emissora dessa safada.
—Intervenção federal já.
A intervenção acabou acontecendo.
Severa. Decisiva. Duríssima.
A cargo do policial islâmico Fashtou Hamakh Hakad.
—Brosileire... povinye fuanátike.
As regras do futebol devem ser respeitadas.
O problema é que o cartão vermelho nem sempre funciona.
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