Bola. Torcida. Empolgação.
É a Copa do Mundo.
Tempo de esquecer ódios e rivalidades políticas.
Christian deu um suspiro de alívio.
—Finalmente vou poder usar a camisa da Seleção.
A relíquia de 1992 estava bem guardada no armário.
—Até o Lula está usando.
Christian não suportava o presidente Bolsonaro.
—Palhaço. Imbecil.
No bar, os amigos concordavam.
—Mas vamos em frente, Christian.
—Agora é todo mundo unido.
—Na torcida.
O jogo começou num espírito de paz.
Christian olhou para a própria barriga.
—Engordei um pouco depois da pandemia...
A camisa canarinho apertava um pouco.
—Hf, hf... que calor.
—Toma mais uma, Christian.
O rapaz olhava para as outras mesas do bar.
—Olha a barba daquele ali. Parece o Fidel Castro.
—Pô, Christian. Presta atenção no jogo.
—Garçom mais babaca.
--Por quê?
—Usando máscara, pô. Boiolagem.
Um inédito brilho bolsonarista nascia nos olhos de Christian.
—Medo de gripinha, agora, é?
O garçom Novaes pediu calma.
—Calma coisa nenhuma. Seu comunista.
Alguns clientes pediam silêncio.
Entre eles, o espanhol Hernán.
--Por fabor... bamos a ber el juego.
--Venezuelano, é? Pois chegou a tua hora.
Do bolso de Christian saiu a surpresa indesejada.
Um 38 em bom estado.
—Brasil acima de tudo. E Deus acima de todos.
O tiro para o alto atraiu as atenções do PM Barreto.
Christian não se abalou.
—Vem comigo, soldado. Tá OK? Partir para a intervenção federal.
Foi só no intervalo que os amigos conseguiram uma volta à normalidade.
—Tira a camisa dele. Que o efeito desse troço é imprevisível.
O apoio ao presidente Bolsonaro declina.
Mas, numa frase de transição, as torcidas e cabeças se confundem.
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