Voltaire de Souza

Crônicas da vida louca

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Voltaire de Souza
Descrição de chapéu casamento

Falta o apito final

Nas promoções da Black Friday, é importante resistir aos impulsos de consumo

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Vendas. Ofertas. Promoções.

Mais uma vez, chega a Black Friday.

Arnon teclava no computador.

—Chuteira em oferta... beleza.

A mulher dele se chamava Marilu.

—Mas amor... você não joga bola faz quinze anos.

—Ué. Sempre é tempo de recomeçar.

Foi irônico o sorriso de Marilu.

—Para muita coisa, já perdi a esperança...

De fato.

Há muito tempo a rotina tinha apagado as chamas daquele matrimônio.

—Olha. Se comprar dois pares vem junto um agasalho da seleção.

Marilu olhava pela janela.

—Em vez de ficar nesse site, você devia ir no do Serasa.

As dívidas se acumulavam na contabilidade de Arnon.

—Caramba, Marilu. Como você é negativa.

—Negativa é a tua conta, Arnon.

O rapaz fechou com força a tampa do laptop.

—Em vez de ajudar, você só reclama.

Um passeio de carro pode, por vezes, ser relaxante.

O Corsa de Arnon encaminhou-se para a Marginal do Tietê.

—Aqui era o campo de Society... joguei muita bola aqui.

Ele estacionou para um momento de nostalgia.

Um cartaz promocional chamou sua atenção.

—Motel El Álamo. Na Black Friday, você desconta em dobro.

—Caramba. E eles ainda oferecem drinque grátis.

Arnon acionou o celular.

O aplicativo de encontros foi atualizado.

—Quem disse que eu pendurei as chuteiras?

A espetacular morena Gilvanka mostrou disponibilidade imediata.

—Só espera um pouquinho eu desviar do bloqueio aqui na estrada.

O bolsonarismo, por vezes, empata o amor extraconjugal.

A noite ia chegando de mansinho no estacionamento do Posto Parada do Limão.

Na suíte Pantaneira, Arnon e Gilvanka iniciaram animada palestra.

—Espera, meu gato. Vou vestir uma coisa mais confortável.

O drinque afrodisíaco tinha um delicado sabor de amendoim.

—Devia ter Black Friday toda semana... hm...

A cama redonda recebeu o baque de um pesado corpo masculino.

Arnon não se lembra do que aconteceu.

—Só sei que eu vi tudo preto...

Eram onze da manhã quando ele voltou para casa.

Sem carro, sem cartão e sem celular.

Marilu deu o aviso.

—Sua chuteira. Entregaram agorinha.

—E o agasalho?

—Tá junto.

Arnon promete uma vida com mais esporte e economia.

Marilu não responde.

—Sabe a seleção iraniana? Faço meu protesto calada.

Alguns casamentos são como os jogos da Copa do Mundo.

Por vezes, o tempo de acréscimo vai muito além do normal.

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