Ecologia. Meio ambiente. Preservação.
O mundo se preocupa. Lideranças se reúnem.
É a COP27.
Enquanto isso, reina o silêncio na Esplanada dos Ministérios.
O general Perácio não admitia visitantes.
Seu assessor era o tenente Guarany.
—Desculpe, general... mas a imprensa...
—Grrf.
—Precisamos desmentir alguns rumores.
—Quais?
—Que o senhor também vai morar em outro país.
O general fez cara séria.
—Abandonar o campo em plena batalha? Jamais.
A mão de granito tombou pesadamente sobre a mesa de jacarandá.
—O dever de um soldado é ficar no jogo.
—Os noventa minutos, né.
—E também o tempo da prorrogação.
—Dentro das quatro linhas.
—Exato, Guarany. Mas, apesar disso...
As feições severas de Perácio se desanuviaram um pouco.
—Uma viagenzinha poderia ser importante neste momento.
—Relaxar um pouco, né, general.
—Ajudando a representar bem o nosso país.
—O senhor diz... num encontro internacional?
—Sem dúvida. Levando ao mundo as cores da nossa pátria.
—Acabar com esses preconceitos, né, general.
—Claro. Essa patacoada de Amazônia.
Um novo estrondo abalou o tampo da mesa de trabalho.
—Dar um basta nessa boiolagem.
Guarany entendeu o recado.
—Posso providenciar o voo e as reservas do hotel?
—Corre, Guarany. Não há tempo a perder.
—É o Exército entrando de sola, general!
No final da tarde já estava tudo arranjado.
—Pode conferir as passagens, general...
—Egito? Que porcaria é essa?
—É onde fica a reunião, general.
—Mas que reunião, Guarany? Quem falou em reunião?
—Ué... essa da ecologia... a COP27.
Um terceiro e poderoso tapa fez estremecer a vidraça do gabinete.
—É a Copa, imbecil. A Copa do Mundo.
Guarany promete resolver o mal-entendido.
Perácio resmungava.
—Homem que é homem não vai em conferência de meio ambiente.
Até os soldados precisam de descanso.
Mas é como no vestiário.
Pode relaxar um pouco. Mas sem baixar a guarda jamais.
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