Preconceito. Ignorância. Confusão.
Acontece no Qatar.
Bandeira de Pernambuco é confundida com símbolo gay.
Um torcedor brasileiro passou por maus bocados.
Irá nosso governo tomar alguma atitude?
O pastor Avarildo tinha bons contatos internacionais.
—E aqui no Qatar o diálogo é mais rápido.
De fato.
Ele estava hospedado num dos mais luxuosos hotéis do país-sede da Copa do Mundo.
O Malaf-Haija Palace.
—Orando pelo sucesso da nossa Seleção.
A vida de luxo do pastor não o fazia esquecer de suas raízes pernambucanas.
—Faço questão de dissipar esse mal-entendido internacional.
Era preciso procurar representantes da Fifa.
—O pessoal já me ajudou muito.
Muita expertise com investimentos em paraísos fiscais.
O dirigente Herbert Kohupp era um conhecido cartola do futebol alemão.
O encontro foi num ambiente livre das rígidas leis muçulmanas.
Drinques. Drogas. Mulheres.
—Nem parece que eu estou no Qatar...
Avarildo seguiu um preceito bíblico.
—Vacas gordas primeiro. Vacas magras depois.
Ele já estava esquecendo o propósito da visita.
O sexto uísque trouxe uma visão aos olhos do pastor.
A carabina. O chapéu de couro. Os óculos redondos.
—Lampião?
—Cachaça é bom... mas não esquece do teu povo.
Avarildo limpou a garganta.
—Doutor Herbert, esse assunto da bandeira pernambucana.
—Hum.
—A gente podia resolver isso rapidinho... evitar esse tipo de incidente.
O dirigente pediu dez milhões de dólares para liberar a bandeira.
A proposta corrupta chocou o pastor Avarildo.
—Nunca. Isso não.
Veio a ideia salvadora.
—A gente muda a bandeira rapidinho.
Ele promete acionar o Exército e a bancada da Bíblia.
Duas carabinas. Uma caveira. Os óculos de Lampião.
—E nada de arco-íris. Nada de coisa gay.
Ele tem fé no seu projeto.
—Pernambuco não pode aceitar mais esse tipo de confusão.
Avarildo continua curtindo a temporada no Qatar.
Compras. Cassinos. Acompanhantes.
—Esses muçulmanos têm muito a ensinar para a gente.
Crenças e religiões podem dividir os povos.
Mas, no essencial, quem está por cima se entende.
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