Descrição de chapéu Homem na Lua, 50

Cientistas, artistas e políticos contam suas lembranças do pouso na Lua

Eventos como esse deixam marcas nas pessoas, que se lembram de onde estavam e o que faziam no momento

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Convidados do Museu de História Natural observam a volta dos astronautas em telão

Convidados do Museu de História Natural observam a volta dos astronautas em telão

São Paulo

​Quando um evento de magnitude histórica acontece as pessoas costumam ter na ponta da língua onde estavam,  o que faziam, quem lhes fazia companhia e o que sentiram naquele exato momento.  

A chegada do homem à Lua em 20 de julho de 1969, pináculo da corrida espacial empreendida durante a Guerra Fria entre EUA e União Soviética, é um desses eventos, talvez o maior para uma geração. E despertou toda sorte de reações entre aqueles que assistiram ao espetáculo, de maravilhamento a desconfiança.

A Folha reuniu depoimentos de personalidades de diversas áreas, como política, entretenimento e ciência, sobre como receberam a notícia de que o homem havia posto os pés em um novo mundo.

Ana Maria Braga, 70, apresentadora da Rede Globo
“Na época em que o homem  pisou na Lua, quem tinha televisão era a minha vizinha. A imagem era toda chuviscada, ninguém enxergava coisa nenhuma. E ninguém acreditou, simples assim. Que Lua, que nada, diziam, assim como tem muita gente hoje que ainda não acredita.”

Cid Moreira, 91, jornalista e apresentador da Rede Globo
“Fui contratado pela Globo em 5 de maio e em julho participei desse evento quando o homem pousou pela primeira vez na Lua. Quando o foguete foi lançado eu estava no estúdio da Globo. Nós todos que participamos do evento estávamos emocionados. Foi sensacional porque quando eu era garoto ia ao cinema para assistir aos filmes de Flash Gordon, que era isso: foguete e a vida em Marte. Eu sempre sonhando com isso, e de repente o homem pisou na lua. Foi sensacional.”

Contardo Calligaris, 71, psicanalista e escritor
“Eu tinha 21 anos, estava em Milão com a minha mulher. Eram as férias de verão da universidade que eu fazia em Genebra. O problema foi a espera entre o momento em que o módulo pousou e o momento da saída de Armstrong. A saída deve ter sido bem de madrugada no horário americano, não me lembro mais. Era uma coisa que não acabava nunca. Eu estava na cama com ela olhando a televisão em branco e preto. Em um dado momento acordamos e voltamos a dormir, acordamos e, de repente, ele desceu. Aquilo nos manteve acordados até a descida do segundo, cujo nome me esqueci —é quase sempre assim, o segundo a gente esquece. Achei que aquilo tinha uma qualidade erótica, então festejamos transando.”

Drauzio Varella, 76, médico e escritor
“Vi o pouso com casais de amigos, éramos sete ou oito pessoas, e eu fiquei muito emocionado. E era algo também assustador: colocar satélites em órbita, levar as pessoas para o espaço e depois descer na Lua. Havia uma grande expectativa nos dias anteriores, na imprensa, na rádio, na televisão, o tempo inteiro falando desse pouso. A expectativa era tanta que São Paulo parou. Lembro que não tinha ninguém na rua, estava todo mundo vendo televisão. E depois vieram as as reações. Era engraçado, muita gente dizia que era montagem, que não era verdade. Era a época da Guerra Fria, então as pessoas mais alinhadas à União Soviética achavam que aquilo não era possível, que tinha sido feito em estúdios de Hollywood.”

Geraldo Alckmin, 66, governador do estado de São Paulo entre 2001 e 2006 e entre 2011 e 2018 
“Eu era estudante, estava no ensino médio e me lembro bem do impacto que teve na escola, entre os jovens. O evento mostrou o grande avanço científico para se determinar e compreender a grandeza do Universo.”

Helena Nader, 71, biomédica e professora na Unifesp, ex-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
“Eu tinha 21 anos e era aluna de graduação no curso de ciências biomédicas da antiga Escola Paulista de Medicina, hoje Unifesp. O pouso na Lua marcou minha vida. Foi a prova de que a tenacidade e a determinação do ser humano podem ajudar a conquistar o que parece impossível. Olhando para trás, vejo o quanto aquilo inspirou minha vida como cientista.”

Ivair Gontijo, 59, físico, trabalha no laboratório Jet Propulsion Laboratory (JPL) da Nasa
“Eu estava jogando bola com amigos em frente à minha casa, na cidade de Moema, no centro-oeste de Minas Gerais. Meu irmão me chamou e disse que meu vizinho tinha comprado uma televisão. A sala do vizinho estava cheia de gente, meu irmão não me contava o que íamos ver. E foi assim que vimos Neil Armstrong pisar na Lua na primeira vez em que eu assisti à televisão. Foi uma coisa espetacular.”

João Doria, 61, governador do Estado de São Paulo 
“Eu tinha 11 anos e estava com meus pais no Rio de Janeiro, hospedado no hotel Excelsior, em Copacabana. Vi pela televisão, em preto e branco, e fiquei fascinado com a imagem do Neil Armstrong descendo a escada e colocando o pé na Lua. Nunca mais esqueci dessa cena.”

Marcelo Gleiser, 60, físico, escritor e professor no Dartmouth College (EUA)
“Eu tinha dez anos e estava na casa do meu tio, em Copacabana. A TV era em preto e branco, a maior que tinha na família. Sentamos eu e meus dois primos para assistirmos ao pouso e foi uma coisa transformadora. Era absolutamente inacreditável. Mesmo para uma criança de dez anos era inesquecível. A história de o homem ir à Lua mudou tudo e meio que endeusou um pouco a ciência americana. O pessoal mais liberal chamaria de imperialismo, mas não é. Foi um feito espetacular.”

Marina Silva, 61, ex-ministra do Meio Ambiente e política filiada à Rede
“Eu tinha 11 anos. Estava no seringal ainda [no Acre], morava com minha avó e com meu pai na palafita. A maioria das pessoas ali não estudavam. Éramos muito isolados, mas a informação chegava pelo rádio. Meu pai escutava a Voz do Brasil, a BBC de Londres. Minha avó ficava rezando o terço todo o tempo, dizendo que se o homem chegasse à Lua o mundo iria se acabar.  Meu pai estava tranquilo, ele dizia que não sabia como era que se fazia, mas sabia que era por um foguete e dizia: ‘O povo americano é danado, capaz que eles cheguem mesmo’. Eu vi pela primeira vez alguma imagem do homem pisando na Lua só por volta de 1974, quando eu fui para a cidade. Mas antes de ver imagens eu vi as fotos na revista Manchete. Meu pai me explicou sobre o capacete porque na Lua não tinha ar para respirar, me explicou sobre a roupa. A fotografia emprestava muita credibilidade para minha cabecinha.”

Regina Duarte, 72, atriz
“A história era muito excitante, todo mundo só falava nisso, era o assunto da semana. Eu estava ensaiando uma peça de Shakespeare, ‘Romeu e Julieta’, com Jô Soares, Heleno Prestes como Romeu e Renato Machado fazendo Mercúcio. Era uma montagem da Ruth Escobar e a gente interrompeu o ensaio para assistir à chegada. Foi um pouco angustiante porque demorou para caramba. Ele [Neil Armstrong] punha um pé no que seria o solo da Lua, e aquilo era uma poeira. E o pé dele afundava e voltava. A gente achava que ele podia ser tragado por aquele pó. Pessoalmente achei aquilo um absurdo. Eu tinha feito USP e estava muito influenciada, preocupada com a fome no mundo, na África, e falava: ‘Por que gastar tanto dinheiro para tirar fotografia na Lua?’. Mas o experimento deve ter trazido coisas importantes para a ciência, espero.”

Rosaly Lopes, 62, astrônoma, trabalha no laboratório Jet Propulsion Laboratory (JPL) da Nasa
“Eu lembro bem do pouso da Apollo 11. Eu tinha 12 anos e acompanhava a corrida à Lua entre americanos e russos. Me interessava muito por isso, tanto que acabei estudando astronomia e agora trabalho em um dos laboratórios da Nasa. No momento do pouso eu estava em um ônibus na Patagônia com minha família. Não vi pela TV, mas escutei pelo rádio de um homem no ônibus. Foi muito emocionante. Quando o ônibus parou e descemos, olhei para o céu, que estava lindo e estrelado, e pensei :‘Dois americanos estão caminhando na Lua neste momento’. Tudo sobre a ida à Lua era e ainda é muito fascinante para mim.”

Toquinho, 73, músico e compositor
“Enquanto Neil Armstrong dava seu primeiro passo na Lua, eu, com 23 anos, começava minha carreira fora do Brasil vasculhando a Itália por um caminho profissional. Olhava aquela cena inusitada e pensava: aqui na Terra restará sempre a ansiedade por um minuto mais denso e menos dolorido. A esperança de rever velhos amigos e refazer as horas enviesadas pelo tempo. A ilusão da perda que aprimora sem sofrimento, da saudade que liberta sem lágrima. E restará ainda a angústia que aprisiona os sentidos, a dúvida que pune sem razão. Mas restará a memória dos aromas inebriantes, dos gestos que perduram enlaçados. E restará acima de tudo a leveza dos dias que passam mansos e sem pressa. O vigor do momento a ser vivido como se fosse a semente ideal de um futuro melhor.”

Tostão, 72, ex-jogador de futebol e cronista esportivo
“Foi uma época de acontecimentos marcantes para mim. Primeiro, porque o pouso na Lua foi aquela emoção de ver essa coisa inacreditável que a gente, menino, ouvia falar. Eu vi na TV, na sala do hotel que estava com a seleção brasileira, junto com muitas pessoas. Foi inesquecível. Segundo, porque estava na Colômbia há mais de 20 dias treinando para o começo das eliminatórias da Copa de 1970. Foram duas datas marcantes, né? Porque teve o jogo também depois. Foi um jogo muito importante na minha carreira porque foi o primeiro das eliminatórias. O Brasil ganhou de dois a zero e eu fiz os dois gols. Tive uma contusão no supercílio, sai de campo, levei pontos, voltei e fiz o segundo gol. Foi marcante para mim.”

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