Descrição de chapéu dinossauro

A triste história de Dolly, 1º dinossauro com sinais de doença respiratória

Animal parecia sofrer de infecção fúngica parecida com aspergilose, doença comum e às vezes fatal para aves e répteis modernos

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Will Dunham
Washington | Reuters

Em uma paisagem quente e úmida do período Jurássico, cheia de vida vegetal e animal, no que é hoje o sudoeste de Montana, um dinossauro adolescente de pescoço comprido estava terrivelmente doente, com sintomas semelhantes aos de gripe e pneumonia, provavelmente com febre e cansado, com a respiração difícil, tosse, espirros e diarreia.

Cerca de 150 milhões de anos depois, os restos daquele animal, apelidado de Dolly, representam o primeiro dinossauro conhecido com evidências de doença respiratória —crescimento anormal de tecidos que parecem brócolis fossilizado em três ossos do pescoço, formados em reação a uma infecção nos sacos aéreos ligados a seus pulmões.

Cientistas disseram na última quinta-feira (10) que o dinossauro parecia sofrer de uma infecção fúngica parecida com aspergilose, doença respiratória comum e muitas vezes fatal para aves e répteis modernos, que às vezes causa infecção nos ossos. A condição pode ter matado Dolly, segundo eles.

Ilustração de dinossauro pescoçudo
Ilustração de como seria Dolly, dinossauro que sofreu com infecção respiratória - 11.fev.22 - Corbin Rainbolt/Nature/AFP

Os dinossauros sofriam de doenças como qualquer outro animal, mas há poucas evidências no registro fóssil porque os tecidos moles raramente são preservados em um processo de fossilização que favorece coisas duras como ossos, dentes e garras. Já foram encontrados em fósseis de dinossauro patologias como ossos quebrados e curados, abscessos nos dentes, infecções sanguíneas afetando os ossos, artrite e até câncer ósseo.

Dolly pertencia a uma espécie antes desconhecida de dinossauro saurópode, grupo vegetariano com pescoços compridos, longas caudas, cabeças pequenas e quatro pernas fortes, que incluíam os maiores animais terrestres da história da Terra.

Dolly, com cerca de 18 metros de comprimento e pesando talvez de 4 a 5 toneladas, morreu com 15 a 20 anos, segundo Cary Woodruff, diretor de paleontologia no Museu de Dinossauros das Grandes Planícies em Malta, em Montana, e principal autor do estudo publicado na revista Scientific Reports.

Saurópodes semelhantes geralmente atingiam a idade adulta com quase 30 anos.

"Pobre Dolly, ela provavelmente se sentiu muito mal com todos os sinais e sintomas de uma infecção respiratória inferior que nós também sofremos, como febre, peito fechado, respiração difícil e tosse com catarro... uh!", disse o anatomista e coautor do estudo Lawrence Witmer, do Colégio de Medicina Osteopática da Universidade de Ohio.

"Estaria Dolly tão doente que não conseguiu acompanhar a manada? Ela morreu dessa doença? Morreu sozinha? Sabemos que ela esteve doente por muito tempo —era uma doença crônica—, porque a teve por tempo suficiente para que seus ossos desenvolvessem um tecido reativo maligno", disse Witmer.

Não é raro que animais doentes não morram diretamente pela doença, mas sendo vítimas de predação ou fome, devido a seus efeitos debilitantes.

"Sim, como cientistas estamos entusiasmados e intrigados pela doença de Dolly, mas como humanos adoramos dinossauros e outros animais. Nossos corações ficam apertados quando pensamos como foram os últimos dias desse dinossauro doente, atordoado, talvez cercado por predadores ferozes como o Allosaurus", disse Witmer.

Fósseis de Allosaurus foram encontrados na mesma região.

Os restos de Dolly foram escavados em 1990 e 2013-2015. O nome científico da espécie de Dolly será revelado em um estudo futuro. O dinossauro parece um parente próximo do conhecido Diplodocus.

Os pesquisadores não sabem o gênero de Dolly, mas disseram que o dinossauro recebeu o nome de uma famosa cantora.

"De Dolly Parton, é claro", disse Woodruff.

O dilema de Dolly não apenas esclarece condições médicas no tempo profundo, como oferece percepção da estrutura anatômica dos pulmões e sacos aéreos dos dinossauros.

Os saurópodes e dinossauros carnívoros chamados terópodes, grupo que inclui aves, possuem tratos respiratórios muito mais elaborados que os mamíferos, incluindo os humanos. Além de pulmões, eles têm sacos aéreos finos em forma de balão que invadem a cavidade corporal e muitos ossos. Em Dolly, os crescimentos anormais nos ossos estavam presentes na conexão entre o tecido respiratório e os ossos de três vértebras, evidência de que a infecção tinha partido dos pulmões.

A aspergilose, causada pela inalação de esporos de um fungo, é a infecção respiratória mais comum hoje em aves, que evoluíram de terópodes emplumados jurássicos e são classificadas como um ramo dos dinossauros.

"Não conheci pessoalmente nenhum fóssil pelo qual eu tenha sentido tanta simpatia", disse Woodruff.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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