Polvo primitivo tinha ainda mais braços, mostra novo estudo

Fóssil de 328 milhões de anos indica que animal tinha dez tentáculos, em vez de oito; espécie foi batizada em homenagem a Joe Biden

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Will Dunham
Washington | Reuters

Para as cerca de 300 espécies conhecidas de polvos que habitam os oceanos do mundo, ter oito braços é uma característica definidora. Mas não foi assim que começou.

Cientistas disseram na terça-feira (8) que um fóssil desenterrado no centro de Montana (noroeste dos EUA) de uma espécie chamada Syllipsimopodi bideni representa o parente mais antigo conhecido dos polvos de hoje e possui dez braços, sendo dois duas vezes mais longos que os outros oito.

O fóssil, tão bem preservado que revela duas fileiras paralelas de ventosas em cada braço, data de cerca de 328 milhões de anos.

O Syllipsimopodi, com cerca de 12 centímetros de comprimento, tinha o corpo em forma de torpedo e a aparência de uma lula, embora não fosse estreitamente aparentado às lulas, que apareceram muito mais tarde. Também é a criatura mais antiga conhecida com ventosas, que permitem que os braços agarrem melhor as presas e outros objetos.

Reconstrução artística do polvo Syllipsimopodi bideni, cujo fóssil foi encontrado em Montana (EUA); ele tinha oito tentáculos curtos e dois mais longos
Reconstrução artística do polvo Syllipsimopodi bideni, cujo fóssil foi encontrado em Montana (EUA); ele tinha oito tentáculos curtos e dois mais longos - K. Whalen/Christopher Whalen/Handout via Reuters

"O fóssil muda muito nossa compreensão de como os polvos evoluíram, e indica que os primeiros membros do grupo se assemelhavam superficialmente a lulas", disse o paleontólogo Christopher Whalen, pós-doutorando do Museu Americano de História Natural em Nova York e da Universidade Yale e principal autor do estudo, publicado na revista Nature Communications.

Os corpos moles dos polvos normalmente não se prestam à fossilização, complicando o estudo da evolução do animal.

Os polvos, que variam do polvo pigmeu sugador de estrelas de 2,5 cm ao polvo gigante do Pacífico de 9 metros, são conhecidos por sua aparência sobrenatural, com cabeças bulbosas, olhos grandes e mandíbulas em forma de bico.

Eles são adeptos da camuflagem —mudam de cores e até de texturas para imitar o ambiente— e podem manobrar seus corpos para entrar em pequenas rachaduras e fendas. Eles também são capazes de usar ferramentas e resolver problemas.

"Os polvos são os invertebrados mais inteligentes, e estão entre os animais mais inteligentes em geral. É fascinante ver de onde esses animais únicos partiram evolutivamente", disse Whalen.

Imagem do fóssil do cefalópode Syllipsimopodi bideni, o parente mais antigo já encontrado dos polvos atuais
Imagem do fóssil do cefalópode Syllipsimopodi bideni, o parente mais antigo já encontrado dos polvos atuais - AMNH/S. Thurston/Handout via Reuters

O Syllipsimopodi se situa 82 milhões de anos antes da origem de um grupo chamado vampirópodos, que inclui os polvos atuais e a única espécie de lula vampira do mundo, um nome impróprio porque não é uma lula, mas sim um primo do polvo.

A própria palavra "polvo" em inglês, "octopus", significa oito pés. O Syllipsimopodi representa o único membro da linhagem de polvos com dez braços, o que significa que dois foram perdidos na evolução posterior.

Existem inúmeros exemplos semelhantes na história da vida na Terra, como a redução do número de dedos observada em dinossauros carnívoros ou cavalos.

As lulas vampiras de hoje têm oito braços e dois filamentos finos que os cientistas há muito consideram vestígios de antigos braços. Os polvos não têm esses filamentos vestigiais.

"O Syllipsimopodi é o primeiro fóssil a demonstrar que, sim, os vampirópodos possuíam ancestralmente dez braços, como havia sido previsto", disse Whalen.

Dois dos braços do Syllipsimopodi tinham cerca de 3,8 cm de comprimento, e os outros oito, a metade desse tamanho, configuração semelhante à de uma lula.

"A captura de presas é facilitada pelos dois tentáculos mais longos, com os oito braços mais curtos ajudando a manipular a presa e levá-la até o bico", disse o coautor do estudo Neil Landman, paleontólogo de invertebrados no Museu Americano de História Natural.

O Syllipsimopodi vivia nas águas quentes de uma baía tropical —Montana na época estava situada perto do Equador. Pode ter sido um predador de nível médio, comendo invertebrados menores.

Os polvos são cefalópodes, grupo de invertebrados marinhos que remonta a cerca de 530 milhões de anos e se distingue por ter braços ou tentáculos. Os cefalópodes hoje incluem lulas, chocos e náutilos.

O Syllipsimopodi viveu no período Carbonífero, época de importantes mudanças evolutivas em outras formas de vida marinha que incluíram o aparecimento de peixes de aparência mais moderna.

Syllipsimopodi significa "pé preênsil" —seus braços são uma modificação evolutiva do pé dos moluscos— e bideni homenageia o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que acabara de ser empossado quando o estudo foi submetido à publicação.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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