Descrição de chapéu dinossauro

Fóssil escocês de réptil voador deixa cientistas 'boquiabertos'

Cientistas descobrem esqueleto de pterossauro em ilha na Escócia

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Will Dunham
Reuters

O fóssil de uma mandíbula que aflorava à superfície em uma região de pedra calcária na costa da ilha de Skye, Escócia, levou cientistas a descobrir o esqueleto de um pterossauro, o que prova que esses notáveis répteis voadores cresceram dezenas de milhões de anos mais cedo do que se imaginava anteriormente.

Pesquisadores anunciaram na terça-feira (22) que o pterossauro em questão, batizado Dearc sgiathanac, viveu cerca de 170 milhões de anos atrás durante o período jurássico, voando sobre as lagunas em uma paisagem subtropical e apanhando peixes e lulas com seus dentes serrilhados, perfeitos para segurar presas escorregadias.

Pesquisadores carregam parte do fóssil de um réptil voador do período jurássico
Pesquisadores carregam parte do fóssil de um réptil voador do período jurássico recém-identificado encontrado em uma praia rochosa na Ilha de Skye, na Escócia; foto tirada em maio de 2017 - Shasta Marrero/Handout via Reuters

O nome científico, cuja pronúncia é "djárk esqui-an-ach" significa "réptil alado" em gaélico.

Com envergadura de cerca de 2,5 metros, o Dearc é o maior pterossauro conhecido do período jurássico, e a maior criatura voadora que já tinha existido no planeta até aquele momento. Alguns pterossauros atingiram dimensões ainda maiores no período cretáceo, subsequente, quando chegaram a ter o tamanho de jatos de caça. Mas o Dearc mostra que esse avanço de porte teve origens muito anteriores às imaginadas.

Uma análise forense de seus ossos indica que esse exemplar específico de Dearc ainda estava em crescimento e poderia ter atingido uma envergadura de três metros como adulto.

O Dearc tinha um peso muito pequeno —possivelmente inferior a 10 quilos— graças a seus ossos ocos e leves e estrutura esguia, disse Natalia Jagielska, doutoranda em paleontologia na Universidade de Edimburgo e principal autora do relatório publicado pela revista científica Current Biology.

O animal tinha um crânio alongado e uma cauda longa e rígida. Um arsenal de dentes aguçados formava uma jaula quando eles se cerravam sobre uma presa.

Os pterossauros, que viviam em companhia dos dinossauros, foram o primeiro dos três grupos de vertebrados a obter capacidade de voo propelido, 230 milhões de anos atrás. Os pássaros apareceram cerca de 150 milhões de anos atrás, e os morcegos cerca de 50 milhões de anos atrás.

Os pterossauros estão entre os vertebrados mais raros no registro fóssil, em função da fragilidade de seus ossos, que em alguns casos têm paredes mais finas que uma folha de papel.


"Nosso espécime é uma anomalia por estar bem preservado —retendo suas três dimensões originais e estando quase completo, e ainda articulado como teria sido quando vivo. Esse estado de preservação é excepcionalmente raro nos pterossauros", disse Jagielska.

Até o momento em que o Dearc viveu, os pterossauros eram em geral modestos em termos de porte, e muitos deles não excediam o tamanho de uma gaivota. A opinião prevalecente entre os cientistas era de que os pterossauros não chegaram ao tamanho do Dearc até o cretáceo, cerca de 25 milhões de anos mais tarde, com a aparição de criaturas como o Huanhepterus, Feilongus e Elanodactylus. O Quetzalcoatlus, que apareceu cerca de 68 milhões de anos atrás, tinha uma envergadura de cerca de 11 metros, semelhante à de um caça F-16.

"No cretáceo, alguns pterossauros se tornaram enormes. Foram alguns dos animais mais superlativos que já existiram. O Dearc não chegava perto deles em termos de tamanho ou grandeza, mas surgiu 100 milhões de anos mais cedo. A evolução precisava de tempo para produzir gigantes como esses", disse Steve Brusatte, paleontologista da Universidade de Edimburgo e coautor do estudo.

"Uma ideia é que os pterossauros só cresceram depois que os pássaros evoluíram, quando os dois grupos estavam competindo um contra o outro por nichos aéreos. Mas o Dearc nos diz que os pterossauros já atingiam o tamanho dos maiores pássaros atuais antes mesmo que os primeiros pássaros evoluíssem, o que nega aquela hipótese", acrescentou Brusatte.

Na época do Dearc, o Reino Unido ficava mais perto do Equador, e existia como uma série de ilhas separadas. O Dearc vivia em companhia de uma série de dinossauros carnívoros e herbívoros, mamíferos primitivos e répteis marinhos.

O Dearc foi descoberto em 2017. O fóssil se projetava de uma zona de pedra calcária no perímetro da maré, e era visível na maré baixa.

"Ficamos boquiabertos", disse Brusatte. "Nada parecido tinha sido encontrado na Escócia até então".
Eles lutaram contra a maré, usando primeiro martelos e formões e mais tarde serras com pontas de diamante. Mas a maré interrompeu o trabalho antes que o fóssil pudesse ser extraído.

"A maré chegou com força, e choramos quando vimos as ondas recobrindo o fóssil. Achamos que o tínhamos perdido", disse Brusatte. "Mas decidimos voltar ao lugar à meia-noite, com lâmpadas e lanternas. Ficamos chocados mas felizes ao descobrir que os ossos continuavam lá quando as ondas recuaram".

Tradução de Paulo Migliacci.

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