Um rover do tamanho de um Jeep Wrangler vai para a Lua. E vai precisar de um veículo ainda maior para levá-lo até lá.
A Astrolab Inc., a pequena startup que está construindo o rover, escolheu o maior veículo possível para levá-lo até a Lua: Starship, a nova e gigantesca nave espacial que está sendo desenvolvida pela SpaceX, empresa de foguetes pertencente a Elon Musk.
A Astrolab anunciou na sexta-feira (31) que fechou um acordo com a SpaceX para que seu Rover Flexível de Logística e Exploração, ou Flex, seja transportado numa missão de carga da Starship que vai decolar sem tripulantes possivelmente já em meados de 2026.
"Este é o primeiro contrato comercial de carga para a superfície lunar", disse Jaret Matthews, fundador e diretor executivo da Astrolab.
A SpaceX, que não respondeu a pedidos de comentário, ainda não anunciou que está planejando esta missão comercial da Starship para a superfície da Lua, com destino à região polar sul. Segundo Matthews, a Astrolab será apenas um entre os clientes que vão dividir o volumoso compartimento de carga da Starship na missão.
Engenheiro que trabalhou anteriormente para a SpaceX e para o Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, Matthews fundou a Astrolab menos de quatro anos atrás. Situada a pequena distância da sede da SpaceX, em Hawthorne, Califórnia (EUA), a empresa tem 20 profissionais que trabalham para ela em tempo integral, ele disse.
Embora a União Soviética nos anos 1970 e a China mais recentemente tenham enviado rovers robóticos à Lua, os Estados Unidos ainda não o fizeram. (Mas a Nasa mandou um veículo à Lua —o "buggy lunar" conduzido pelos astronautas das missões Apollo 15, 16 e 17).
Em 2024 a Nasa vai mandar seu Volatiles Investigating Polar Exploration Rover, ou Viper, que deve procurar gelo aquático na região polar sul da Lua. Essa é a área que os astronautas vão explorar nos próximos anos dentro do programa Artemis da Nasa.
Diferentemente disso, a viagem à Lua planejada pela Astrolab é, pelo menos até agora, uma missão exclusivamente comercial, que não conta com verbas da Nasa.
Matthews se negou a dizer quanto vai custar enviar o Flex à Lua ou quanto dinheiro a Astrolab levantou. Disse que a Astrolab vai ganhar dinheiro levando cargas até a superfície lunar para clientes. Essas cargas podem incluir instrumentos científicos. Futuramente é possível que o rover ajude a construir infraestrutura lunar.
"Essencialmente, ele vai oferecer o que eu gosto de descrever como a mobilidade de último quilômetro na Lua", disse Matthews. "Como se fosse uma UPS na Lua. Nessa analogia, a Starship é o navio que atravessa o mar carregado de contêineres, e nós somos a solução de distribuição local."
Um braço robótico do rover pode ajudar a colocar a carga na superfície. O rover com toda sua carga pesará mais que duas toneladas métricas. O rover Flex é um pouco maior que o rover Perseverance da Nasa em Marte e muito mais veloz, com velocidade máxima de 24 km/h.
Matthews disse que a Astrolab já tem vários acordos firmados para transporte de cargas.
Isso parece fazer parte do mercado potencial crescente da Starship. A SpaceX pretende usar a nave para lançar sua segunda geração de satélites de comunicação Starlink. Dois voos previstos para passar ao largo da Lua (mas não pousar) já foram fretados por turistas espaciais. O sonho de longo prazo de Musk é contar com uma frota de Starships para levar colonos a Marte.
Para a Nasa, a Starship é o que seus astronautas usarão para pousar na Lua na missão Artemis 3, programada atualmente para 2025. Antes disso, a SpaceX deve realizar um voo não tripulado para demonstrar a capacidade da nave de chegar até a Lua e pousar sem percalços.
Se os cronogramas forem mantidos, a missão comercial de carga levando o rover da Astrolab pode partir no ano seguinte.
A Astrolab espera que um rover Flex posterior possa lhe valer contratos comerciais futuros com a Nasa, que está recorrendo a empresas comerciais para se equipar com veículos para o deslocamento de astronautas na superfície lunar —essencialmente, uma versão do século 21 do buggy lunar das missões Apollo. A expectativa é que empresas muito maiores como Northrop Grumman e Lockheed Martin também compitam pelo contrato.
Chris Hadfield, astronauta canadense aposentado que assessora a Astrolab, ajudou com alguns testes em campo de um protótipo do rover Flex para passageiros feitos na região do Vale da Morte, na Califórnia. "Portanto, não é apenas um conceito muito bacana. O rover já é um veículo que foi fortemente testado", ele disse.
A empresa tem visões ainda mais grandiosas para o futuro mais distante. "Em última análise nossa meta é ter uma frota de rovers na Lua e em Marte", disse Matthews. "E acho que realmente enxergo esses veículos como os catalisadores da economia extraterrestre."
Tradução de Clara Allain
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