Nasa anuncia tripulação para ir à Lua em 2024; são três homens e uma mulher

Equipe inclui um homem negro e um canadense, em contraste com as missões Apollo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A Nasa revelou nesta segunda-feira (3) o nome dos quatro astronautas, três homens e uma mulher, que devem se tornar os primeiros seres humanos a viajar até as imediações da Lua no século 21.

Para comandar a missão Artemis 2 foi escalado Reid Wiseman, 47, engenheiro de sistemas, piloto de provas e veterano de uma missão de longa duração à ISS (Estação Espacial Internacional), em 2014.

O piloto escolhido foi Victor Glover, 46, engenheiro de sistemas com experiência como oficial da Marinha americana e veterano de uma missão de longa duração à ISS –entre 2020 e 2021, no segundo voo tripulado da cápsula Crew Dragon, da SpaceX.

Completam o quarteto os especialistas de missão, Christina Koch, 44, e Jeremy Hansen, 47, o único não americano.

Christina é mestre em engenharia elétrica e veterana de uma expedição de longa duração à ISS (entre 2019 e 2020, quando bateu o recorde de maior estadia contínua de uma mulher no espaço).

Hansen, saído das Forças Armadas canadenses e com mestrado em física, é o primeiro canadense elencado para deixar a órbita terrestre e o único do grupo a não ter ido ao espaço até o momento.

Da esquerda para a direita, os astronautas Jeremy Hansen, Victor Glover, Reid Wiseman e Christina Hammock Koch; eles farão parte da tripulação da missão Artemis 2 e foram apresentados nesta segunda (3) em Houston, no Texas
Da esquerda para a direita, os astronautas Jeremy Hansen, Victor Glover, Reid Wiseman e Christina Hammock Koch; eles farão parte da tripulação da missão Artemis 2 e foram apresentados nesta segunda (3) em Houston, no Texas - Mark Felix/AFP

É uma tripulação diferente das que conduziram as missões lunares Apollo, nos anos 1960 e 1970. Todos eram homens, americanos e brancos. O novo grupo tem uma mulher branca e um homem negro, ambos americanos, e um homem canadense –contraste com o século passado na valorização da diversidade e de parcerias internacionais. A CSA (Agência Espacial Canadense) faz parte do programa Artemis e deve fornecer um braço robótico para a futura estação orbital lunar Gateway, que deve começar a ser construída a partir da missão Artemis 4 (esperada para 2028).

Pela primeira vez, devem voar quatro pessoas de uma vez só à Lua. As missões Apollo comportavam apenas três. Entre 1968 e 1972, 24 humanos deixaram a órbita da Terra, e 12 chegaram a caminhar sobre a Lua. Desde então, ninguém voltou a repetir qualquer dessas façanhas.

Mulheres no espaço

A participação feminina em voos espaciais vem aumentando paulatinamente, movida principalmente por americanos e europeus. É verdade que a primeira mulher a ir ao espaço foi a russa Valentina Tereshkova, em 1963, mas meio que só para assegurar a primazia. Os russos pouco voam mulheres, e a primeira russa a ir à ISS, Anna Kikina, decolou em outubro do ano passado.

Os americanos, por sua vez, demoraram mais a introduzir mulheres no voo espacial, porém passaram a fazer com frequência cada vez maior. A primeira foi Sally Ride, em 1983, num ônibus espacial. Mas desde então esse número cresceu significativamente. Hoje, mais de 70 mulheres (de pouco mais de 400 astronautas) já foram ao espaço. Atualmente, o grupo de astronautas da Nasa tem 41 membros na ativa, 16 dos quais (39%) mulheres.

Um exemplo eloquente, ainda que triste, da integração feminina no programa dos ônibus espaciais americanos é que nos dois acidentes fatais havia mulheres: Judith Reznik e Christa McAuliffe, no Challenger (1986), e Kalpana Chawla e Laurel Clark, no Columbia (2003).

À LUA E DE VOLTA

A missão Artemis 2, neste momento marcada para dezembro de 2024, fará o primeiro voo tripulado do programa.

Sua predecessora, Artemis 1, voou entre 16 de novembro e 11 de dezembro do ano passado, realizando o primeiro teste bem-sucedido conjunto do foguete lunar SLS (sigla inglesa para Sistema de Lançamento Espacial) e da cápsula Orion (desenvolvida em cooperação pela Nasa e pela ESA, sua contraparte europeia). Foram ao todo 25 dias e meio de voo, mas sem tripulação.

A ideia era testar ao máximo os sistemas com uma missão de longa duração antes de colocar humanos a bordo. Para a Artemis 2, o plano de voo é diferente e mais modesto. Serão cerca de dez dias de duração, no que, ao final, será uma trajetória de retorno livre –significa dizer que, ao ser colocada a caminho da Lua, a espaçonave não precisará de propulsão extra para retornar à Terra.

É uma medida de segurança razoável, adotada também durante as primeiras missões Apollo, para garantir o retorno da tripulação mesmo em caso de falhas no caminho.

A diferença é que, nos voos do século passado, a espaçonave enfim era inserida em órbita da Lua e, com isso, deixava a trajetória de retorno livre, requerendo nova queima do motor para se colocar uma vez mais a caminho da Terra. Isso não acontecerá na Artemis 2; a cápsula fará apenas o contorno da Lua, a uma distância considerável (cerca de 10 mil km), e já estará na rota de retorno, realizando um trajeto similar a um oito.

A partida também será consideravelmente diferente das missões Apollo (e da Artemis 1). Após o lançamento, os astronautas darão duas voltas em torno da Terra. A primeira órbita será uma elipse com apogeu de cerca de 2.900 km e período de cerca de 90 minutos. Para a segunda, o segundo estágio do SLS elevará a altitude máxima para 74 mil km, numa órbita que durará 23,5 horas, antes de se separar da cápsula.

A Orion então usará seus manobradores para realizar aproximações do estágio, testando os sistemas que serão requeridos para futuros encontros e acoplagens no espaço. Depois disso, usará seu motor principal para dar um empurrão final para longe da Terra –a injeção translunar. A gravidade da Lua e da Terra farão o resto. O trajeto até a Lua será de quatro dias, e outros quatro serão requeridos para o retorno, totalizando dez dias de missão.

MUITO EM POUCAS MISSÕES

Pode até parecer uma realização modesta, dado que, em dezembro de 1968, a Apollo 8 se inseriu em órbita lunar baixa logo na primeira viagem até lá. Mas vale destacar que a Artemis 2 deve bater os recordes de veículo tripulado a ir mais longe da Terra (Apollo 13, 1970, 400.171 km) e de reentrada mais rápida na atmosfera (Apollo 10, 1969, 39.897 km/h).

Também cabe lembrar que SLS e Orion são veículos inteiramente novos, que ainda precisam ser testados em todas as suas funções. E, no fim das contas, o que a agência espera realizar com apenas três missões (Artemis 1, 2 e 3) o programa Apollo executou com seis (voaram com o foguete lunar Saturn V as missões não tripuladas Apollo 4 e 6, e as tripuladas 8, 9, 10 e 11, até o primeiro pouso). Isso sem contar voos-teste que não tiveram tripulação ou que não usaram o Saturn V, como a Apollo 7 (tripulada, mas em órbita terrestre).

Caso seja concluído com sucesso, o voo marcado para o fim do ano que vem pavimenta o caminho para a Artemis 3, que, pelos planos da Nasa, deve realizar a primeira alunissagem tripulada do século 21. Por enquanto, a agência espacial americana mantém o cronograma de tentar realizar essa missão de pouso na superfície da Lua ainda em 2025, mas é bem provável que escape para 2026 ou mesmo 2027.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.