Descrição de chapéu dinossauro

Como dinossauros pescoçudos se tornaram os maiores animais já existentes na Terra

Diferentes linhagens atingiram tamanho máximo 36 vezes na história evolutiva do grupo

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São Paulo

Os dinossauros saurópodes viveram entre o período Triássico e o final do Cretáceo, de 247 a 66 milhões de anos atrás, e foram os maiores animais já existentes na Terra.

Alguns deles, como o Argentinosaurus, chegaram a quase 40 metros de comprimento e até 110 toneladas, gigantes perto do maior animal terrestre que existe hoje, o elefante africano (com 3 metros de altura e pesando cerca de 6 toneladas um macho adulto).

Compreender como representantes desse grupo chegaram a tais dimensões, porém, não é uma tarefa fácil. Ao mesmo tempo que muitos dos organismos eram gigantes, o chamado nanismo —tamanho do corpo reduzido— também evoluiu diversas vezes no grupo conhecido como Sauropoda.

O dinossauro pescoçudo Baurutitan britoi, encontrado em Uberaba, em Minas Gerais
O dinossauro pescoçudo Baurutitan britoi, encontrado em Uberaba, em Minas Gerais - Julio Lacerda - Editora Peirópolis/Divulgação

Um estudo publicado nesta segunda-feira (8) na revista científica Current Biology revelou que o gigantismo dos dinossauros pescoçudos evoluiu independentemente (isto é, em linhagens não aparentadas entre si) pelo menos 36 vezes na história evolutiva do grupo.

A pesquisa traz assim uma nova compreensão da evolução do gigantismo no grupo, que antes era considerado como um fenômeno restrito a alguns poucos clados (ou linhagens).

O estudo foi conduzido por Michael D’Emic, paleontólogo e professor associado da Universidade Adelphi, em Nova York. A partir da análise das dimensões dos ossos longos de mais de 200 fósseis, ele constatou que o tamanho médio do grupo era cerca de 11,7 toneladas métricas (cerca de 12 mil quilogramas), ou menos da metade do atingido pelos maiores mamíferos que já existiram (agora extintos). Tal peso equivale, ainda, a um sexto do observado no maior saurópode já descrito, o Argentinosaurus.

Porém, ao longo de cerca de cem milhões de sua história evolutiva, o tamanho dos dinossauros pescoçudos atingiu proporções muito acima daquela observada para as linhagens de mamíferos terrestres (como hipopótamos e elefantes).

Origem do gigantismo

O gigantismo surgiu duas vezes nos chamados dinossauros não neosaurópodes (linhagem mais recente dos saurópodes); duas vezes no grupo conhecido como Turiasauria; sete vezes nos dinossauros Diplodoicodea (como o Diplodocus, do Jurássico dos Estados Unidos); 25 vezes no grupo chamado Macronaria (incluindo os braquiossauros); e 15 vezes nos chamados titanossauros (que inclui representantes também encontrados no Brasil).

De acordo com D’Emic, os dinossauros pescoçudos podem ter atingido o tamanho máximo observado em um número muito maior do que o imaginado anteriormente, abrindo assim uma possibilidade de investigação sobre quais os mecanismos envolvidos nesses tamanhos gigantes.

"O peso de um animal aumenta em uma potência cúbica, mas o diâmetro calculado ao fazer um corte nos ossos aumenta em uma potência quadrada. Isso significa que os ossos teriam que ficar muito mais espessos para aguentar o peso em crescimento contínuo nas novas linhagens, mas há um limite de quão espesso um osso pode ser", afirma.

Algumas pesquisas, incluindo com fósseis encontrados no Brasil, já reveleram que nos dinossauros pescoçudos de tamanhos excepcionais os ossos eram pneumáticos, isto é, continham sacos aéreos em seu interior, semelhante ao observado nas aves e nos pterossauros —que também atingiram tamanhos elevados e precisavam se manter no voo.

"Cada um dos eventos [evolutivos] que levaram os saurópodes a atingirem os maiores tamanhos corporais já existentes foram únicos, porque as espécies diferem muito quanto aos seus habitats, dietas, taxa de crescimento e proporções do corpo. Não há um conjunto único de fatores que favoreceram tal tamanho de corpo, incluindo aqueles ambientais, que pudesse explicar o curso evolutivo", disse o pesquisador.

O paleontólogo, porém, ressalta que é possível que alguns tamanhos tenham sido limitados em ambientes com menos recursos energéticos que outros. "Metabolicamente falando, alguns saurópodes teriam que passar 24 horas por dia se alimentando para conseguir obter o consumo calórico necessário para o seu crescimento. Então há ainda algumas limitações que precisamos entender melhor", afirma.

O que falta entender

Pesquisas que avancem sobre o conhecimento de como esses animais se desenvolveram devem seguir, como por exemplo com a análise em microscópio de lâminas histológicas (tecido) dos ossos dos dinossauros. "Como as lâminas são um fragmento muito pequeno do osso que é muito maior, é difícil fazer essa compreensão do todo, porque para estudar o organismo completo seriam necessários anos de pesquisa. Mas as novas tecnologias podem auxiliar nesse estudo", concluiu.

Para o paleontólogo e doutorando no Laboratório de Paleontologia do Museu de Zoologia da USP Bruno Navarro, o estudo é notável ao concentrar uma quantidade jamais vista de fósseis em um conjunto de dados para avaliar os padrões evolutivos dos saurópodes. "O principal resultado da pesquisa é identificar como os 36 eventos de gigantismo ocorreram, distribuídos em várias linhagens, mas também ele mostra que os dados podem ser utilizados para inferir, por exemplo, os efeitos de temperatura, disponibilidade de oxigênio e recursos no tamanho corporal máximo desses dinossauros", explica.

De acordo com ele, o chamado "bauplan" (plano corporal, que seria o conjunto de características morfológicas que definem o corpo de um saurópode) foi muito efetivo. "O tamanho médio considerado de aproximadamente 15 toneladas seria o estado ancestral encontrado em muitas dessas linhagens que conseguiram ultrapassar e atingir tamanhos ainda maiores, e isso também foi de certa forma limitado pelo chamado ‘rifteamento continental’, que separou os continentes no período Mesozoico", afirma.

Os dinossauros pescoçudos gigantes são conhecidos de todos os continentes exceto a Antártida e a Índia, provavelmente relacionado a um viés tafonômico (processos ocorridos após a morte que impedem a preservação), explica Navarro. "Na Antártida, o único registro conhecido é uma vértebra com estado de conservação ruim, não sendo possível assim identificar o fóssil, e na Índia as espécies descritas têm um tamanho mediano."

Erramos: o texto foi alterado

Os dinossauros saurópodes viveram entre o período Triássico e o Cretáceo, e não entre o Jurássico e o Cretáceo. 

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