Crianças sonham com carreira na ciência, mesmo sem influência das famílias

'Eu gosto muito do espaço desde que sou bebê', diz menino de 9 anos

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São Paulo

Daniel, 9, morador de São Paulo (capital). Igor, 9, é natural de Sobral, no Ceará. Maria Clara, 11, vive com os pais em Campinas (SP). Marlene, 10, vive também em Sobral.

Apesar de morarem bem longe, todos eles têm uma coisa em comum: são apaixonados por ciência.

O gosto por tudo aquilo que envolve as ciências e como as coisas funcionam veio deles próprios, sem influência direta de pais ou irmãos.

"Eu gosto muito da ciência do espaço desde que sou bebê", conta Daniel G., fascinado com os frascos contendo animais estranhos em álcool e esqueletos na sala de visita do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, no Ipiranga.

Os chimpanzés (Pan troglodytes) são os primatas mais próximos dos humanos. O crânio de um chimpanzé é parecido com o nosso, com algumas diferenças no focinho (mais alongado nos chimpanzés) e ossos da face - Karime Xavier/Folhapress

Os pais Gabriel Arthur Galdini Carvalho, geógrafo, e Daniele Galdini Carvalho, biomédica, dizem que ele gosta muito de olhar as estrelas e os planetas desde os 3 anos. "Ele queria descobrir o planeta número nove do sistema solar", explica o pai.

"O planeta ainda não foi descoberto, e eu quero descobrir através de estudos", fala Daniel. "E ele vai se chamar Tártaro, que é o lugar mais escuro do mundo de Hades [na mitologia grega, o deus dos mortos]", exclama.

Para descobrir novos planetas, Daniel quer estudar física ou astronomia. Assim, quando ele for maior, pode fazer cálculos e buscar onde estariam novos corpos celestes, como os planetas.

Já em Sobral, a 330 quilômetros de Fortaleza, no Ceará, Igor F. S. F. se empolga ao contar que adora fazer experimentos de química. "Você conhece o experimento da pasta de dente de elefante?", indaga o menino (não, a repórter não conhecia).

Igor explica que viu em um canal como fazer uma espécie de pasta usando peróxido de hidrogênio (água oxigenada), fermento químico (ou bicarbonato de sódio), água e detergente. "A reação com espuma é muito legal, e eu vi que é uma quantidade suficiente para escovar um dente de elefante!", conta ele.

Apesar de não ser muito chegado em física, Igor lembra que ganhou no ano passado a medalha de ouro da Olimpíada Brasileira de Astronomia na sua sala —só ele e outra menina levaram o prêmio. "Mas o que eu quero é ser biólogo quando crescer, para estudar as plantas e os animais."

Ser biólogo significa estudar a vida, algo que envolve todas as coisas vivas que existem no planeta, como por exemplo as plantas e os animais, mas também os fungos e as bactérias.

A biologia também ajuda a gente a compreender como nos relacionamos com a natureza e com as outras espécies. "A Terra surgiu no Big Bang [grande explosão que deu origem ao sistema solar e às galáxias], aí formou a água, depois esfriou, passou alguns milhões de anos, vieram os dinossauros, e depois mais alguns milhões de anos até que a terra ficou boa para a gente viver", explica Igor sobre a evolução da vida no nosso planeta.

A biologia também estuda o nosso organismo e as doenças. "É por isso que eu gosto da biologia, é a área que mais me fascina", conta Marlene Pacheco, uma futura cientista que gosta de estudar os sistemas do corpo humano. Os pais de Marlene não têm formação em ciência, mas incentivam a filha, que quer também estudar astronomia. "Ainda não me decidi."

A astronomia é uma das áreas da ciência que mais têm aumentado a participação das meninas, mas ela ainda é muito mais procurada por meninos.

Aliás, você sabia que existe uma diferença nas preferências de meninos e meninas por ciência, mas isso é porque a nossa sociedade entende que existem áreas mais fortes para homens e outras para mulheres? (mesmo diversos estudos mostrando que isso não é bem assim).

As mulheres são hoje mais da metade de todas os cientistas formados no mundo, mas menos de um terço delas consegue ser chefe em universidades e departamentos.

Pensando nisso, a Unesco (que é o grupo das Nações Unidas que atua sobre educação, cultura e ciência) celebra em 11 de fevereiro o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, para ajudar mais meninas a se interessarem por ciência e diminuir as diferenças entre meninos e meninas na ciência.

Maria Clara S. I. vive com os pais em Campinas e participou no ano passado do projeto Meninas SuperCientistas. Essa foi uma iniciativa bem legal da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) que organizou oficinas, atividades e palestras com mulheres cientistas para 50 meninas do ensino fundamental. O objetivo é incentivar as meninas a seguirem a carreira científica.

"Eu gostei muito de ter participado, foi uma honra, porque eu já gostava de ciência, mas as palestras foram muito interativas, a gente fazia várias perguntas e elas respondiam", conta Maria Clara.

A experiência a fez conhecer Sônia Guimarães, uma das primeiras mulheres a estudar física no Brasil e professora do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). "Eu não sei o que quero ser ainda, às vezes penso em fazer medicina, mas eu também me interesso muito pelos planetas", disse Maria Clara, que quer estudar na Unicamp quando crescer.

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