Rússia volta a lançar missão lunar após 47 anos

Em meio à Guerra da Ucrânia, país disputa com Índia para chegar ao polo sul da Lua

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Reuters e AFP

A Rússia lançou na noite desta quinta-feira (11) sua primeira missão lunar após 47 anos. O módulo Luna-25 partiu da base espacial de Vostochni, no extremo leste do país (às 2h10 desta sexta-feira no horário de Moscou), segundo imagens transmitidas ao vivo pela agência espacial Roscosmos.

Ao mesmo tempo em que está empenhada na Guerra da Ucrânia, a Rússia também corre contra a Índia para chegar ao polo sul da Lua, uma potencial fonte de água para sustentar uma futura presença humana no satélite natural da Terra.

Lançamento do foguete Soyuz na base espacial de Vostochni, no extremo leste da Rússia
Lançamento do foguete Soyuz na base espacial de Vostochni, no extremo leste da Rússia - Roscosmos/AFP

A missão é a primeira à Lua desde 1976, uma época em que a então União Soviética estava na vanguarda da conquista espacial. Mas, desde o fim da URSS, Moscou enfrentou uma série de dificuldades, como falta de financiamento e escândalos de corrupção.

O lançamento da sonda, em um foguete Soyuz, ocorreu quatro semanas após a Índia enviar seu módulo lunar Chandrayaan-3, com pouso previsto para o dia 23 deste mês.

A aeronave russa se elevou deixando para trás uma espessa nuvem de fumaça e chamas que se destacavam no céu.

A primeira parte do foguete Soyuz caiu a 28 km da localidade de Shakhtinski, na região de Khabarovsk, segundo anúncio do governador regional, Mikhail Degtiariov, no Telegram.

As autoridades retiraram os moradores dessa área uma hora antes do lançamento. Eles puderam voltar para suas casas algumas horas depois.

Originalmente planejado para outubro de 2021, o lançamento foi adiado por quase dois anos. A Agência Espacial Europeia planejava testar sua câmera de navegação Pilot-D conectando-a à sonda, mas rompeu seus laços com o projeto depois que a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro do ano passado.

Tempo para chegar à Lua

A sonda levará cinco dias para voar até a Lua e depois passará de 5 a 7 dias em órbita lunar antes de descer em 1 dos 3 possíveis locais de pouso. Esse cronograma sugere que a missão russa poderá igualar ou vencer por pouco a missão indiana.

As duas missões não devem, entretanto, interferir uma na outra, porque têm diferentes áreas de pouso planejadas. "Há espaço suficiente para todos na Lua", afirmou a Roscosmos.

O Chandrayaan-3 deverá realizar experimentos por duas semanas, enquanto o Luna-25 trabalhará na Lua por um ano.

Com uma massa de 1,8 tonelada e carregando 31 quilos de equipamento científico, o Luna-25 usará uma pá para coletar amostras de rocha de até 15 cm de profundidade para testar a presença de água congelada que poderá sustentar a vida humana.

Durante séculos, os astrônomos se perguntaram se existe água na Lua, que é cem vezes mais seca que o Saara. Mapas da Nasa em 2018 mostraram gelo em partes sombreadas da Lua e, em 2020, a agência espacial norte-americana confirmou que também existia água em áreas iluminadas pelo Sol.

"A Lua é o sétimo continente da Terra, então estamos simplesmente 'condenados', por assim dizer, a domá-la", disse Lev Zeleny, pesquisador espacial da Academia Russa de Ciências.

O Luna-24, última missão soviética à Lua, trouxe amostras de solo do satélite para a Terra.

Isolamento

O lançamento da nova missão russa ocorre em meio a um contexto de isolamento do programa espacial do país. A Roscosmos está vetada pelas potências ocidentais e busca uma cooperação no setor com a China.

Além disso, as operações espaciais enfrentam dificuldades de inovação e falta de financiamento, já que Moscou prioriza os gastos militares.

O setor também se viu abalado por escândalos de corrupção e fracassos de lançamentos, além da concorrência de Estados Unidos, China e empresas privadas, como a SpaceX, do bilionário Elon Musk.

O analista independente russo Vitali Iegorov afirmou que a missão é um teste para Moscou. "A questão mais importante é: consegue aterrissar na Lua?", disse à AFP.

Em junho deste ano, o diretor da Roscosmos, Iuri Borisov, classificou a missão como arriscada.

"No mundo, a possibilidade de sucesso desse tipo de missão é estimada em 70%", disse Borisov em um encontro com o presidente russo, Vladimir Putin, contra quem há uma ordem de prisão emitida pelo Tribunal Penal Internacional.

Putin, por sua vez, comparou o momento atual ao contexto da Guerra Fria. Em 1961, a URSS enviou o primeiro humano ao espaço, Iuri Gagarin, em meio a tensões com o Ocidente.

O programa espacial é motivo de orgulho na Rússia. Além de Gagarin, o país fez o lançamento do primeiro satélite em órbita, o Sputnik, e o primeiro animal em órbita com a missão da cadela Laika.

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