Descrição de chapéu astronomia

Ao fazer buscas online, historiadora chega a astrolábio raro do século 11

Instrumento é um registro de troca científica entre árabes, judeus e cristãos ao longo de quase um milênio

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Franz Lidz
The New York Times

Por 2.000 anos, observadores mapearam os céus com o uso de astrolábios, instrumentos surpreendentemente precisos que se pareciam com grandes relógios de bolso antigos e permitiam determinar o tempo, a distância, a altura, a latitude e até mesmo (com um horóscopo) o futuro.

Recentemente, um astrolábio datado do século 11 apareceu na Fondazione Museo Miniscalchi-Erizzo em Verona, Itália.

Federica Gigante, historiadora da Universidade de Cambridge, o notou pela primeira vez em um canto de uma fotografia enquanto fazia buscas online por uma imagem de Ludovico Moscardo, colecionador do século 17 cujos objetos são mantidos no museu.

Astrolábio datado do século 11encontrodo na Fondazione Museo Miniscalchi-Erizzo em Verona, Itália - Clara Vannucci/The New York Times

Federica se familiarizou com os astrolábios no Museu de História da Ciência da Universidade de Oxford, onde foi curadora de instrumentos científicos islâmicos. "O museu em Oxford tem a maior e melhor coleção de astrolábios do mundo, abrangendo do século 9º ao século 19", disse ela.

Ao descobrir que ninguém da equipe do museu em Verona sabia o que era a peça, ela seguiu para a Itália para dar uma olhada mais de perto.

Lá, um curador a levou para uma sala lateral onde ela ficou ao lado de uma janela e observou a luz do sol iluminar as características de latão do relicário. O dispositivo consistia em um disco circular grosso no qual se encaixavam outros discos e mostradores. No disco central, a historiadora identificou inscrições árabes e, aparentemente por toda parte, marcas hebraicas tênues, numerais ocidentais e arranhões que pareciam ter sido gravados.

"Na luz oblíqua, percebi que isso não era apenas um objeto antigo incrivelmente raro, mas um poderoso registro de troca científica entre árabes, judeus e cristãos ao longo de quase um milênio", disse Federica.

Acredita-se que os astrolábios existiam na época de Apolônio de Perga, um matemático grego do terceiro século a.C. conhecido como o Grande Geômetra; e Hiparco, um dos fundadores da trigonometria que estimou as distâncias do Sol e da Lua da Terra e catalogou pelo menos 850 estrelas.

Os muçulmanos souberam do dispositivo por meio da tradução de textos helenísticos e bizantinos para o árabe. Os estudiosos islâmicos aprimoraram o mecanismo e, no nono século d.C., os persas estavam usando astrolábios para localizar Meca e determinar os cinco períodos de oração exigidos a cada dia, conforme declarado no Alcorão. A ferramenta chegou à Europa por meio da conquista de grande parte da Espanha pelos mouros, uma ramificação da população árabe islâmica que invadiu a Península Ibérica em 711 d.C.

Ao analisar o design, construção e caligrafia do astrolábio de Verona, Federica estimou que o instrumento teve sua origem na Andaluzia no século 11, onde muçulmanos, judeus e cristãos trabalhavam juntos, especialmente na busca pela ciência.

"À medida que o astrolábio trocava de mãos, ele passava por inúmeras modificações, adições e adaptações", afirmou a historiadora. Os nomes originais árabes dos signos do zodíaco foram traduzidos para o hebraico, um detalhe que sugeria que o relicário circulou em algum momento dentro de uma comunidade judaica sefardita.

Um lado de uma placa foi gravado em árabe com a frase "para a latitude de Córdoba, 38° 30'"; do outro lado "para a latitude de Toledo, 40°". Alguns valores de latitude foram corrigidos, algumas vezes.

Outra placa foi gravada com latitudes do norte da África, o que indicava que, durante as viagens do instrumento, ele pode ter sido usado no Marrocos ou Egito. Uma série de adições em hebraico levou Federica a concluir que o astrolábio no fim chegou à diáspora judaica na Itália, onde o hebraico, em vez do árabe, era usado.

"Basicamente, esculpir as revisões era como adicionar aplicativos ao seu smartphone", disse Gigante.

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