Descrição de chapéu África

Para onde foi o Homo sapiens após deixar a África? Novo estudo tem uma resposta

Pesquisadores levantam hipótese com base em conjuntos de dados extraídos de DNA antigo e de uma coleção de genes modernos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Will Dunham
Reuters

Nossa espécie surgiu na África há mais de 300 mil anos e migrou para fora do continente há 60 mil ou 70 mil anos, inaugurando a disseminação global do Homo sapiens. Mas para onde esses pioneiros foram quando deixaram a África?

Após anos de debate, um novo estudo oferece uma resposta.

Esses bandos de caçadores-coletores parecem ter permanecido por milhares de anos como uma população homogênea em um polo geográfico que abrangia o Irã, o sudeste do Iraque e o nordeste da Arábia Saudita, antes de se estabelecerem em toda a Ásia e na Europa, a partir de aproximadamente 45 mil anos atrás, disseram cientistas nesta segunda-feira (25).

Caverna Pebdeh, no sul das montanhas Zagros, no Irã, ocupada por caçadores-coletores há 42 mil anos - Mohammad Javad Shoaee/Reuters

As descobertas se baseiam em conjuntos de dados genômicos extraídos de DNA antigo e de uma coleção de genes modernos, combinados com evidências paleoecológicas mostrando que essa região representava um habitat ideal.

Os pesquisadores chamam essa região —parte do que é conhecido como Planalto Persa— de um "polo" para essas pessoas, talvez apenas milhares, antes de elas seguirem, milênios depois, para locais mais distantes.

"Nossos resultados mostram o primeiro quadro completo do paradeiro dos ancestrais de todos os não africanos dos tempos atuais nas primeiras fases da colonização da Eurásia", disse o antropólogo molecular, Luca Pagani, da Universidade de Padova, na Itália, autor sênior do estudo publicado na revista Nature Communications.

O antropólogo e coautor do estudo, Michael Petraglia, diretor do Centro de Pesquisa Australiano para Evolução Humana da Universidade Griffith, disse que o trabalho é uma história sobre nós e nossa história. "Nosso objetivo era desvendar alguns dos mistérios sobre nossa evolução e dispersão mundial", afirmou ele.

Essas pessoas viviam em pequenos bandos nômades de caçadores-coletores, segundo os pesquisadores. A localização do polo oferecia uma variedade de ambientes ecológicos, de florestas a campos e savanas, flutuando ao longo do tempo entre intervalos áridos e úmidos.

A hipótese é que havia muitos recursos disponíveis, e há evidências de caça de gazelas selvagens, ovelhas e cabras, segundo Petraglia.

"Sua dieta teria sido composta de plantas comestíveis e caça de pequeno a grande porte. Os grupos de caçadores-coletores parecem ter praticado um estilo de vida sazonal, vivendo nas terras baixas nos meses mais frios e nas regiões montanhosas nos meses mais quentes", disse Petraglia.

As pessoas que habitavam o polo, na época, aparentemente tinham pele e cabelos escuros, talvez parecidos com os povos Gumuz ou Anuak, que hoje vivem em áreas da África Oriental, disse Pagani.

"A arte rupestre surgiu simultaneamente, assim que as pessoas deixaram o polo. Portanto, essas conquistas culturais podem ter sido criadas enquanto estavam no centro", disse Pagani.

A eventual dispersão em diferentes direções além do polo estabeleceu a base para a divergência genética entre os atuais asiáticos orientais e europeus, disseram os pesquisadores.

O estudo explorou dados genômicos modernos e antigos de povos europeus e asiáticos.

"Achamos particularmente úteis os genomas mais antigos, datados de 45 mil a 35 mil anos atrás", disse o antropólogo molecular e principal autor do estudo, Leonardo Vallini, da Universidade de Padova e da Universidade de Mainz, na Alemanha.

Os pesquisadores criaram uma maneira de desvendar a extensa mistura genética de populações ocorrida desde a dispersão do polo.

Houve excursões anteriores em pequena escala do Homo sapiens fora da África antes da migração principal de 60 mil a 70 mil anos atrás, mas elas parecem ter em resultados em becos sem saída.

O Homo sapiens não foi a primeira espécie humana a viver fora da África, incluindo a área que engloba o polo. O antigo cruzamento entre espécies deixou uma pequena contribuição neandertal para o DNA dos modernos não africanos.

"Os neandertais estavam presentes na área antes da chegada do Homo sapiens, portanto, o polo pode muito bem ter sido o local dessa interação", disse Vallini.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.