Descrição de chapéu The New York Times dinossauro

Um dos maiores dinossauros carnívoros talvez não mergulhasse atrás de suas presas

Espinossauro não conseguiria nadar devido a sua forma corporal, segundo autores de novo estudo

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Kenneth Chang
The New York Times

O espinossauro foi um dos maiores dinossauros carnívoros e se alimentava de peixes. Nisso os paleontólogos concordam.

Mas será que ele simplesmente entrava nos rios e os pegava da água? Ou mergulhava atrás de sua presa?

Isso se tornou uma contenda entre especialistas.

Um grupo está convencido de que ele era uma raridade entre os dinossauros: colocava a cabeça debaixo d'água e nadava sob a superfície. Mas outros discordam desse ponto.

Ilustração de espinossauros comendo peixes
Ilustração de espinossauros comendo peixes - Daniel Navarro via The New York Times

O último capítulo dessa disputa, publicado neste mês no periódico Plos One, vem do grupo que acredita que o espinossauro não poderia nadar.

O trabalho se contrapõe a um estudo publicado há alguns anos na Nature. Neste, afirmava-se que, em geral, animais que passam grande parte do tempo na água, como pinguins, têm ossos mais densos que fornecem lastro e facilitam o mergulho. O espinossauro também tinha ossos densos e, portanto, provavelmente era um nadador.

Mas essa análise de densidade óssea foi estatisticamente absurda, na avaliação de Nathan Myhrvold, ex-diretor de tecnologia da Microsoft e paleontólogo amador que liderou a nova pesquisa com Paul Sereno, paleontólogo da Universidade de Chicago.

Myhrvold e Sereno argumentaram ainda que a forma corporal desajeitada do espinossauro o tornaria um nadador ruim, se é que poderia nadar. Sua distribuição de peso o deixaria desequilibrado e instável.

"É óbvio por que ele não pode nadar", disse Myhrvold. Além disso, a estrutura em suas costas tornaria difícil nadar e manter-se ereto. "Se ele inclinasse mesmo que um pouco, continuaria inclinando."

Nesse debate, há pontos de concordância.

O espinossauro talvez fosse mais longo e mais pesado do que o Tyrannosaurus rex. Viveu cerca de 95 milhões de anos atrás no que hoje é o Saara Ocidental, na época era um ambiente exuberante com rios profundos. Também era um dinossauro de aparência estranha, com vértebras alongadas formando uma enorme vela em suas costas.

Houve um aumento de interesse no espinossauro na última década após a descoberta de um novo fóssil no Marrocos por Nizar Ibrahim, que também foi autor do estudo anterior sobre densidade óssea e agora é professor sênior na Universidade de Portsmouth, na Inglaterra.

O único outro fóssil foi encontrado pelo paleontólogo alemão Ernst Stromer, em 1915, e destruído durante um bombardeio aéreo em Munique em 1944.

No estudo mais recente, Myhrvold e colegas argumentam que os paleontólogos que fizeram as alegações sobre a densidade óssea empregaram uma técnica estatística sofisticada sem entender suas limitações.

"Está totalmente mal aplicado", disse Myhrvold. "Infelizmente, quando você tem algo que envolve muitas estatísticas densas, os olhos da maioria dos paleontólogos ficam embaçados."

Myhrvold não é um acadêmico tradicional. Desde sua saída da Microsoft em 1999, ele é talvez mais conhecido por liderar o desenvolvimento de livros de culinária. Ele já causou polêmicas envolvendo estatísticas antes, criticando descobertas sobre a taxa de crescimento dos dinossauros e afirmando que um tesouro de dados de asteroides da Nasa é falho.

Trabalhos anteriores de outros pesquisadores haviam descoberto que mamíferos mergulhadores tendiam a possuir ossos mais densos do que mamíferos que ficavam em terra. Porém, outros mamíferos também têm ossos densos por outros motivos —elefantes, por exemplo, precisam de ossos mais fortes para sustentar seu peso.

No artigo publicado na Nature, em 2022, pesquisadores liderados por Matteo Fabbri, hoje pesquisador pós-doutorado na Universidade de Chicago, argumentaram que a densidade óssea era um preditor confiável para indicar se um animal vivia na água ou em terra firme.

Segundo Fabbri, uma análise mostrou que "uma densidade óssea muito alta está correlacionada com a probabilidade de ir debaixo d'água".

O espinossauro e o baryonyx mergulhavam, enquanto outro dinossauro, o suchomimo, não, concluiu a equipe de cientistas.

No entanto, Myhrvold argumenta que a densidade óssea não se divide claramente em dois grupos. Existem animais aquáticos com ossos menos densos do que animais terrestres e vice-versa. "Se as duas distribuições estiverem próximas, você não pode obter uma conclusão válida ou pelo menos uma que tenha qualquer força estatística", disse ele.

Ele dá um exemplo: homens geralmente são mais pesados do que as mulheres, mas nem todo homem é mais pesado do que toda mulher. Assim, se alguém lhe dissesse que uma pessoa pesa 61 kg, você não poderia deduzir com confiabilidade se essa pessoa é homem ou mulher.

Ibrahim, que está no Marrocos conduzindo estudos, rejeitou os argumentos biomecânicos de Myhrvold sobre por que o espinossauro não poderia nadar, dizendo que muito ainda é desconhecido.

Os rios africanos pré-históricos, ainda segundo Ibrahim, estavam cheios de peixes gigantes e lentos. Com isso, o espinossauro não precisaria ser um nadador proficiente para capturá-los.

"Não posso revelar muito", disse ele. "Mas temos novo material. Temos vários projetos empolgantes em andamento."

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