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A rara explosão de estrela prevista para os próximos meses por astrônomos

Evento cósmico deve acontecer em algum momento até setembro de 2024 e provavelmente será visível a olho nu no hemisfério norte

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Mia Taylor
BBC Innovation

Enquanto as atenções do mundo se voltaram para o eclipse solar total desta segunda-feira (8), o distante sistema binário Corona Borealis está ocupado se preparando para o seu próprio momento de glória: uma de suas estrelas irá gerar uma espetacular explosão de nova.

Localizado a 3.000 anos-luz da Terra, o sistema fica no céu do hemisfério norte do nosso planeta. Ele é formado por uma estrela anã branca morta e uma gigante vermelha envelhecida.

E a anã branca —chamada T Coronae Borealis, ou T CrB— está a ponto de passar por uma explosão de nova que, segundo a Nasa, ocorre uma única vez durante uma vida humana.

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A estrela T do sistema binário Corona Borealis explode uma vez a cada cerca de 80 anos - Nasa

O raro evento cósmico deve acontecer em algum momento até setembro de 2024. Ele provavelmente será visível a olho nu no hemisfério norte. A Nasa afirma que não serão necessários telescópios caros para testemunhar o acontecimento cósmico.

As explosões da T CrB ocorrem apenas uma vez a cada cerca de 80 anos. A última foi em 1946.

"Estou muito entusiasmado. Isso é meio como o Cometa de Halley —ocorre uma vez a cada 75 a 80 anos—, mas as novas não têm a mesma atenção da imprensa que teve o Halley", afirma o gerente do programa ambiental de meteoroides da Nasa, William J. Cooke. "Os cometas sempre recebem mais manchetes."

Como os cientistas sabem quando irão ocorrer explosões de novas?

Na maioria dos casos, segundo Cooke, os especialistas da Nasa não têm ideia de quando as explosões de novas irão ocorrer. Mas existem cerca de dez conhecidas como "novas recorrentes".

"Uma nova recorrente é uma nova que explode periodicamente", explica Cooke. "E a T Coronae Borealis é um dos seus principais exemplos."

Mas como a Nasa sabe com tanta certeza que a T CrB irá explodir especificamente nos próximos meses? Bem, é uma questão de cálculos matemáticos e evidências visíveis.

A última vez em que a T CrB sofreu uma nova, por exemplo, foi em 1946 —78 anos atrás. E o tempo não para.

Existe também outro sinal de que a T CrB está prestes a explodir, segundo Cooke.

"Sabemos que, antes da explosão de nova, ela reduz seu brilho por cerca de um ano. E a T Coronae Borealis começou a diminuir seu brilho em março de 2023", prossegue Cooke. "Por isso, achamos que ela irá explodir até o final de setembro."

A confiável periodicidade de recorrência de explosão de nova faz com que a T CrB seja única entre as muitas novas identificadas ao longo dos anos. E este é um dos motivos que fazem com que a explosão da estrela seja tão especial.

"Existem muitas novas que foram descobertas, mas a maioria delas não tem recorrência conhecida —ou elas passam períodos de tempo muito longos sem recorrência, de forma que não sabemos quando elas irão explodir novamente", explica a professora Meredith MacGregor, especialista em atividade estelar do Departamento de Física e Astronomia William H. Miller III da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.

O período de tempo até a repetição do espetáculo da nova pode variar de um até milhões de anos, acrescenta o professor de astronomia Richard Townsend, da Universidade de Wisconsin-Madison, também nos Estados Unidos.

O que ocasiona o evento?

Além de antever quando alguns dos eventos mais previsíveis irão ocorrer, como as explosões da T CrB, os especialistas da Nasa também sabem por que essas explosões acontecem.

A anã branca T CrB, por exemplo, faz parte de um sistema binário. Isso significa que ela é 1 dentre 2 estrelas em órbita uma da outra. A outra estrela do sistema é uma gigante vermelha.

As anãs brancas possuem massa similar à do Sol, mas seu diâmetro é cerca de cem vezes menor. Por isso, seu tamanho é comparável ao da Terra, segundo Townsend.

A grande massa e o tamanho relativamente pequeno da anã branca fazem com que sua gravidade seja muito forte.

À medida que a gigante vermelha do sistema Corona Borealis ejeta matéria, a gravidade da T CrB atrai ou recolhe esse material e o retém sobre a própria superfície da anã branca. Isso ocorre ano após ano, até que chega um limite.

"O que acontece no sistema é que a estrela gigante vermelha descarrega todo esse material sobre a superfície da anã branca", explica Cooke. "E, quando a superfície da anã branca (T CrB) recebe excesso de material, você tem literalmente uma reação termonuclear, como uma bomba, e a anã branca expele aquele material."

Townsend fornece uma descrição similar. Ele explica que, quando a T CrB acumular quantidade de material suficiente e sua temperatura atingir alguns milhões de graus Celsius, começa a ocorrer uma reação de fusão nuclear, criando o evento de nova claramente visível que muitos aguardam ansiosamente para os próximos meses.

"São as mesmas reações que ocorrem no núcleo do Sol e liberam quantidades tremendas de energia nas camadas superficiais da anã branca", segundo Townsend.

"A liberação de energia faz com que a anã branca brilhe temporariamente mais do que sua companheira gigante vermelha e a emissão total de luz das duas estrelas, quando observada aqui na Terra, aumenta em 1.000 a 100 mil vezes."

Esse tipo de explosão ajuda os especialistas da Nasa a compreender a transferência de massa que ocorre entre as estrelas em sistemas binários e as explosões termonucleares resultantes quando a anã branca explode. É um processo que, no caso da T CrB, acontece repetidamente.

"Ela continua passando por esse ciclo contínuo de acúmulo de material da estrela maior", explica MacGregor. "Normalmente, leva milhares de anos para que esse acúmulo chegue ao ponto de gerar uma nova. Mas a T Coronae Borealis parece fazer isso com muito mais rapidez, o que a torna uma estrela rara."

O que é possível observar na explosão

Normalmente, o sistema estelar Corona Borealis tem magnitude de visibilidade +10 em termos de brilho, segundo a Nasa.

Mas, quando ocorrer a explosão de nova da T CrB, a visibilidade irá aumentar significativamente, atingindo o que é conhecido como magnitude +2, que é muito mais brilhante do que +10.

Em termos comparativos, +2 é um grau de brilho similar à Estrela Polar. Por isso, quando a explosão acontecer, a T CrB ficará visível a olho nu.

As pessoas do hemisfério norte que quiserem tentar ver a explosão de nova devem olhar para o céu em busca da constelação Corona Borealis, ou Coroa do Norte —um pequeno arco em semicírculo perto das constelações do Boieiro e de Hércules, segundo a Nasa. "É onde a explosão irá surgir como uma 'nova' estrela brilhante", explica a agência espacial.

Mas não se engane: o que está acontecendo não é a formação de uma nova estrela. Na verdade, T CrB está simplesmente ficando visível para nós graças a essas reações nucleares distantes.

"É uma estrela que já existe", explica MacGregor. "A estrela sempre esteve ali, mas, para nós, parece que subitamente surgiu uma nova estrela porque nem sempre podemos observá-la."

"As anãs brancas são tão pequenas que não conseguimos observá-las a olho nu. Mas, devido à reação de fusão que está acontecendo, conseguimos vê-la temporariamente. Você pode sair à noite e observar o evento."

Quando o brilho da T CrB atingir seu pico, ela poderá ser tão brilhante quanto o planeta Marte, segundo Cooke. Espera-se que ela permaneça flamejante e visível a olho nu por pelo menos alguns dias, mas seu evento explosivo pode muito bem durar mais de uma semana.

E, quando a anã branca se livrar de todo o material acumulado da sua vizinha maior (a gigante vermelha), a T CrB novamente irá cair na obscuridade, sem ser vista por décadas.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Innovation.

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