Por que um dia a Terra terá seu último eclipse solar total

Lua se afastará o suficiente do nosso planeta para deixar de obstruir completamente o Sol

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Composição de oito momentos em que a Lua cobriu o Sol na última segunda (8); os registros foram feitos a partir de Bloomington, Indiana, nos EUA Josh Edelson/AFP

Katherine Kornei
The New York Times

O eclipse solar total visível na última segunda-feira (8) em partes de México, Estados Unidos e Canadá foi uma perfeita confluência do Sol e da Lua. Mas esse tipo de evento vem com uma data de validade: em algum momento no futuro distante, a Terra não vai experimentá-lo mais.

Isso porque a Lua está se afastando da Terra. Então nosso vizinho celestial mais próximo um dia, milhões ou até bilhões de anos no futuro, parecerá muito pequeno no céu para obscurecer completamente o Sol.

"Nós só teremos eclipses anulares", diz o cientista planetário Noah Petro, do Centro de Voo Espacial Goddard da Nasa, referindo-se a eclipses "anel de fogo" como o que cruzou as Américas em outubro do ano passado.

Mas determinar uma data exata para o último eclipse solar total da Terra é um desafio computacional que envolve uma variedade de disciplinas científicas.

Desde que a Lua se formou há mais de 4 bilhões de anos, ela vem se afastando da Terra. Esse processo resulta de suas interações gravitacionais com nosso planeta.

As marés levantadas por essa gravidade fazem com que a água nos oceanos deslize sobre o leito marinho e ao longo das bordas dos continentes. Isso cria um atrito que faz com que a Terra gire mais lentamente em seu eixo, explica o cientista oceânico Mattias Green, da Universidade de Bangor, no País de Gales.

A Lua se move para fora em sua órbita em resposta à desaceleração da Terra. Imagine uma patinadora estendendo os braços e desacelerando, diz Green. "É o mesmo princípio físico, mas ao contrário."

Uma das primeiras pessoas a prever a órbita em expansão da Lua foi George Darwin, um dos filhos de Charles Darwin. Mas sua hipótese, publicada em 1879, não seria verificada até que astronautas americanos e rovers robóticos soviéticos deixassem dispositivos conhecidos como retrorrefletores na superfície lunar.

Os pesquisadores podiam disparar pulsos de laser nos espelhos desses instrumentos do tamanho de uma maleta e cronometrar quanto tempo levava para a luz fazer uma viagem de ida e volta. Isso deu aos cientistas uma maneira de medir precisamente a distância até a Lua. Até o início dos anos 1970, os pesquisadores descobriram que o satélite estava se afastando da Terra 3,8 centímetros por ano.

Essa é aproximadamente a taxa com que as unhas humanas crescem. "Estamos lidando com mudanças extremamente pequenas", afirma o cientista planetário Robert Tyler, do Centro de Voo Espacial Goddard da Nasa.

Porém, ao longo de centenas de milhões de anos, a Lua se tornará perceptivelmente menor no céu à medida que se afasta. Em algum momento, ela parecerá pequena demais para cobrir completamente o Sol, e os eclipses solares totais se tornarão coisa do passado.

Para calcular a data do último eclipse solar total, é importante lembrar que a órbita da Lua ao redor da Terra e a órbita da Terra ao redor do Sol são elípticas. Isso significa que as distâncias entre a Terra e a Lua e entre a Terra e o Sol não são constantes. Os tamanhos aparentes da Lua e do Sol vistos da Terra variam de acordo; as maiores e as menores aparências da Lua diferem em cerca de 14% em tamanho, enquanto a diferença correspondente para o Sol é de cerca de 3%.

O último eclipse solar total ocorrerá quando a Lua com a maior aparência cobrir apenas o Sol com a menor aparência. Um pouco de matemática envolvendo o diâmetro da Lua e os tamanhos aparentes da Lua e do Sol fornece uma estimativa para esse evento de aproximadamente 620 milhões de anos.

No entanto, há incerteza nesse número, alertam os pesquisadores. Isso pressupõe, para começar, que a Lua se afastará da Terra em sua taxa atual. E isso quase certamente não acontecerá, afirma Green.

A taxa de afastamento da Lua é afetada por uma série de parâmetros, incluindo a duração de um dia na Terra, a profundidade das bacias oceânicas e a disposição de nossos continentes. Essas coisas mudam ao longo do tempo, acrescenta Green, então é muito simplista presumir que a Lua sempre se afastará no mesmo ritmo.

Se as simulações de Tyler estiverem corretas, os eclipses totais permanecerão visíveis por cerca de 3 bilhões de anos. Ele alertou que há uma incerteza significativa nessa estimativa.

E, embora provavelmente tenhamos éons para experimentar os eclipses totais, isso não é desculpa para não buscar o esplendor deles, afirma Petro. Afinal, eles são um fenômeno celestial único para nossa existência terrena.

"Nenhum outro planeta em nosso Sistema Solar tem eclipses solares totais", disse Petro. "Temos essa maravilhosa oportunidade."

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