Missão chinesa reacende teorias da conspiração sobre pousos na Lua do programa Apollo

Mensagens em redes sociais questionam alunissagens de americanos em 1969 e 1972

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Tommy Wang Rachel Blundy Anuj Chopra
Hong Kong e Washington | AFP

A missão Chang'e 6, que pela primeira vez coletou amostras do lado oculto lunar, deu mais uma prova da crescente capacidade espacial da China, mas também desencadeou uma onda de desinformação contra os Estados Unidos. O quadro, segundo pesquisadores, reflete a concorrência entre as duas potências.

A missão chinesa de 53 dias reacendeu teorias da conspiração sobre as alunissagens do programa Apollo, da Nasa.

Checadores de fatos da AFP desmascararam uma série de mensagens em chinês sugerindo que a Apollo 11, o primeiro pouso tripulado na Lua, foi encenada, bem como outras que deturpavam fotos de alunissagens posteriores.

A imagem mostra um astronauta em um traje espacial na superfície da Lua. Ao fundo, há um módulo lunar e uma bandeira dos Estados Unidos fincada no solo lunar. O céu é completamente negro, sem estrelas visíveis.
O astronauta Harrison H. Schmitt, da missão Apollo 17, na superfície lunar em dezembro de 1972 - Eugene A. Cernan/Nasa

As falsas narrativas, segundo pesquisadores, podem gerar mais percepções antiamericanas na China, em momentos de tensão nas relações entre Washington e Pequim.

"Sem dúvidas, há uma grande rivalidade espacial entre Estados Unidos e China, e qualquer desinformação sobre a atividade de algum país é preocupante", afirmou à AFP Saadia M. Pekkanen, professora no Departamento de Ciência Política e na Faculdade de Direito da Universidade de Washington.

"É outra forma de negar a potencial diplomacia espacial na concorrência geopolítica entre os dois países", acrescentou.

Quando a Agência Nacional Espacial da China divulgou em junho uma foto de uma bandeira chinês hasteada na parte oculta do satélite pela Chang'e 6, usuários do X (antigo Twitter) a compararam com uma imagem de 1972 do astronauta da Nasa Harrisson H. Schmitt ao lado de uma bandeira americana na Lua.

Sugeriram falsamente que essa missão, a Apollo 17, teria sido uma montagem, porque a bandeira de pano de Schmitt parece "soprada" pelo vento. A Nasa, porém, já disse que utilizou uma barra horizontal para estendê-la.

'Insegurança'

Mensagens na rede chinesa Weibo comparando as imagens geraram uma enxurrada de comentários. Um usuário com mais de 13 milhões de seguidores escreveu que as fotos demonstram que "os americanos não alunissaram".

Outros usuários compartilharam um foto da banda alemã Rammstein com roupas de astronauta no Weibo com a seguinte legenda: "Agora acredito que a alunissagem americana era real".

Pequim destinou uma enorme quantidade de recursos para seu programa espacial na última década para diminuir a diferença em relação aos Estados Unidos e Rússia.

A China quer enviar uma missão tripulada à Lua até 2030 e planeja construir uma base nela. Os Estados Unidos planejam levar astronautas ao satélite até 2026 em sua missão Artemis 3.

Não foi possível verificar se a desinformação é alimentada por agentes estatais chineses. Mas sua rápida propagação em redes sociais muito controladas gerou dúvidas sobre seu possível apoio ou participação.

"Pequim, às vezes, permite que os sentimentos antiamericanos e a informação falsa corram à solta pela internet chinesa como uma válvula de escape ante as tensões internas", afirmou à AFP Isaac Stone Fish, executivo da empresa de dados Strategy Risks, centrada na China.

"Permitir a propagação de teorias da conspiração sobre a alunissagem americana pode ser reflexo da insegurança de Pequim sobre a corrida espacial entre a China e os Estados Unidos", acrescentou.

Propagar mentiras

Pesquisadores dizem que a campanha de desinformação sugere uma tática comum de reciclar teorias conspiratórias existentes para espalhar desconfiança na rede.

"Existe uma grande comunidade na internet disposta a falar sobre as conspirações da alunissagem", disse à AFP o professor Darren Linvill, da Universidade Clemson.

"Se puder utilizar esse público para propagar uma mentira que apresente a China de maneira mais positiva, melhor para a China", afirmou o docente, que pesquisa desinformação em redes sociais.

A cobertura da mídia estatal chinesa elogiou fortemente o sucesso da sonda Chang'e 6, ao mesmo tempo em que criticou os EUA.

Washington diz que o programa espacial da China é usado para ocultar objetivos militares e um esforço para alcançar a hegemonia espacial.

O diário Global Times publicou que a missão Chang'e 6 ilustra "a atitude aberta e inclusiva (chinesa) em relação à cooperação internacional", em contraste com os Estados Unidos, que, segundo ele, estão "ocupados cantando 'ameaça chinesa' na chamada corrida espacial".

Nesse contexto, a AFP desmentiu as publicações em chinês no Facebook, Weibo, TikTok e sua versão chinesa Douyin que citam um porta-voz da Casa Branca dizendo que os EUA e a China pousaram em "Luas diferentes".

"O povo chinês pode se orgulhar da jornada histórica de seu módulo lunar", disse Stone Fish. "Eles não precisam ser vítimas da velha teoria da conspiração de que os EUA falsificaram seus pousos na Lua."

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