Nasa celebra 50 anos da última visita à Lua inaugurando nova era de exploração

Apollo 17 decolou em 7 de dezembro de 1972; missão foi a primeira e única viagem de um cientista ao satélite natural da Terra

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São Paulo

Enquanto a humanidade testemunha o primeiro ensaio para o retorno de astronautas à Lua no século 21, com a missão Artemis 1, a Nasa celebra o cinquentenário da última expedição lunar do século 20, a Apollo 17, iniciada em 7 de dezembro de 1972. Além de ter sido a derradeira visita de humanos à Lua (até agora), foi a primeira e única viagem de um cientista ao satélite natural da Terra.

Era uma época de forte contraste com a atual. Àquela altura, humanos no empoeirado solo lunar já haviam quase se tornado parte do cotidiano, e o público começava a dar menos atenção às missões. Pudera: durante o programa Apollo, essas expedições ocorriam a cada seis meses em média.

O cientista Harrison H. Schmitt é fotografado pelo astronauta Eugene A. Cernan ao lado de rocha lunar durante atividade extraveicular da Apollo 17, em 13 de dezembro de 1972 - Nasa

A primeira missão às imediações da Lua, Apollo 8 (que será reprisada pela Artemis 2 em 2024 ou 2025), ocorreu em dezembro de 1968. A Apollo 9 foi em órbita terrestre, a 10 foi um ensaio geral para o primeiro pouso lunar (que teve tudo, menos a alunissagem em si) e a 11, menos de oito meses após a 8, levaria Neil Armstrong e Buzz Aldrin a caminharem pelo solo lunar e retornarem seguros à Terra, marcando a vitória americana na corrida espacial com a União Soviética e cumprindo a meta do presidente John F. Kennedy, estabelecida oito anos antes.

Com a conquista, acabaria a política de "cheque em branco" para a agência espacial americana. Se, para bater os soviéticos, a Nasa pôde gastar até 5% do orçamento total dos EUA, após a Apollo 11 a palavra de ordem era conter custos. Quase imediatamente após o sucesso do primeiro pouso, a administração Richard Nixon já tratou de planejar o fim das missões lunares —cancelando as programadas Apollo 18, 19 e 20. Em poucos anos, o orçamento da Nasa desceu ao patamar em que permanece até hoje, cerca de 0,5% do gasto total do governo federal americano.

As expedições já programadas, para as quais havia veículos prontos, seguiram adiante. A Apollo 12 partiu em novembro de 1969, realizando o primeiro pouso de precisão. A 13, lançada em abril de 1970, produziu o maior susto do programa: uma explosão a caminho da Lua quase vitimou os astronautas, que tiveram de suspender qualquer tentativa de pouso lunar e improvisaram o módulo lunar como bote salva-vidas para retornar à Terra.

Com o acidente, a Apollo 14 só partiria em janeiro de 1971, cumprindo os objetivos que a 13 não teve chance de realizar. E a partir da 15, em julho de 1971, o programa ganhava sua versão mais expandida, com um módulo lunar ligeiramente aumentado, capaz de transportar um jipe, o LRV (Lunar Roving Vehicle), e permitir estadias maiores na superfície da Lua (até três dias). A Apollo 17 foi a terceira e última dessa série e também a mais bem-sucedida.

Embora a Nasa estivesse treinando cientistas como astronautas há algum tempo, nenhum deles havia sido escalado até então para uma missão à Lua. Para as primeiras missões, a agência priorizava a escolha de pilotos militares, mais acostumados aos riscos e às decisões rápidas que precisavam ser tomadas em caso de emergência.

O primeiro voo de um cientista à Lua estava agendado para a Apollo 18, cancelada. Houve enorme constrangimento de que a agência fosse encerrar o programa sem levar um especialista até a Lua. E aí a agência decidiu puxar para a tripulação da Apollo 17 o geólogo Harrison "Jack" Schmitt.

O comandante escolhido para se tornar o último homem a pisar na Lua no século 20 foi Eugene A. Cernan (1934-2017), que quase teve a chance de alunissar na Apollo 10. Para ele, a segunda viagem lunar, desta vez para descer à superfície, seria ainda mais especial. Ele contou, em depoimento à Folha dado em 2010. "E esse foi o voo mais longo, o primeiro e único lançamento noturno, que teve uma série de desafios diferentes. Então, em retrospecto, não me arrependo de nada."

Completando o time, Ronald E. Evans (1933-1990) faria seu primeiro e único voo espacial, como piloto do módulo de comando America.

A decolagem noturna era necessária para que a tripulação chegasse na hora certa —com o nível de incidência solar mais adequado— ao vale Taurus-Littrow, destino da expedição. Após a partida, em 7 de dezembro, o módulo lunar Challenger realizou sua alunissagem no dia 11.

Diversos recordes foram estabelecidos —foi a maior estadia até hoje na Lua, 75 horas, e o maior tempo de caminhadas lunares, 22 horas e 3 minutos, distribuídas em três sessões de atividades extraveiculares. Também foi a maior distância percorrida até hoje por um jipe tripulado em outro corpo celeste —35,7 km. Por fim, a maior coleta de amostras de todo o projeto Apollo —110,5 kg.

Contudo, o que mais chamou atenção foi um recorde subjetivo marcado por Cernan e Schmitt: eles foram apontados como os astronautas que mais se divertiram durante uma estadia lunar.

"Se você avaliar pelas filmagens que fizemos, a Apollo 17 foi acusada de ter sido a missão em que nós mais nos divertimos na Lua", contou Cernan, rindo. "Nós dissemos e fizemos muitas coisas, conseguimos realizar muitas coisas, fizemos tudo que precisávamos fazer, todos os experimentos, mas nos divertimos também. E trouxemos muitos resultados de geologia. Mas eu disse aos meus dois colegas: 'Vocês só vão vir para esses lados uma vez. Portanto, aproveitem. Apreciem o momento. Não se preocupem com a questão de se vocês vão ou não voltar para casa. Na hora em que tivermos de iniciar o retorno, esse é o instante certo para fazer uma pequena oração. Não antes, ok? Então aproveitem.’ E foi o que fizemos."

E note que no primeiro dia eles ainda tiveram um problema: uma das pás que protegiam as rodas do LRV se quebrou. Um reparo de improviso foi feito por Cernan e Schmitt, e o veículo funcionou perfeitamente todo o tempo com esse remendo.

Concluída a terceira caminhada lunar, qual era a sensação? "Ah, eu fiquei desapontado. Nós gostaríamos de ficar mais tempo", admitiu Cernan. "As coisas estavam indo bem, mas algumas vezes é quando as coisas estão bem que é hora de partir. Sabe, não tínhamos eletricidade suficiente, não tínhamos oxigênio suficiente… talvez tivéssemos para ficar mais um dia, mas o plano era de 72 horas, e funcionou bem. Você não pode discutir com o sucesso. Talvez, se tivéssemos ficado mais um dia, as coisas poderiam ter saído errado. Foi a decisão certa. Eu tive imenso orgulho e satisfação pelo que nós conseguimos fazer."

Com o retorno da Apollo 17 à Terra, em 19 de dezembro de 1972, terminava a primeira grande era de exploração lunar, após seis expedições à superfície. A próxima, após cinco décadas de espera, está começando agora, com a missão Artemis 1, que termina seu voo-teste não tripulado neste domingo (11).

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