Vulcões em Marte têm camadas de gelo no cume, pista importante para futuras missões

Volume estimado de água circulando entre a superfície e a atmosfera diariamente equivale a 60 piscinas olímpicas

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A imagem mostra o cume de um vulcão em marte

O cume do vulcão Olympus Mons, em Marte, em registro feito por sonda da Agência Espacial Europeia Adomas Valantinas/ESA/AFP

Juliette Collen
AFP

Marte acaba de revelar um novo segredo: existem camadas de gelo no cume de seus gigantescos vulcões. Inesperada, a descoberta permitirá compreender melhor o ciclo da água do planeta vermelho, algo essencial para futuras explorações.

A cena foi capturada acidentalmente da órbita marciana pela sonda Trace Gas Orbiter (TGO), da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), na região de Tharsis, perto do equador de Marte, segundo estudo publicado na última segunda-feira (10) na Nature Geosciences.

A vasta e elevada região, com cerca de 5.000 quilômetros de diâmetro, abriga imensos vulcões extintos há milhões de anos. Entre eles está o maior do Sistema Solar, o Olympus Mons, com 22 km de altura, três vezes o tamanho do Everest.

"Pensávamos que era impossível [encontrar geada] em torno do equador de Marte", afirmou Adomas Valantinas, pesquisador da Universidade Brown, nos Estados Unidos, e autor principal do estudo que levou à descoberta.

A forte luz solar e a pressão atmosférica muito baixa "mantêm as temperaturas bastante elevadas tanto no cume como na superfície", acrescentou ele.

Na região de Tharsis, as temperaturas podem chegar a -130 ºC graus Celsius durante a noite, mas não dependem da altitude, ao contrário do que acontece na Terra, onde se espera ver picos congelados.

A atmosfera do equador marciano tem um teor de água particularmente baixo, dificultando a condensação. "Outras sondas observaram geadas, porém em regiões mais úmidas, como as planícies do norte", disse à AFP Frederic Schmidt, professor da Universidade Paris-Saclay e um dos autores do estudo.

A sonda TGO, que orbita Marte desde 2018 e pode observar a sua superfície a qualquer hora do dia, também conseguiu capturar imagens dos primeiros raios solares. "Vimos um depósito brilhante e azul, uma textura particular que só vemos ao amanhecer e nas estações frias", afirmou ele.

A camada de gelo era muito fina, com a espessura de um fio de cabelo, mas a quantidade de geada presente nos cumes de quatro vulcões —Olympus Mons, Ascraeus Mons, Arsia Mons, Ceraunius Tholus— representa 150 mil toneladas de água circulando entre a superfície e a atmosfera diariamente, o equivalente a 60 piscinas olímpicas, segundo a ESA.

Os autores do estudo sugerem a existência de um microclima no interior da caldeira dos vulcões, as suas vastas crateras circulares.

Os ventos sobem pelas encostas das montanhas, levando o ar relativamente úmido da superfície às partes mais altas, onde se condensa e é depositado na forma de geada", de acordo com Nicolas Thomas, coautor do estudo.

"Observamos esse fenômeno na Terra e em outras regiões de Marte", afirmou ele.

Modelar o processo de formação de geada deverá permitir compreender melhor o ciclo da água —sua dinâmica de movimento entre a superfície, a atmosfera, o equador e os polos—, um dos segredos mais bem guardados do planeta vermelho, segundo a ESA.

Esse é um passo importante para futuras explorações humanas e robóticas. "Poderíamos recuperar a água da geada para consumo humano e lançar foguetes de Marte, separando as moléculas de oxigênio e hidrogênio", disse Schmidt.

Mapear a água da superfície marciana, que atualmente só existe na forma de vapor ou gelo, também é essencial para a busca de indícios de vida, cujo aparecimento teria sido possível devido à presença de água líquida há 3 bilhões e 3,5 bilhões de anos

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