Adriana Fernandes

Jornalista em Brasília, onde acompanha os principais acontecimentos econômicos e políticos há mais de 25 anos

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As exigências da nova alta do dólar

Postura fiscal adotada nesta semana pelo governo precisa ser mantida e consolidada

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Brasília

É um paradoxo que a mais recente alta do dólar em relação ao real tenha ocorrido na mesma semana em que o governo do presidente Lula (PT) deu a mais forte sinalização até agora de compromisso com o corte de despesas para o cumprimento das regras fiscais deste ano.

A cotação da moeda americana bateu R$ 5,79 no momento em que a equipe econômica deixou de lado o gogó do discurso de responsabilidade fiscal e saiu para a prática.

O modelo de controle preventivo de despesas, adotado pelo governo no decreto de congelamento de R$ 15 bilhões de despesas do Orçamento, é um avanço e uma trava adicional para evitar o estouro da meta fiscal.

Notas de dólares enroladas uma sobre a outra
Dólar abre sessão em alta, após fechar no maior valor desde 2021 - Dado Ruvic/Reuters

Batizado pelo Ministério do Planejamento de "faseamento", o novo mecanismo impôs, na prática, um espaço de gastos menor, de cerca de R$ 47 bilhões.

Uma semana antes, o governo já tinha começado a implementar um primeiro plano para conter o avanço das despesas previdenciárias e assistenciais como o BPC (Benefício de Prestação Continuada), concedido a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda.

Havia até então uma descrença de que o governo tomaria esse rumo. Essa suspeita levou à aceleração do dólar em junho, com a elevação do risco diante da percepção de que Lula estaria prestes a mudar as regras do arcabouço fiscal.

O temor com as consequências do dólar alto na inflação e na economia em geral levou à reação do governo, com o anúncio do corte de R$ 15 bilhões e o sinal verde de Lula para que o ministro Fernando Haddad (Fazenda) anunciasse um plano de corte de despesas para 2025 no valor de R$ 25,9 bilhões.

Embora cobrados insistentemente pelo mercado financeiro, os dois movimentos não ajudaram a aliviar a pressão que vem do exterior sobre o dólar. Essa pressão está relacionada ao aumento das tensões geopolíticas no Oriente Médio e à decisão sobre os juros do banco central dos Estados Unidos, além da revisão da política monetária do Japão.

No Brasil, a disparada da moeda americana também tem sido atribuída à falta de sinalizações sobre uma possível alta nos juros.

A realidade, no entanto, é que o real tem sido a moeda com pior desempenho dia após dia, especialmente quando sua performance é comparada com as moedas de pares do Brasil.

A movimentação do mercado, mesmo com o sinal fiscal do governo, servirá de lastro para os críticos das medidas de controle de gastos dentro do governo. Certamente dirão: "Está vendo? Não adiantou nada, o mercado vai ser contra sempre". Isso não é bom.

A leitura deve ser diferente. A alta do dólar é um risco inflacionário muito importante, mesmo que seja mais claramente vinculada a fatores externos. E a inflação é uma destruidora de renda e de governos.

Assim, a piora do câmbio na verdade deixa o terreno ainda mais pantanoso e demanda prudência tanto na política fiscal quanto na monetária. O governo não pode se dar ao luxo de escorregar.

O Banco Central fez bem no tom que usou na mais recente decisão do Copom, ao elevar a preocupação com a inflação, mesmo que mantendo o juro parado. Afinal, tudo pode mudar em pouco tempo se os Estados Unidos começarem a cortar os juros.

Enquanto isso não acontece, não se pode ser açodado nem para um lado nem para o outro. A postura fiscal adotada na semana precisa ser mantida e consolidada.

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