O dólar fechou em queda de 0,44% nesta sexta-feira (2), aos R$ 5,709, em dia marcado por alta volatilidade no mercado de câmbio.
Um dia depois de atingir R$ 5,734, a maior cotação desde 21 de dezembro de 2021, a moeda norte-americana oscilou durante a sessão e chegou a atingir a máxima de R$ 5,793, até firmar queda no final da tarde.
Já a Bolsa recuou 1,21%, aos 125.854 pontos. O Ibovespa acompanhou os índices de Wall Street e foi pressionado por uma forte queda nos papéis da Petrobras, afetados pelo recuo dos preços do barril de petróleo no exterior.
O dia foi marcado por temores de que a economia dos Estados Unidos possa estar caminhando para uma recessão, após a divulgação de dados de emprego mais fracos do que o esperado.
O chamado "payroll" (folha de pagamento, em inglês) mostrou que a criação de vagas de emprego desacelerou para 114 mil em julho, e a taxa de desemprego aumentou para 4,3%, o maior nível desde outubro de 2021.
Analistas consultados pela Reuters esperavam abertura de 175 mil postos de trabalho e manutenção da taxa de desemprego em 4,1%. No mês anterior, 179 mil vagas foram abertas, em dado revisado para baixo.
Os números reforçam a perspectiva de que o início de um ciclo de afrouxamento monetário do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), com queda na taxa de juros, comece na próxima reunião do colegiado, em setembro.
Uma taxa alta nos Estados Unidos, tidos como a economia mais segura do mundo, desestimula investimentos em ativos de risco por atrair os investidores aos títulos ligados ao Tesouro norte-americano, chamados de treasuries.
Isso significa que, quanto mais o Fed cortar os juros, melhor para o real e outras moedas emergentes, além do próprio mercado acionário.
No entanto, a desaceleração da economia norte-americana —resultante, na visão de analistas, de uma taxa de juros alta por tempo demais— tem sido vista como o prelúdio de uma recessão.
"A contração da economia não aparece no PIB (Produto Interno Bruto) aos poucos: ela vem de repente. A taxa de desemprego está virando nos últimos meses, e toda vez que há uma inflexão na taxa, há uma recessão. É assim desde 1940, e foi o caso em 2008 e, mais recentemente, em 2020, com a pandemia", afirma Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.
"Dados secundários costumam trazer uma sinalização de que a economia está deteriorando, notadamente: o aumento da inadimplência, pedidos de auxílio-desemprego mais acelerados, abertura menor de vagas."
Os temores de uma recessão têm levado o mercado a cobrar por uma queda de juros mais agressiva na próxima reunião do Fed, que, no encontro da última quarta-feira (31), optou por manter a taxa de referência inalterada na faixa de 5,25% e 5,5%.
De acordo com a ferramente CME Watch, que colhe apostas sobre a política monetária norte-americana, 67,5% dos investidores estimam que os juros irão cair em 0,5 p.p, enquanto os 32,5% restantes esperam 0,25 p.p.
Um corte maior, porém, não parece estar no horizonte das autoridades dos EUA. Em entrevista coletiva na quarta-feira, o presidente da autarquia, Jerome Powell, afirmou que reduzir os juros em um ritmo mais agressivo do que o normal não é "algo que o colegiado está pensando no momento".
Nesta sexta, o presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, ainda afirmou que o banco central deve agir de forma "consistente", rechaçando a pressa do mercado em apostar em cortes maiores.
"Nunca queremos reagir de forma exagerada aos números de um mês", disse Goolsbee em uma entrevista à Bloomberg TV. Mesmo assim, disse ele, "o nosso objetivo absoluto agora é que queremos chegar a algo como o pleno emprego, e não ultrapassar o nível normal e deteriorar".
O banho de água fria afastou investidores dos mercados acionários globais. Na Europa, o índice de referência Stoxxx 600 caiu 2,73%, a 497,85 pontos, atingindo o menor nível em mais de três meses.
Nos Estados Unidos, o Dow Jones perdeu mais de 1,80%, enquanto Nasdaq e S&P 500 recuaram 1% e 2%, respectivamente. O "medidor de medo" de Wall Street —o Vix— chegou ao nível mais alto desde março de 2023, e os rendimentos dos títulos do Tesouro de dez anos caíram 17 pontos-base, para 3,8%, acompanhando as apostas de cortes maiores do Fed.
O exterior contaminou o Ibovespa, na visão de Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital. "Tínhamos antes um discurso de 'soft landing', ou seja, de pouso suave em relação à desaceleração da economia, mas isso pode estar se revertendo para um 'hard landing'", diz.
O dólar rondou os R$ 5,80, mas depois perdeu força com os dados dos EUA, o movimento das bolsas europeias e a queda dos tresuries. Isso, diz Iarussi, também teve efeito para o Brasil. "Por consequência, os juros futuros daqui seguiram o mesmo fluxo, o que trouxe um alívio ao real."
O índice ainda foi afetado pelas quedas de quase 3% dos papéis ordinários e preferenciais da Petrobras, após o barril de petróleo Brent perder 2,82% no mercado exterior devido à escalada de tensões no Oriente Médio —outro fator de estresse para a cena doméstica, por levar investidores a ativos mais seguros.
A política monetária do BC (Banco Central) também continuou no radar. O Copom (Comitê de Política Monetária) optou por manter a taxa básica de juros do país —a Selic— em 10,50% ao ano.
Para alguns analistas, a falta de sinalizações sobre uma possível alta nos juros é motivo de preocupação.
O comunicado "não foi tão agressivo quanto poderia ter sido, dada a deterioração das perspectivas de inflação e do equilíbrio de riscos", segundo Alberto Ramos, economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs.
Na quinta, as tensões no Oriente Médio e a decisão do Copom também afetaram os mercados. O dólar subiu 1,43%, a R$ 5,734, e a Bolsa recuou 0,20%, aos 127.395 pontos.
Com Reuters
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