Desde o impeachment, em agosto de 2016, boa parte dos economistas, analistas e até uma importante fatia dos colegas que escrevem sobre temas econômicos e financeiros deixaram de lado a racionalidade e entraram para a torcida.
Instalou-se um desejo difuso e generalizado de “agora vai” na economia —empresários recuperariam a confiança e voltariam a investir, o Congresso, de espírito renovado, aprovaria as reformas, o brasileiro teria pela frente emprego, renda e crescimento. Tudo aconteceria naturalmente, como se a simples troca da presidente por seu vice tivesse um poder transformador estrutural.
Não foram poucos os que chegaram a comparar a oportunidade do momento com a criada pelo impeachment de Fernando Collor, em 1992, que culminou com a implantação do Plano Real e o fim da inflação.
Se a torcida apenas alimentasse um positivo e produtivo sentimento de esperança, tudo bem. Pessoas são mais produtivas quando otimistas. Mas não. Com ela tentou-se subverter até a realidade dos fatos.
Na base da torcida, foram produzidos no país afora e até no exterior relatórios, projeções, planos de negócio, artigos e reportagens. Foi uma renitente briga com os indicadores e uma má vontade em reconhecer a profundidade real da crise brasileira.
E ai de quem questionasse. Qualquer comentário contrário à nova gestão da economia, até aqueles produzidos a título de contribuição para o debate, foi rechaçado com violência pelos torcedores.
O país foi perdendo o senso de autocrítica, também em parte porque o cenário externo benigno ajudava na torcida aqui.
Enquanto isso, a realidade se impôs. Nesses dois anos, a dívida bruta passou de 69% do PIB (Produto Interno Bruto) para 77%; a taxa de investimento recuou mais de 50%. O crescimento permanece errático no piso das projeções. O número mais dramático está no mercado de trabalho. Cerca de 1,2 milhão perderam o emprego.
Há quem argumente que a culpa é do empresário Joesley Batista, da JBS. Não tivesse ele gravado Michel Temer, o país estaria bem hoje. Raciocínio curioso. Ninguém da torcida percebeu que o país assumia esse risco ao empossar no Executivo máximo investigados da Lava Jato?
Mais recentemente, a responsabilidade pela piora recaiu sobre os caminhoneiros —como se uma paralisação generalizada de todo o sistema de distribuição de cargas fosse causa e não consequência dos desajustes da política econômica.
Passada a Copa, onde a torcida é parte do jogo, a economia seguirá paralisada, desta vez pelo embate político. O Brasil segue submergindo na torcida.
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