Alexandre Schneider

Pesquisador do Transformative Learning Technologies Lab da Universidade Columbia em Nova York, pesquisador do Centro de Economia e Política do Setor Público da FGV/SP e ex-secretário municipal de Educação de São Paulo.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Alexandre Schneider
Descrição de chapéu enem Fies

As boas trilhas de Minas Gerais

O estado parece ter encontrado um bom caminho em relação ao ensino técnico com o programa Trilhas de Futuro

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Em tempos de dificuldades para a implantação do que convencionalmente se denominou novo ensino médio, de ampliação da evasão escolar e da volta da inclusão precoce e precária no mercado de trabalho, o estado de Minas Gerais parece ter encontrado um bom caminho em relação à trilha de ensino técnico, com a criação do programa Trilhas de Futuro, que oferece cursos a alunos e ex-alunos do ensino público mineiro no contraturno escolar.

O estado de Minas Gerais atendia no ano de 2019 pouco mais de 13 mil estudantes de ensino técnico, a esmagadora maioria destes oferecidas na escola em que os alunos estavam matriculados. O estado tem hoje cerca de 149 mil estudantes nesta modalidade, um crescimento de mais de dez vezes em quatro anos.

O programa Trilhas de Futuro responde pela esmagadora maioria dessas vagas. Atualmente, são cerca de 110 mil alunos matriculados em 78 opções distintas de cursos. Os alunos estudam no ensino médio regular em um turno e no outro em uma das 243 instituições credenciadas pelo Secretaria de Educação, dentre elas as do Sistema S, que representam 34% das vagas. O estado transfere recursos aos estudantes para que possam arcar com transporte e alimentação.

Sala de aula com alunos sentados à espera da prova do Enem
Estudantes aguardam início das provas do Enem em Belo Horizonte (MG) - Carolina Linhares - 4.nov.18/Folhapress

Além do número expressivo de estudantes com acesso ao ensino técnico, o programa tem como principal característica um desenho voltado ao resultado —uma formação que combina os interesses dos jovens e as vocações dos territórios em que estudam— e não uma meta "meio", como o usual número de vagas criadas.

Já se nota uma surpreendente demanda de transferência de alunos matriculados no Ensino Médio em tempo integral para o mesmo. Este resultado se deve ao seu desenho, que previu ampla consulta aos estudantes sobre seus interesses, o mapeamento da economia regional e a governança compartilhada entre as secretarias de Educação, de Desenvolvimento Econômico e Desenvolvimento Social.

Seguindo as melhores práticas, foram realizados uma escuta ativa aos setores produtivos, estudos de empregabilidade dos jovens para definir a escolha dos cursos a serem oferecidos e a organização da rede de educação para que esta fosse capaz de garantir a autonomia dos estudantes na escolha dos cursos de seu interesse, encaminhá-los e acompanhar seu desempenho no curso regular e no técnico.

Cabe à Secretaria de Educação organizar a oferta dos cursos, o encaminhamento e acompanhamento dos alunos —no ensino médio regular e no técnico. A Secretaria de Desenvolvimento Econômico é responsável por promover a articulação com os setores produtivos para acompanhamento das necessidades do mercado e definição dos cursos a serem oferecidos. Já a Secretaria de Desenvolvimento Social realiza o mapeamento da demanda de empregabilidade e a articulação dos estudantes com o mercado de trabalho, esta última em construção.

A grande inovação do programa Trilhas não está na compra de vagas de ensino técnico pelo setor público, algo que já acontece e que inclusive foi previsto no Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), programa criado em 2011 pelo governo federal, ou em iniciativas de outros estados. Está na governança compartilhada, na ação intersetorial em benefício dos jovens, na articulação entre a formação técnica e a vocação econômica dos territórios e, sobretudo, no respeito à autonomia e aos interesses dos estudantes. Um desafio que o novo ensino médio ainda não cumpriu no país.

Por ser um programa novo, poderá merecer ajustes no futuro, mas certamente pode servir como uma das inspirações ao redesenho do Pronatec e de outros programas estaduais, inclusive articulando institutos federais e estaduais de ensino técnico como polos dessas iniciativas regionalmente.

Que as boas trilhas de Minas nos ajudem a pensar mais no desenho de programas baseados nos interesses dos estudantes e não no que nós adultos pensamos que eles desejam.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.