Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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Alvaro Costa e Silva
Descrição de chapéu

Esqueça o polemista

Tinhorão é a ponta de lança dos estudos sobre nossa produção musical

José Ramos Tinhorão no parque Buenos Aires, em São Paulo
José Ramos Tinhorão no parque Buenos Aires, em São Paulo - Karime Xavier/Folhapress

Ao lembrar os 90 anos de José Ramos Tinhorão, peguei na estante uma raridade: a primeira edição de "Música Popular: Um Tema em Debate", publicada em 1966. Saiu pela nanica Saga, editora de um homem só: o maranhense Joaquim Campelo Marques, na época companheiro de Tinhorão no copidesque do "Jornal do Brasil" e que no futuro se tornaria o braço direito do dicionarista Aurélio Buarque de Holanda.

Na apresentação do volume, com toda a pinta de ter sido escrita a quatro mãos pelo editor e pelo autor, contabiliza-se a então escassa bibliografia dedicada aos temas da música urbana e do Carnaval cariocas: "Os trinta e poucos livros até agora publicados não ultrapassam os limites da biografia e de levantamento apenas cronológico". De lá para cá, evoluímos bastante. Só Tinhorão publicou mais de 30 títulos fundamentais.

Reunindo artigos destinados a jornais e revistas no período de 1961 a 1965, o primeiro livro do pesquisador e historiador marxista é até hoje sua obra mais reeditada. Mostra um autor na ponta de lança dos estudos sobre o cancioneiro nacional. Tinhorão, ao contrário do que muitos pensam, não é apenas o homem das polêmicas, embora o livro ofereça um prato cheio delas nos textos que abordam a bossa nova, com ataques a Tom Jobim e aos "rapazes de sobrenomes notórios de Copacabana".

Tinhorão tem estilo. Apesar do rigor sociológico das análises, o prazer da leitura é o mesmo de um romance de Stendhal. Pegue o artigo "O Bonde no Carnaval", mostrando a revolução que o meio de transporte provocou nos costumes do Rio. Acredite: em 1900, existia a categoria "bonde de ceroula", exclusiva para o uso dos grã-finos: "Os encostos eram recobertos com capas de brim branco que se amarravam com cadarços".

Esqueça a besta-fera da bossa nova. Fique com as informações do esplêndido pesquisador.

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