Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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Alvaro Costa e Silva

A emboscada pode ser espetaculosa —como no caso de Marielle Franco, executada ao estilo Chicago de Al Capone. Comenta-se que uma operação desse tipo, na bolsa de valores do crime carioca, não sai por menos de R$ 60 mil. Ou simples: o alvo está andando na rua ou saindo de casa, distraído e despreocupado, e recebe o balaço. Ambas são cada vez mais rotineiras no Brasil.

Uma semana depois de Marielle, um suplente de vereador —Paulinho P9, 33 anos, do PTB— também morreu a tiros, na Estrada do Goiabal, em Pau Grande, Baixada Fluminense. Na atual legislatura, mais de 40 vereadores, prefeitos e ex-prefeitos foram mortos. Não importa o lugar: Pau Brasil (BA), Candeias do Jamari (RO) ou Santa Maria do Oeste (PR).

Grande parte dos assassinatos tem motivação política. Outro ponto comum: as investigações não avançam (até agora não se sabe quem mandou e quem matou Marielle). Os atentados atingem aqueles que defendem moradores da periferia ou envolvidos em conflitos de terra. Os homicídios são um recado à sociedade, realizados por quem atua na ilegalidade (traficantes) ou por agentes de organizações criminosas que mantêm ligação com instituições legais (milicianos).

É um aspecto da violência, ao qual não se dá a devida importância, que se alia à barbárie cotidiana e endêmica: chacinas na Rocinha e em Maricá, ataques incendiários em Fortaleza, escalada de PMs mortos em ação.

Com a hostilidade à bala sofrida pela caravana do ex-presidente Lula, mergulhou-se de cabeça no fosso dessa desordem. Para complicar, dois presidenciáveis —"Estão colhendo o que plantaram" (Geraldo Alckmin) e "Lula quis transformar o Brasil num galinheiro. Agora está colhendo os ovos" (Jair Bolsonaro)— conseguiram radicalizar ainda mais a situação. As eleições gerais estão aí. Dispensa-se a fila de cadáveres.

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