A mania generalizada de filmar a si mesmo nos estádios tem revelado incômodos. No domingo (6), um torcedor do Atlético-PR se postou ereto e com os braços firmes ao lado do corpo na hora da execução do Hino Nacional. Em seguida começou a balbuciar a letra, sem deixar de olhar para o celular um só instante.
Do outro lado da arquibancada na Arena da Baixada, onde estava a torcida do Palmeiras, iniciaram-se as vaias. Não se sabe se destinadas à lei que exige a execução integral do “Virundum” na abertura de todas as competições esportivas no país (sancionada pelo presidente Temer), ao civismo do adversário ou mesmo à chamada República do Paraná.
Imediatamente o atleticano mandou às favas o orgulho patriótico. Xingou de todos os nomes os palmeirenses que cantavam uma versão do hino com a letra alterada. No fim viu seu time sair derrotado por 3 a 1 e, exposto nas redes sociais, teve de aturar uma gozação dupla.
Nos jogos entre seleções, compreende-se o hino. Na Copa do Mundo, ele pode até influenciar no resultado. Quem não se lembra de Zidane, Thuram & cia no Stade de France, antes da final contra o Brasil em 1998, cantando “A Marselhesa” como se estivessem numa cena de “Casablanca”? Dava para sentir o cheiro da pólvora.
E nas escolas públicas? Em Rondônia, uma lei inacreditável, aprovada em 2017, obriga os 400 grupos de ensino fundamental e médio a hastear diariamente a bandeira do Brasil Império e a executar o Hino da Independência. Não satisfeitos, os apoiadores da monarquia no estado estão fazendo uma vaquinha para arrecadar R$ 7.000 e levar, em agosto, o príncipe dom Antônio de Orleans e Bragança e sua mulher, a princesa dona Christine de Ligne, a um ato cívico em Porto Velho.
É bom ficar de olho nos garotos mais endiabrados para que não cantem aquela versão: “Japonês tem quatro filhos...”.
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