Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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Alvaro Costa e Silva

Samurais da dinastia Bolsonaro

Filmes de Akira Kurosawa mostram como agem as milícias cariocas

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Toshiro Mifune, à direita, em cena de 'Yojimbo' (1961)
Toshiro Mifune, à direita, em cena de 'Yojimbo' (1961) - Reprodução

Um samurai em busca de emprego encara a encruzilhada, sem saber que rumo tomar. Eis que, por um dos caminhos, surge um cachorro mordendo uma mão decepada. O samurai (entreguemos logo: trata-se do extraordinário ator Toshiro Mifune) não tem mais dúvida. Segue pela estrada que trouxe o cachorro. Com certeza mais adiante encontrará trabalho.

É a cena inicial de “Yojimbo”, o filme de 1961, dirigido por Akira Kurosawa. A segunda surpresa do espectador é notar que a história passada no Japão durante o período Edo (1603-1868) foi inspirada pelo primeiro romance policial de Dashiell Hammett, “Red Harvest”, publicado em 1929: poder político e econômico identificam-se com o gangsterismo para aterrorizar uma pequena cidade. Da mesma maneira que as milícias agem em Rio das Pedras.

Em outro filme de Kurosawa —“Os Sete Samurais”, clássico de 1954— as semelhanças com a atual situação do Rio são ainda maiores. Nele conta-se a jornada épica de uma aldeia de lavradores para libertar-se dos bandidos que, de tempos em tempos, chegam para pilhar as colheitas. Estamos no Japão do século 16, durante a era Sengoku, mas tanto os opressores quanto os samurais atuam como as milícias de hoje.

Uma das maiores favelas da cidade, Rio das Pedras é o caos retratado nas obras de Kurosawa: miséria, banditismo, fome, paralisia social, disputa política. Na ausência do poder público, os donos do pedaço organizam os próprios tribunais; cobram por segurança, transporte, gás, TV a cabo, internet; grilam terras e controlam as construções; matam e mandam matar. E, a julgar pelas medalhas que recebem (até dentro da cadeia) e pela facilidade com que empregam parentes na Alerj, parecem contar com a proteção de uma dinastia particular.

Pensando bem, faz sentido o governador Wilson Witzel ter sancionado a lei que cria o Dia do Samurai (24 de abril). Bom filme pra você.

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