Na Angra dos Reis de Paulo César Pinheiro, havia um cinema, uma sinuca, dois clubinhos, duas igrejas, quatro boates (!), a zona propriamente dita e, claro, as ilhas e as praias de águas verdes. Ainda não existia o caveirão aéreo, que o governador Wilson Witzel usou, com ele dentro posando de Rambo, para sobrevoar as favelas da região e, entre outras barbaridades, metralhar uma tenda de orações.
No bairro de São Cristóvão, à época do menino Paulinho, a vida lagarteava. Continua igual: ninguém
para lá se muda e ninguém se muda de lá. São Cristóvão e Angra são as duas pontas que unem os relatos de “Figuraças”. Paulo César Pinheiro deu um tempo na produção musical —estimada em 2.000 letras— para escrever, num estilo que dá gosto, os 23 perfis de personagens com os quais esbarrou por aí.
Músicos não faltam: o parceiro Baden Powell, o baterista Milton Banana, o ritmista Marçal (era um filósofo: “Qualé, Eliseu? Tás negando trunfo? Quem procura o que não perdeu, quando acha não reconhece”). Menos conhecidos, o violonista Geraldinho Vespar e o sambista Sidney da Conceição, são lembrados com carinho. De outras figuras, bastam os apelidos para se ter ideia da dimensão da farra: Paulinho Furado, Perna de Galo, Otávio Pneu, Celso Dum-Dum. Não por último, comparece Madame Satã, o próprio.
Neste sábado (18), Paulo César lança a obra na livraria Folha Seca, com roda de samba. A rua do Ouvidor, que já é estreita, ficará apertada com tantas figuraças.
Também ficaram pequenas as ruas e avenidas de 200 cidades no protesto dos estudantes contra o arrocho na educação. Um grande dia para quem pensa que pode governar o Brasil de Dallas, no Texas, xingando a juventude de idiota, tratando repórter como “qualquer uma”, atiçando milícias virtuais e expondo verdades de WhatsApp.
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